A megaoperação que prendeu 59 homens, 15 mulheres e apreendeu um adolescente em uma área de garimpo na zona rural de Cristalina, no Entorno do Distrito Federal, escancarou uma prática conhecida na Amazônia e, até então, pouco noticiada em Goiás: a extração ilegal de minérios.
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Em pouco mais de quatro meses, o Batalhão Ambiental da Polícia Militar de Goiás (PM-GO) — principal força de combate ao garimpo ilegal no Estado — desarticulou cerca de nove pontos de garimpo sem a devida autorização em quatro municípios goianos: Santa Cruz de Goiás, Goianésia, Diorama e Cristalina — essa última responsável por 55% (cinco) dos casos registrados em 2025.
Conhecida por formar a maior reserva mineral de cristais lemurianos do mundo, Cristalina virou palco da ação conjunta entre o Batalhão Ambiental, Batalhão Rural e Polícia Civil (PC) na última terça-feira, 6, quando se apreendeu 678 kg de cristal bruto, além de 35 veículos em uma área privada invadida. O caso, porém, não é isolado.
No dia 13 de abril, o município ganhou novamente os noticiários quando a corporação conduziu 50 pessoas à delegacia após serem flagradas em plena extração de pedras preciosas. Ao todo, mais de 130 pessoas foram detidas por garimpo em Goiás apenas neste ano, número 712,5% superior ao contabilizado em todo o decorrer de 2024, que foi de 16.
“Embora não haja um levantamento oficial e constantemente atualizado sobre a origem de todos os garimpeiros ilegais em Goiás, informações de operações e investigações indicam a presença de indivíduos provenientes de Estados como Pará, Minas Gerais, Maranhão e Tocantins”, explica o 1° tenente Darildo José Leite, do Batalhão Ambiental.
Além da migração de indivíduos oriundos de Estados onde há forte atuação de mineração tanto legal quanto ilegal, a corporação também costuma flagrar goianos entre os garimpeiros ilegais. De acordo com Darildo, a incidência de garimpo ilegal em Goiás pode variar ao longo do tempo devido a fatores como a descoberta de novas áreas com potencial mineral, a intensificação da fiscalização em determinadas regiões e a dinâmica do mercado de minérios.
No entanto, com base em informações de órgãos ambientais e de inteligência, algumas cidades e rios costumam apresentar maior presença do crime ambiental, como: Cavalcante, Alto Paraíso de Goiás, São Domingos, Crixás, Santa Terezinha de Goiás e Itapirapuã.
Em relação aos rios, o tenente lista: Rio Tocantins, Rio São Bartolomeu, além de cursos d’água da região norte do Estado, como pequenos rios menores e córregos. A busca indiscriminada por minérios, principalmente ouro e cristais, porém, tem cobrado o seu preço, afetando a qualidade da água e, consequentemente, a biodiversidade.
“Embora o ouro e os cristais sejam os mais comuns, em algumas áreas podem ser encontrados outros minerais de interesse, como diamantes, mas em menor escala. É importante ressaltar que a exploração ilegal de qualquer minério causa impactos ambientais significativos, como desmatamento, erosão, contaminação de rios por mercúrio (utilizado na extração de ouro) e perda de biodiversidade”, reforça.
Desafios e fiscalização
O combate ao crime, no entanto, não é uma tarefa fácil. Conforme o tenente, entre as maiores dificuldades enfrentadas pelo Batalhão Ambiental está a localização dos garimpeiros. Normalmente escondidos em regiões de difícil acesso, como matas densas, beira de rios isolados e áreas sem infraestrutura viária, a única forma de chegar aos criminosos é pela água, com o uso de veículos aquáticos, ou a pé, por longas caminhadas com apoio aéreo.
Mesmo equipados com tecnologia de rastreamento, comunicação e tendo à disposição bancos de dados e sistemas de informação, a dificuldade logística demanda tempo, recursos e planejamento estratégico, segundo o tenente. O transporte de equipamentos, pessoal e o eventual deslocamento de materiais apreendidos e presos também representam desafios significativos.
A depender do meio utilizado de extração e da localização, os equipamentos acabam sendo destruídos no local da apreensão, como balsas improvisadas. Apenas em 2024, 11 embarcações flutuantes foram localizadas em posse de garimpeiros em Goiás. Elas estavam em locais considerados remotos.
Outro fator que exige atenção e táticas por parte dos agentes é a própria organização e estrutura dos garimpos. Darildo conta que, muitas vezes, os criminosos possuem uma estrutura organizada, com sistemas de comunicação próprios, rotas de fuga e até mesmo vigilância, na tentativa de dificultar a aproximação das equipes.
“Em algumas situações, os garimpeiros ilegais podem oferecer resistência à fiscalização, inclusive com o uso de violência, colocando em risco a integridade física dos policiais ambientais. Porém, essa dificuldade é sanada com o preparo ambiental e operacional que os policiais têm”, afirma.
A identificação e localização exata dos garimpos ilegais também podem ser desafiadoras, devido à extensão territorial do Estado e a limitação do efetivo policial, além da dinâmica da atividade e da capacidade de ocultação dos infratores. A obtenção de informações precisas e atualizadas, seja por meio de denúncias ou de levantamento, é fundamental para o sucesso das operações.
“Por ser um crime federal, as apreensões de equipamentos, minérios e outros materiais relacionados à atividade ilegal são, em geral, encaminhadas à Polícia Federal, que possui competência para investigar crimes federais. Porém, a complexidade da legislação ambiental e os trâmites burocráticos podem, em alguns casos, dificultar e alongar os processos de autuação e responsabilização dos infratores”, concluiu Darildo.
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