
A derrota do nazismo e de Hitler, em abril de 1945, quando o Exército Vermelho chegou a Berlim, marca uma virada na história da humanidade com o fim dessa tragédia que ceifou a vida de milhões de pessoas.
Todo mundo sabe que as batalhas cruciais da guerra aconteceram na Frente Russa e que a estratégia militar dos soviéticos derrotou essa chaga da humanidade. Chaga que continua viva, infelizmente para o mundo.
Mas a maioria dos filmes de Hollywood conta versão muito específica da história, colocando os Estados Unidos como os principais responsáveis por derrotar o fascismo, há 80 anos. Mas a real resiste e os fatos são que foi o Exército Vermelho, de Moscou, que cercou Berlim, em abril, culminando com a rendição dos nazistas no dia 9 de maio. Dia da vitória da humanidade.
Versão destacada pelo atual presidente estadunidense, Donald Trump, que revive a Guerra Fria ao afirmar que quem venceu a Segunda Guerra Mundial foram os EUA, minimizando o papel soviético.
Importante lembrar essas datas fatídicas para a todo custo impedir que se repitam nem como comédia. Destaco aqui três filmes, em cartaz na Netflix, que tratam do tema de maneira bem distinta, mas não menos importante.

As três obras têm em comum a Segunda Guerra e também as consequências das guerras para a classe trabalhadora, que sofre, no front, com a crise econômica, com o desemprego e todas as agruras das guerras promovidas pelo capital.
O filme estadunidense Batalhão 6888 (2024), dirigido por Tyler Perry, conta a história de um batalhão de mulheres negras (fato que aconteceu na realidade), quase no fim da Segunda Guerra Mundial, em 1943. Esse grupo foi incumbido de resolver o drama da correspondência dos soldados estadunidenses e seus familiares.
O norueguês Número 24 (2024), dirigido por John Andreas Andersen, narra a trajetória do herói nacional da resistência, essa sob o comando dos britânicos, Gunnas Sonsteby. Na época um jovem contador de 22 anos, que acabou liderando a resistência à ocupação nazista em seu país.

O outro filme é O Trem Italiano da Felicidade (2024), dirigido por Cristina Comencini, que fala do imediato pós-guerra com a derrota do fascismo na Itália. Mas essa obra-prima, adaptado de romance homônimo de Viola Ardone, fica para o final.
A obra estadunidense destaca como o racismo e o machismo interferem na vida das mulheres negras do Batalhão 6888, que trabalharam em condições inóspitas para resolver um drama considerado insolúvel pelo general Halt (Dean Norris), comandante do exército.
Batalhão 6888
Mas o batalhão liderado pela major Charity Adams (Kenny Washington) enfrenta os dissabores e, com perseverança, vence todos os obstáculos. Muito embora o reconhecimento desse trabalho árduo só veio bem depois, quando muitas dela já haviam morrido.
Além de mostrar a trajetória desse grupo, do enfrentamento ao racismo e ao machismo, o filme também não cai na armadilha de romantizar a atuação dos EUA na guerra. As mais de 800 oficiais negras solucionam o problema “insolúvel” e ganham o respeito de seus pares, mas nem tanto.
Número 24
Ao contar sua trajetória, na resistência ao nazismo, anos depois, em uma palestra para jovens estudantes, numa universidade em Rjukan, Gunnar Sonsteby (interpretado por Sjur Vatne Brean, quando jovem e por Erik Hivju, mais velho) narra o enfrentamento aos colaboradores do nazismo e de como em uma guerra a morte é inexorável.
O dilema em fazer o que é necessário para derrotar o fascismo, o terror e o ódio somem no instante em que se enxerga a necessidade de livrar o país e seu povo da invasão nazista e combater os que capitulam por egoísmo.
A resistência ao eixo do mal na Segunda Guerra Mundial se deu em todos os países invadidos. Em muitos países europeus, essa resistência acabou por ser liderada pelos comunistas, como na Itália sob o fascismo de Benito Mussolini, como veremos a seguir.
O Trem Italiano da Felicidade
Este filme é uma pintura que, com delicadeza, conta a história profundamente humana do pós-guerra e a devassidão deixada pelos fascistas. Devassidão escancarada na precariedade econômica, na pobreza, na falta de trabalho e em todas as consequências nefastas que isso acarreta na vida de quem vive do trabalho.
Com o fim da guerra e a derrota de Mussolini, o sul da Itália (mais pobre que o Norte) e com a volta dos homens que sobreviveram à guerra, as mulheres ficaram inclusive sem trabalho.
O Partido Comunista italiano busca uma alternativa inusitada de levar as crianças para serem acolhidas por famílias do norte pelo tempo necessário de as coisas se acertarem no sul.
Fica o sentimento das mães que preferem deixar suas filhas e seus filhos partirem para terem uma vida melhor. Somente mães para agirem assim. Na obra, o menino Amerigo (Christian Cerrone, criança e Stefano Acorsi, adulto) viaja nesse trem, levando seus sonhos e seus temores.
No período da Guerra Fria, um grupo contra esse envio dissemina a ideia de que comunistas comem criancinhas – uma das maiores fake news da história, décadas antes do advento da internet.
Há cenas sublimes quando as crianças ficam com medo de comer um lanche servido, mesmo com muita fome, por não saberem o que era. Tratava-se apenas de pão com mortadela. Quando descobriram tratar-se de uma iguaria comeram como qualquer criança faminta o faria.
Amerigo volta para a sua mãe, interpretada por Serena Rossi, mas se revolta com ela por ter perdido o seu violino, instrumento ao qual se afeiçoou e decidiu ser músico. Ele voltou para sua mãe do norte, Barbara Ronchi, e conseguiu realizar o seu sonho.
Mas chega de spoiler. O filme é muito mais que isso.
O Trem Italiano da Felicidade é uma metáfora da vida, dos sonhos e do desejo de uma vida feliz para todas as pessoas. Comunica-se com o público pela pureza das crianças, numa visão delicada e profundamente humana do que podemos ser se não cedermos à hecatombe capitalista.
Ao comemorar os 80 anos da chegada dos sovi8éticos a Berlim, que culminou com o fim da Segunda Guerra Mundial, é fundamental pensarmos o presente com amplo conhecimento do passado, mas com os olhos voltados para o futuro. Assim é a história. Aqui contada pelo cinema.
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