Prepare-se para uma história que comove, desafia e transforma. Bárbara Bombom carrega no corpo e na voz as marcas de uma trajetória forjada na luta por dignidade. Mulher trans, preta, quilombola, faxineira e trancista, ela nos convida a escutar sua história com o coração aberto — e a refletir sobre a urgência da justiça social.
Bárbara, desde cedo, buscou compreender quem era. Aos 18 anos, se assumiu gay. Logo depois, se reconheceu como mulher trans. “Quando eu me tornei uma mulher trans, eu tive essa falta de ser reconhecida. As pessoas ainda queriam me chamar por um homem morto”, relata. Em seguida, ela descobriu a prostituição — por acaso. “Eu fui comprar um cigarro para minha mãe e conheci o São Francisco, que é bem aqui do lado”, conta.
“Naquele tempo, da minha casa até a distribuidora, eu fui desejada, elogiada… Eu levei um monte de ‘bibip’, que era o meu sonho. Então, eu fui para a prostituição para existir. Porque quando eu estava lá, eu era uma mulher linda, desejada, amada, presenteada… Vista e reconhecida.”
No entanto, essa breve sensação de pertencimento deu lugar à violência. Bárbara sobreviveu a tentativas de morte. A dor a impulsionou a recomeçar. Encontrou nas faxinas um modo de sustento e, em seguida, na militância, uma causa que abraçou com coragem. Assim, ela começou a construir pontes — entre corpos marginalizados e espaços de poder.

Construir pontes
O ativismo a levou para longe. Sua história atravessou fronteiras. “Uma amiga minha chegou e falou: ‘Bombom, você viu o que está fazendo em Goiânia, o quanto é grande?’ Eu falei: ‘Tô.’ Ela: ‘Bombom, eu acabei de chegar da Alemanha e você era tema de uma palestra lá.’” Bárbara se surpreendeu. “A minha vivência ainda continua difícil, mas hoje eu acordo com sentido para viver. Antes, eu só existia.”
O reconhecimento veio também da França e de Nova Iorque. “Fui convidada para representar o Brasil em Nova Iorque. Não conseguimos ir por causa do visto, da passagem… Mas eles entenderam a importância de um corpo trans preto de Goiânia nesse espaço.” Ela conclui: “Hoje eu vejo o mundo pequeno. Um dia, eu era reconhecida numa esquina de prostituição. Hoje, me enxergo sendo reconhecida com a luta que trago — e no mundo inteiro.”
Bárbara Bombom se tornou uma referência na defesa dos direitos humanos. Ela atua com firmeza na proteção da população LGBTQIA+, das mulheres pretas e das comunidades quilombolas. Sua voz ecoa, sua presença mobiliza. E sua história, construída com dignidade, é um alerta contra a exclusão e uma semente de esperança.
Em sua entrevista, Bárbara nos lembra que representatividade importa e visibilidade salva. Ela nos chama à responsabilidade diante de uma sociedade que ainda exclui. Denuncia as estruturas que violam, mas também celebra os laços que curam.
Confira a entrevista completa:
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