Rui Falcão acusa rival de fazer acenos ao bolsonarismo

Por Manoel Guimarães
Especial para a Folha de Pernambuco

Ex-presidente nacional do PT e novamente candidato ao cargo, o deputado federal Rui Falcão (PT-SP) criticou seu principal adversário na disputa, o ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva. Para o parlamentar, Edinho cometeu uma série de “erros de avaliação de conjuntura”, citando tentativas de aproximação com o bolsonarismo. “Ele (Edinho) acena muito para essa frente do nazismo, do fascismo. Não há possibilidade de uma convivência de diálogo com essa gente”, disparou.

A gente está vendo um processo de eleição interna (PED) com o partido bem dividido. Isso pode trazer prejuízo para o governo do presidente Lula?

Ao contrário, dependendo do resultado acho que vai favorecer o governo. Essa é a meta de todos os candidatos. A presidência do PT deveria ser um projeto para cinco, dez anos, e não ficar em torno de eleição. Mas é fundamental que a gente consiga reeleger o presidente Lula. O PED pode nos favorecer, porque todo consenso forçado leva a enganos, enquanto o debate livre e aberto aponta soluções. Minha candidatura está propondo mudanças, espero que essas ideias novas possam fazer com que o nosso partido tenha muita coragem e energia pra reeleger o presidente.

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Dizem que a sua candidatura hoje estaria isolada, já que o presidente teria preferência pelo ex-prefeito Edinho Silva, de Araraquara…

Eu nunca ouvi o presidente falando sobre isso, mas acho que o companheiro Edinho não usaria o nome dele sem que tivesse alguma receptividade. É claro que é importante ter apoio do presidente Lula, mas ele não faria esse tipo de manifestação, até por respeito à minha candidatura, pelas missões que cumpri por ele e pelo partido. Hoje, nós estamos correndo um risco de perder a identidade do PT. Por isso, mais uma vez, mesmo enfrentando poderes muito grandes e adversidades, nossa campanha segue firme. Mas é uma candidatura de Davi contra Golias.

O senhor já presidiu o partido e foi bem avaliado. Por que dessa vez o partido não se uniu em torno da sua candidatura?

O PT é fruto de várias experiências diferentes, ele surgiu da experiência dos sindicalistas combativos, das comunidades da Igreja, de intelectuais comprometidos com a democracia, de estudantes… Com todas essas experiências e renegando a ideia de partido único, era natural que respeitassem o direito de tendência. O que não há é um partido dentro do partido, embora uma tendência em particular se comporte como partido. Nunca houve unanimidade, nem o Lula conseguiu isso. O que mostra a força do PT.

O senador Humberto Costa é o atual presidente interino que conduzirá esse processo de eleições. Ele já lhe procurou para tentar buscar um consenso, ou mesmo para convencê-lo a retirar a candidatura?

Não, e acho que não o faria, nem ele nem o presidente Lula, que me conhecem e me respeitam, como eu a eles. Acho que ninguém faria esse tipo de proposta, até porque eu não estou aqui para marcar posição e ter algum tipo de negociação, embora isso fosse legítimo também. Estou porque acredito que é possível vencer e mudar o PT.

E por que o Edinho, apesar do carinho do presidente, não consegue juntar o PT?

Edinho é meu amigo de muitos anos. Ajudei ele em Araraquara quando era vereador. Depois, eleito prefeito, ele se apresentou como candidato a presidente estadual do PT, o levei até o (ex-ministro) José Dirceu, e ajudei a elegê-lo, mesmo com as divergências que surgiram. Em 2022, dividimos a comunicação da campanha do presidente Lula. E houve erros de avaliação de conjuntura. Ele queria uma foto com Bolsonaro e Lula, mostrando que havia uma transição respeitosa como foi a do Fernando Henrique Cardoso. Já tinha gente aquartelada, confusão nas ruas. Depois, ele expôs na Veja que era preciso acabar com a polarização. Isso não existe, porque a polarização está dada. Veja a extrema direita no mundo, a eleição do Trump deixou isso escancarado. Não há possibilidade de uma convivência de diálogo com essa gente. Ele (Edinho) acena muito para essa frente do nazismo, do fascismo.

