Indígenas repudiam silêncio imposto por governo em inauguração de cozinha comunitária em Jatobá

A inauguração da Cozinha Comunitária Raízes Indígenas, celebrada como um marco pela gestão estadual de Pernambuco, foi também motivo de protesto e indignação para o povo Pankararu. Embora tenha sido realizada no território da Aldeia Caldeirão do Povo Pankararu, em Jatobá, no Sertão de Itaparica, a solenidade não contou com a participação de nenhuma liderança indígena no palanque. Nenhum cacique ou representante da comunidade local teve voz para expressar publicamente o que a entrega daquele equipamento significava para o povo que o receberia.

“Fomos desrespeitados dentro dos nossos territórios”, afirmou Rosália Ramos, coordernadora do Distrito Sanitário Especial Indígena de Pernambuco, que denunciou a ausência de escuta por parte do governo. “Recebemos a fala aqui de políticos que adentraram o nosso espaço e não nos deram oportunidade sequer de dizer qual o nosso sentimento em receber um equipamento como uma cozinha”. A fala de Rosália expôs o incômodo de uma comunidade acostumada a ter sua cultura celebrada em discursos, mas sistematicamente silenciada em momentos de tomada de decisão e visibilidade pública.

Apesar de a governadora Raquel Lyra ter destacado o ato como um “reconhecimento da resistência do povo Pankararu”, a ausência de representatividade indígena no evento evidenciou um descompasso entre discurso e prática. A cozinha, que faz parte do programa estadual Bom Prato, é a primeira do tipo em um território indígena no Norte e Nordeste e promete beneficiar cerca de 200 famílias por dia. Mas o gesto simbólico de não conceder espaço de fala aos anfitriões transformou a ocasião em mais um episódio de invisibilização de povos originários.

“Essa casa tem domínio, essa casa tem lei, essa casa tem pessoas que representam o nosso território”, concluiu a indígena. O episódio, apesar da relevância social do equipamento, escancarou uma lógica ainda recorrente: políticas públicas implementadas em territórios indígenas sem o devido protagonismo dos povos a quem se destinam.

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