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ArcelorMittal
Empresários cobram medidas do governo federal para que o investimento de R$ 4 bilhões previsto pela ArcelorMittal Tubarão não fique só no papel, como pode ocorrer caso a competitividade seja ameaçada pela importação de aço estrangeiro. O risco de revisão dos projetos no Estado — de laminação de tiras a frio (LTF) e da linha de galvanização — foi revelado ao jornal O Globo pelo novo presidente da empresa, Jorge Oliveira, e noticiado nesta terça-feira (6) no Tribuna Online. A pressão é para que autoridades se reúnam com o presidente Lula e que o governante aumente os impostos sobre a importação de aço vindo da China, no intuito de proteger a indústria local.A siderúrgica em Tubarão anunciou, em fevereiro, os investimentos no LTF e em uma linha de Revestimento Contínuo, que prometem criar empregos diretos e indiretos, por meio do surgimento de uma série de novos negócios.A preocupação é que, caso o investimento no LTF não aconteça, o Estado perca investimentos da indústria essenciais para alavancar a economia local. “Todos juntos, setor privado e público, precisam marcar uma reunião urgente com o governo federal em Brasília para discutir o assunto”, declarou o presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e de Material Elétrico do Estado (Sindifer), Leonardo Cereza.O LTF é responsável pelo processo que permite o uso do aço nas indústrias automotiva e de eletrodomésticos, agregando valor.A perspectiva é que só a fase de construção do LTF crie 2.500 empregos, sem contar os cerca de 450 diretamente envolvidos na operação. Para o empresário e membro do conselho do Centro Capixaba de Desenvolvimento Metalmecânico (CDMec), Fausto Frizzera, o governo federal precisa “agir em cima disso e aumentar imposto sobre as importações”.“O mercado está ansioso por esse investimento e contamos com a reversão dessa possibilidade. Mas é preciso ter bala na agulha”, disse.A maioria das siderúrgicas brasileiras está operando com dificuldade devido aos baixo preços do aço asiático, segundo o empresário dono da Metalosa, Lúcio Dalla Bernardina. “Está muito mais barato e isso realmente prejudica os investimentos no Brasil”, diz.Autoridades também defendem uma visão mais atenta para a situação. Para o secretário de Estado de Desenvolvimento, Sergio Vidigal, é preciso diálogo para assegurar a viabilidade do projeto.Novos negócios no Brasil podem criar demanda para a produçãoEmbora a preocupação prevaleça, principalmente pela perda do potencial de desenvolvimento em médio prazo, há a possibilidade que a atração de investimentos já em curso seja capaz de viabilizar a implantação do Laminador de Tiras a Frio (LTF).
Para Sergio Vidigal, mercado doméstico deve absorver parte da demanda pelo aço laminado a frio
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Kadidja Fernandes — 30/11/2020
Para o secretário de Estado de Desenvolvimento, Sergio Vidigal, o mercado doméstico deve absorver parte da demanda pelo aço laminado a frio, o que pode atenuar os efeitos dessa conjuntura e manter a atratividade do investimento.“É importante destacar que sempre haverá a possibilidade de surgirem alternativas”, afirma.Maior fabricante de aço do País, a ArcelorMittal foi responsável por 42% do total de aço produzido pela indústria nacional ano passado, com volume equivalente a 15,5 milhões de toneladas. Após o funcionamento do LTF, o Estado tem o potencial de atrair a instalação de outros tipos de empresas, como as indústrias de carros, geladeiras, fogões e outros tipos de produções com valor agregado, avalia Leonardo Cereza, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e de Material Elétrico do Estado (Sindifer).Entenda o contextoInvestimentoEm fevereiro, a ArcelorMittal Tubarão anunciou a intenção de investir R$ 4 bilhões na instalação de um Laminador de Tiras a Frio (LTF) e uma linha de Revestimento Contínuo nas instalações do Espírito Santo.A previsão é de que haja a criação de 2.500 empregos no pico das obras e, na operação, sejam contratados mais 450 profissionais.A nova linha deve contar com tecnologias avançadas que permitirão à unidade expandir a cadeia de produção e oferecer produtos com maior valor agregado, posicionando o Estado como um polo estratégico de inovação e desenvolvimento para a indústria do aço nacional.LTFO Laminador de Tiras a Frio (LTF) é responsável por produzir produtos laminados a frio a partir das bobinas a quente já produzidas em Tubarão. Já a linha de revestimento contínuo na prática aplica um revestimento metálico, garantindo maior resistência à corrosão e acabamento diferenciado. Carros, fogões e geladeiras são alguns dos tipos de produtos que utilizam esse tipo de aço na fabricação, indústrias que podem ser atraídas para o Espírito Santo, especialmente para a região Norte — área da Sudene e do ParkLog.China e mundoEm fevereiro, o presidente dos EUA, Donald Trump, oficializou a taxação de 25% sobre todas as importações de carros, peças automotivas, alumínio e aço ao país.Contra a China, Trump elevou em abril os impostos sobre produtos para 145%. Isso fez com que a China e outros países produtores de aço buscassem novos mercados para o produto — o que inclui o Brasil.De janeiro a março, o Brasil importou 1,096 milhão de toneladas de produtos siderúrgicos só da China — alta de 57,8% ante igual período de 2024. Países como Egito e Coréia do Sul também têm ampliado as exportações para o mercado brasileiro.Governo do EstadoPara o secretário de Estado de Desenvolvimento, Sergio Vidigal, “é fundamental que todas as partes envolvidas — empresa, governo e sociedade — dialoguem com responsabilidade para encontrar caminhos que assegurem esse projeto”.Vidigal diz discordar da política de guerra de tarifas “pois ela tende a gerar impactos negativos à economia global, inclusive aos próprios Estados Unidos, e pode trazer incertezas para países parceiros como Brasil”.ParlamentaresPara o deputado federal e líder da bancada capixaba na Câmara, Josias Da Vitória, o LTF é “um investimento importante para o Estado e para o Brasil”: “assim como todas as pautas de interesse do Espírito Santo, nossa bancada federal está à disposição para colaborar”, disse.Já o deputado Gilson Daniel ressalta que o projeto bilionário representa geração de empregos, renda e desenvolvimento regional: “como deputado federal, defendo que o Brasil estabeleça mecanismos justos para proteger a indústria nacional de práticas desleais de concorrência internacional, como o excesso de importações de aço com preços artificialmente baixos”, afirma.Fontes: Especialistas e autoridades citados.