Dia da Vitória em Moscou exibe novo eixo geopolítico com China e Brasil

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, comandou nesta sexta-feira (9) o tradicional desfile militar do Dia da Vitória, em Moscou, marcado neste ano pela presença destacada de delegações da China e do Brasil — e pela ausência dos países da OTAN.  Ao lado de líderes de países como China, Brasil, Egito, Cuba, Venezuela e Sérvia, o chefe do Kremlin reforçou o papel da Rússia como polo de resistência à ordem ocidental, ao mesmo tempo em que evocou os sacrifícios da Segunda Guerra para justificar sua política externa atual.

A parada, que celebra o 80º aniversário da rendição da Alemanha nazista, foi usada pelo Kremlin como demonstração de força e de articulação geopolítica com países do Sul Global, em meio à guerra na Ucrânia e ao crescente isolamento imposto pelo Ocidente.

O presidente russo afirmou ainda que Moscou “alcançará seus objetivos estratégicos”, numa fala que conectou os feitos do Exército Vermelho em 1945 à atual ofensiva contra Kiev.

O desfile contou com a presença de mais de 11.500 soldados, incluindo 1.500 combatentes da guerra na Ucrânia, além de 183 sistemas de armamentos, entre eles tanques T-90M, lança-foguetes Tornado-S, lançadores de mísseis nucleares Yars e, pela primeira vez, uma coluna de drones militares como os Orlan-10 e os Lancet. 

O evento ainda contou com tropas de 13 países, entre eles China, Vietnã, Laos, Mianmar, Egito e várias ex-repúblicas soviéticas.

A cerimônia foi aberta com a marcha do Regimento Preobrazhensky, que conduziu a bandeira nacional e a Bandeira da Vitória – símbolo hasteado sobre o Reichstag em maio de 1945. A exibição foi encerrada com uma apresentação aérea das esquadrilhas Russkiye Vityazi e Strizhi, além de aviões Su-25 que soltaram fumaça com as cores da bandeira russa.

Presença de Xi e Lula reforça peso internacional da Rússia

Entre os 27 líderes estrangeiros presentes, destacaram-se o presidente chinês Xi Jinping, que permaneceu ao lado de Putin durante todo o evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, o egípcio Abdel Fattah el-Sisi, o sérvio Aleksandar Vucic e o premier eslovaco Robert Fico, único representante da União Europeia. A presença de tantos dignitários foi exaltada pelo Kremlin como prova de que a Rússia “não está isolada”.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da China, Xi Jinping, acompanharam juntos a cerimônia que marcou os 80 anos da vitória soviética sobre a Alemanha nazista. Foto: Reprodução

No encontro bilateral com Xi, na véspera do desfile, os presidentes assinaram mais de 20 documentos, incluindo uma declaração conjunta em que acusam os EUA de agravar o risco de guerra nuclear e de buscar “superioridade militar absoluta” com iniciativas como o escudo antimísseis Golden Dome e a militarização do espaço. A nota também condena o uso de satélites comerciais, como a rede Starlink, para interferência em guerras por procuração.

Guerra na Ucrânia e nova geopolítica moldam o evento

A parada de 2025 ocorreu sob um cessar-fogo unilateral de 72 horas declarado por Putin, ignorado por Kiev. O presidente dos EUA, Donald Trump, apelou por uma trégua de 30 dias e ameaçou impor novas sanções caso a Rússia não aceitasse a proposta. Xi Jinping, por sua vez, declarou desejar um “acordo de paz justo, duradouro e vinculativo, aceito por todas as partes”.

A despeito da tentativa de normalização, a guerra continua afetando o cotidiano russo. A capital foi alvo de múltiplos ataques com drones nos dias que antecederam o desfile. Por outro lado, Moscou tem reforçado sua presença em regiões como Kursk com ajuda de tropas norte-coreanas, cuja presença de generais fardados na tribuna de honra foi destacada pela mídia estatal.

Na Ucrânia, o presidente Volodymyr Zelensky criticou o evento, chamando-o de “parada do cinismo, da bile e da mentira”. Em paralelo, líderes europeus reuniram-se em Lviv para debater a criação de um tribunal especial para julgar crimes de guerra cometidos pela Rússia.

Herança soviética molda discurso nacionalista russo

Putin, que perdeu um irmão no cerco de Leningrado e cuja família foi marcada pela guerra, tem transformado o Dia da Vitória em um dos pilares de seu regime. Ao vincular a guerra na Ucrânia à luta contra o nazismo, o presidente russo busca legitimar sua campanha militar e alimentar um sentimento patriótico que una o país sob sua liderança.

A memória da vitória de 1945 continua a ser central para o imaginário russo. Como declarou Putin, “nossos pais nos deixaram o dever de defender firmemente nossos interesses nacionais, nossa história milenar, nossa cultura e nossos valores tradicionais”.

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