Em uma democracia, palavras importam, e muito. Recentemente, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus eleitores deveriam ser “jogados numa vala”. A declaração, além de absurda, é profundamente perigosa. Não apenas por seu conteúdo violento, mas por vir de uma autoridade pública que deveria zelar pelo respeito às diferenças políticas e pela convivência democrática.
É preciso lembrar que, em uma democracia, o respeito aos adversários políticos é fundamental. A intolerância e a perseguição ao pensamento contrário são características de regimes autoritários, não democráticos.
Quem deseja a morte de seus opositores jamais pode ser considerado um verdadeiro democrata — ao contrário, adota práticas incompatíveis com os princípios da convivência democrática. Nesse sentido, as declarações do governador da Bahia revelam uma postura preocupante.
Independentemente de preferências partidárias, desejar o extermínio, simbólico ou literal — de adversários políticos não tem lugar em uma sociedade civilizada. É possível discordar profundamente das ideias e práticas do bolsonarismo, como de qualquer outra corrente política, mas transformar essa discordância em discurso de ódio não fortalece a democracia; apenas alimenta o mesmo radicalismo que se critica.
Há quem tente relativizar a declaração, dizendo que foi apenas força de expressão, fruto de um momento de indignação. Mas esse tipo de desculpa não se sustenta quando se trata de um governador em exercício. Palavras como as de Jerônimo Rodrigues alimentam o ressentimento, promovem a divisão e empobrecem o debate político. A democracia só sobrevive com base no respeito às divergências — inclusive às mais duras.
Não se combate o autoritarismo com mais autoritarismo. Não se vence o ódio com mais ódio. Ao contrário, é justamente nas horas de tensão e polarização que líderes responsáveis se diferenciam: eles pacificam, não inflamam.
A fala de Jerônimo Rodrigues merece repúdio, não apenas da oposição, mas de todos que ainda acreditam na civilidade como base do debate público. A vala que ele sugere para seus adversários é, na verdade, a mesma onde se enterra o espírito democrático quando se escolhe o caminho da intolerância.
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