Por Ângelo Castelo Branco*
As declarações recentes do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), em que afirmou que os eleitores de Jair Bolsonaro (PL) “poderiam ir todos para a vala”, geraram forte repercussão e são preocupantes sob diversos aspectos.
A fala, feita durante um evento público, ultrapassa os limites da crítica política e adentra o terreno do discurso de ódio, algo incompatível com a responsabilidade institucional de um chefe do Executivo estadual.
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Embora o governador estivesse reprovando a postura do ex-presidente Bolsonaro durante a pandemia, atacar eleitores comuns – cidadãos com direito legítimo de escolha – revela um desprezo pelos fundamentos democráticos que deveriam nortear a atuação de qualquer gestor público.
No Brasil, vivemos tempos de polarização extrema, e atitudes como essa apenas aprofundam divisões. Um governador eleito, independentemente de sua filiação partidária, tem o dever de governar para todos, e não apenas para seus aliados ideológicos.
A democracia exige respeito à diversidade de opiniões e a convivência pacífica entre visões políticas diferentes. O uso de linguagem agressiva contra grupos de cidadãos contribui para a erosão da confiança nas instituições e no próprio Estado democrático de direito.
Infelizmente, esse tipo de postura não é isolado. Diversos representantes de partidos, tanto da direita quanto da esquerda, têm adotado discursos que incitam a intolerância, afastando-se do papel de mediadores e defensores do interesse coletivo.
No caso específico de Jerônimo Rodrigues, espera-se que ele reflita sobre a gravidade de suas palavras e se retrate publicamente. A crítica política é parte essencial do debate democrático, mas ela deve ser feita com responsabilidade, sem descambar para o ataque pessoal ou a criminalização do eleitor.
Além disso, é preciso que instituições de controle, como o Ministério Público, avaliem se houve violação de normas legais ou éticas por parte do governador.
A liberdade de expressão é um direito fundamental, mas quando exercida por autoridades, deve vir acompanhada de responsabilidade proporcional à função ocupada.
A democracia brasileira precisa urgentemente de líderes capazes de dialogar, construir pontes e respeitar adversários. O país só avançará se soubermos conviver com as diferenças e rechaçar toda e qualquer forma de intolerância, independentemente de onde ela venha.
*Jornalista
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