Como já dito em outras ocasiões por este jornal, o PSDB se tornou um partido vampiro: quer viver do “sangue” dos outros. Findada a federação com o Cidadania (Michel Roriz, presidente da legenda em Goiás, celebrou com alívio a extinção da aliança com o tucanato), a sigla liderada nacionalmente pelo ex-governador Marconi Perillo agora vai se “fundir” ao Podemos do deputado Glaustin da Fokus e do prefeito de Bela Vista de Goiás, Eurípedes José do Carmo. Note as aspas no termo “fundir”. Pois apesar de propagandeada com entusiasmo pelos tucanos, a fusão, na prática, está mais para uma incorporação do PSDB pelo Podemos.
A Legislação Eleitoral prevê tanto a possibilidade de fusão quanto de incorporação de partidos políticos. Diz o artigo 2º da Lei dos Partidos Políticos (Lei nº 9.096/1995): “É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos cujos programas respeitem a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa humana”.
Em caso de fusão, os órgãos de direção dos partidos políticos elaboram, juntos, projetos comuns de estatuto e programa. Após isso, os órgãos nacionais de deliberação das siglas que vão se fundir votam em reunião conjunta e elegem o órgão de direção nacional que vai promover o registro do novo partido político.
Já no caso da incorporação, cabe ao partido que será incorporado deliberar sobre alterações em seu próprio estatuto para se juntar à outra legenda – e uma convenção do PSDB já foi convocada para alterar o estatuto da sigla. O tucanato nega veementemente que serão incorporados, uma vez que isso resultaria na extinção definitiva do PSDB, mas é justamente o caminho que estão tomando.
Mas o fato curioso é que os tucanos querem puxar a carruagem como se fossem a tropa inteira, mas mal enchem um carro de boi. São 15 deputados federais do Podemos contra 13 do PSDB. No Senado, são quatro parlamentares da legenda liderada por Renata Abreu contra três do partido de Marconi Perillo. E mesmo assim, a coluna Conexão apurou que o PSDB teria colocado na mesa de negociação a proporção de governança do novo partido, fruto da “fusão”, de 60×40 para os tucanos. O Podemos, claro, não titubeou em propor 55×45 para eles.
Não há como a legenda de Perillo obter melhor oferta. Afinal, os tucanos têm pressa em se fixarem à “nova presa”: pela primeira vez em anos, e quase que inacreditavelmente – quando levado em conta o passado glorioso do PSDB -, o partido pode ser pego na cláusula de barreira em 2026. Atualmente, são 11 partidos que contam com representantes na Câmara que dançam à beira do precipício. Entre eles, a sigla de Perillo, que possui 13 deputados federais, de 8 estados diferentes.
Vale lembrar que o piso da cláusula de barreira no ano que vem será de 2,5% dos votos válidos ou 13 deputados distribuídos em 9 unidades da Federação. Ou seja: se todos os parlamentares tucanos hoje no Congresso forem reeleitos, mas o partido não fizer nenhum deputado a mais em outra unidade da Federação, o PSDB ficará sem financiamento público e sem tempo de TV na campanha.
Por décadas com presença de peso no Congresso e no Executivo dos principais estados do país – São Paulo é um exemplo, com quase 10 governadores do partido ao longo da história –, e uma musculatura política digna de polarizar com qualquer outra, o PSDB faz parte da memória política do Brasil como uma das legendas mais conhecidas e presentes nos pleitos. Esse tempo parece ter chegado ao fim. A legenda tucana sobrevive por “aparelhos”, rasteja em busca de sobrevida na política e não pode exigir demais, sob o risco de ficar sem sua última esperança. Se o ego de suas lideranças permitirá que a sigla se reinvente para se manter viva, isso o tempo dirá.
O post PSDB e Podemos: a incorporação disfarçada de fusão apareceu primeiro em Jornal Opção.