Como avalia o governo do presidente Lula, cada vez mais refém dos partidos de centro?

Não tem faltado ao presidente Lula o apoio do PT. Mesmo quando a presidenta Gleisi Hoffmann tachou a política econômica como ‘austericida’, nunca deixamos de apoiar o nosso governo. Mas fomos eleitos com um programa, que não era só união e reconstrução, mas também de transformação, e que teve uma frente eleitoral muito ampla, de pessoas que foram abrigadas no governo, de formas diferenciadas. E não está claro se esse compromisso se compreende à governabilidade institucional ou se se prolonga até a reeleição do presidente. Essa é a questão.

Mas há uma tensão grande no governo…

Isso faz parte da política. Acho que para chegarmos em 2026 e reelegermos o presidente, temos que tentar mudar a agenda, sair dessa armadilha de que a gente fica cativa do Congresso e de uma correlação de forças onde a maioria é conservadora. Temos que manter um amplo diálogo com a população.

Os aliados falam que o presidente não é mais o mesmo, que o diálogo está travado. Como o senhor avalia?

O presidente tem um grupo de assessores mais próximos, mas acho que a questão transcende ele estar ou não ouvindo. Nosso problema central não é a comunicação. Tem a comunicação celebrativa dos feitos, mas tem uma que precisaria entrar mais em cena, que é a comunicação convocatória. O presidente se sentir integrado com a população. As pressões sociais são legítimas. O que proponho é resgatá-los para o nosso lado. Porque quando você fala que vai taxar super ricos, veja o apoio da população. Essa comunicação precisa propor uma macroeconomia de esperança, que traga uma agenda global para o futuro do país.

Mas a popularidade do presidente segue patinando, a menos de dois anos para a reeleição…

O mais importante é que o governo está se recuperando. Teve vários fatores de desgaste, como a taxação das blusinhas, a armação sobre taxação do PIX, as filas do INSS. São fatores que foram atribuídos ao presidente da República. Mesmo questões estaduais, como a segurança pública, vão para a conta dele. Teve a queda que ele levou, que gerou alguma desconfiança, ainda as viagens internacionais que colocam um certo distanciamento. Mas o presidente começa a restabelecer a popularidade. E mesmo no pior momento, ele sempre apareceu como favorito.

Ainda há tempo do PT conseguir um diálogo com os evangélicos?

Precisamos acabar com um preconceito que existe muitas vezes. Todos são cidadãos, independente do que acreditam, têm os mesmos direitos à saúde, segurança, moradia e meio ambiente. Isso tem que ser direcionado pelo nosso governo. No passado, já tivemos o apoio da cúpula das igrejas evangélicas. Acho que não é um problema que vá nos levar a perder a eleição, mas é preciso diálogo.

O Edinho esteve no Recife no último final de semana. Vamos vê-lo se movimentar também?

Eu não disponho dos mesmos recursos que o companheiro Edinho vem utilizando. Tenho um mandato parlamentar a cumprir em Brasília, mas vou fazer essas viagens. A campanha dele começou há bem mais tempo, a minha só iniciou no último dia 14. Farei viagens, pretendo ir ao Recife, Fortaleza, Salvador, Teresina, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

E qual a principal demanda do PT para as eleições estaduais?

Precisamos ter quadros majoritários nos estados, uma agenda estratégica que não seja só pensando nas eleições. É preciso hoje ter formação política, comunicação e organização, são três pilares para se ter mobilização e luta social. A gente sempre cresceu fazendo luta social e estamos nos preparando para isso. A prioridade é aumentar o número de deputados e senadores, mas precisamos depois fazer uma profunda reforma no sistema político eleitoral.

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