Como quebrar um ovo (ou não), segundo a ciência

Senso comum de como quebrar ovo está errado, segundo pesquisadores

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© Reprodução/Canva

Como você imagina um ovo quebrando ao cair?Talvez a imagem do ovo se quebrando ao meio, horizontalmente (ou deitado, digamos), tenha vindo à mente —tal qual a imagem deste texto. É, afinal, assim que costumamos quebrar, controladamente, ovos para uso e é essa imagem também uma das mais clássicas entre os possíveis desastres culinários.Mas o senso comum —e um sem número de referências visuais— está errado, segundo pesquisadores que quebraram muitos ovos para chegar a essa conclusão. Eles descrevem o resultado em estudo publicado nesta quinta-feira (8) na revista Communications Physics.E por que temos a impressão de que seria menos provável um ovo quebrar em uma queda vertical (em pé, caindo com a “bundinha” ou o topo em contato com o chão)? O estudo sugere a possibilidade de que essa ideia seja derivada dos amplos usos que vemos costumeiramente, em especial em arquitetura, de arcos para sustentação de estruturas.Segundo a pesquisa, trata-se de uma percepção comumente espalhada por aí. Os cientistas testaram quão comum era a afirmação em pesquisas online. Uma das formas adotadas, inclusive, foi perguntando ao ChatGPT.Feita a pergunta se “é mais provável um ovo quebrar quando derrubado horizontal ou verticalmente”, a IA (inteligência artificial) apresentou uma resposta e raciocínio errados, apontando para uma suposta força estrutural do ovo em uma queda vertical.Se você fizer o mesmo questionamento em inglês para essa IA, a resposta apresentada será exatamente essa. Em português, o ChatGPT aponta que a queda horizontal é preferível.Foram necessários mais de 200 ovos de galinhas criadas livres, instrumentação de alta precisão para registros de situações estáticas e dinâmicas e simulações para responder adequadamente à questão —que possivelmente não estava tirando o sono de ninguém, ao menos não ao nível de “quem veio antes, o ovo ou a galinha?”.Os cientistas fizeram 60 testes de compressão, com ovos recebendo a pressão na horizontal e na vertical, para verificar se o posicionamento afeta a quantidade de força até o momento de ruptura da casca.Os testes estáticos mostraram que a força máxima necessária para quebrar um ovo é a mesma independentemente da orientação do ovo. Para quem quer ter uma noção mais precisa, são, em média, 46 N (newtons) para a posição vertical e 45,2 N para a horizontal.Mas a lateral do ovo, por ser menos rígida, consegue absorver mais energia cinética antes de quebrar.Dessa forma, segundo os pesquisadores, esses testes derrubam a ideia de que ovos seriam mais resistentes para pressões exercidas verticalmente.”O que determinaria, então, a melhor forma de derrubar um ovo?”, questionam os pesquisadores. Fora de um ambiente de estudo, a melhor resposta seria “não derrubar um ovo”. Mas a curiosidade científica levou aos ovos quebrados.Os cientistas começaram, então, a derrubar mais 60 ovos. A ideia era tentar entender a força envolvida na queda de diferentes alturas e o resultado de um mergulho vertical (tanto com a parte mais protuberante quanto com a mais achatada do ovo) ou horizontal do ovo. As alturas em questão eram pequenas: 8, 9, e 10 mm.Os dados da pesquisa mostram uma diferença considerável de ovos quebrados quando derrubados horizontalmente, em vez do mergulho vertical.As quedas horizontais resultaram em significativamente menos ovos quebrados do que as verticais —horizontalmente o ovo consegue absorver mais energia antes de quebrar.Portanto, ovos derrubados horizontalmente, dizem os pesquisadores, conseguem provavelmente suportar maiores quedas sem se rachar —lembrando que não estamos falando de uma queda da pia da sua casa.Ovos precisam ser resistentes, não duros, para sobreviver a quedas, afirmam os pesquisadores. A conclusão, segundo os cientistas, é de que a linguagem e a comunicação podem influenciar a compreensão sobre o que está envolvido em um problema.A questão que resta é: o que aconteceu com essa quantidade considerável de valiosos ovos quebrados? As políticas de pesquisa na universidade onde os testes foram conduzidos não permitem o consumo de itens que foram parte de experimentos.Mas, ao jornal The New York Times, a pesquisadora Tal Cohen, professora de engenharia no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e uma das autores do estudo, afirmou que tais restrições não se aplicavam ao seu cachorro, que aproveitou refeições reforçadas durante a pesquisa.

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