Lula evita vexame ao deixar de comparecer a atos do Dia do Trabalho

Do Poder360

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desistiu de participar dos atos de 1º de Maio – data em que se comemora o Dia do Trabalho – organizados pelas centrais sindicais em São Paulo. O petista quer evitar um desgaste político de estar presente em um evento que provavelmente será esvaziado. A decisão, porém, ganhou maior peso depois da revelação de fraudes no INSS.

Em 2024, o ato das centrais teve um público de pouco mais de 1.600 pessoas, de acordo com levantamento da USP (Universidade de São Paulo). O evento foi realizado no estacionamento da Neo Química Arena, do Corinthians, na zona leste de São Paulo.

Na época, Lula reuniu centrais sindicais e nove ministros. Diante de um público diminuto, deu uma bronca no ministro Márcio Macêdo, que comanda a Secretaria Geral da Presidência, órgão ligado aos movimentos. Lula classificou o ato como “mal convocado”.

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Desde então, outras manifestações convocadas pela esquerda também tiveram pouca participação popular. Em 30 de março, o ato chamado pelo deputado Guilherme Boulos (Psol-SP) em protesto à discussão do projeto de lei 2.858 de 2022 que anistia os condenados do 8 de Janeiro reuniu cerca de 5.500 pessoas na av. Paulista, em São Paulo.

O público foi bem menor do que os cerca de 26.000 ativistas pró-Bolsonaro que defenderam o mesmo projeto de lei em um ato realizado duas semanas antes na praia de Copacabana, no Rio.

As centrais sindicais prepararam dois atos para esta quinta-feira (1). Um deles foi organizado pela CTB (União dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros), Força Sindical, UGT (União Geral dos Trabalhadores), NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores) e Pública. Será realizado na Praça Campo de Bagatelle, na zona norte da capital paulista. Desta vez, a Secretaria Geral da Presidência não se envolveu na organização dos eventos.

A CUT (Central Única dos Trabalhadores) foi convidada, mas organizou um ato próprio em São Bernardo do Campo (SP), no ABC paulista, berço político de Lula, que foi metalúrgico.

Devem participar os ministros Luiz Marinho (Trabalho e Emprego), Márcio Macêdo (Secretaria Geral) e Cida Gonçalves (Mulheres). Leia abaixo quem mais deve estar presente.

Lula também participou dos eventos sindicais para comemorar o Dia do Trabalho em 2023, no seu primeiro ano do terceiro mandato. Agora, será a primeira vez na atual gestão que deixará de comparecer.

A ausência do petista foi minimizada por aliados diante da sucessão de desgastes políticos da última semana. Primeiro, o deputado Pedro Lucas Fernandes (União Brasil-MA) declinou do convite para assumir o Ministério das Comunicações e expôs a fragilidade da articulação política do governo. Depois, a Polícia Federal e a CGU (Controladoria-Geral da União) deflagraram uma operação que expôs um esquema de fraudes no INSS que pode chegar a R$ 6,5 bilhões.

A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, disse ontem que o presidente decidiu não participar dos atos de 1º de Maio neste ano para realizar um pronunciamento em redes de televisão e rádio que foi ao ar na noite de ontem. O vídeo foi gravado no Palácio da Alvorada na manhã de segunda-feira (28).

Gleisi defendeu que Lula tem “uma grande ligação com o povo trabalhador” e disse esperar que a mobilização nos eventos seja bem-sucedida, mesmo sem a presença do presidente. Ela deu as declarações em entrevista ao programa “Estúdio i”, da GloboNews.

No pronunciamento, Lula disse que o governo irá aprofundar o debate sobre a redução da jornada de trabalho e defendeu o fim da escala 6×1. “Está na hora do Brasil dar esse passo, ouvindo todos os setores da sociedade, para permitir um equilíbrio entre a vida profissional e o bem-estar de trabalhadores e trabalhadoras”, disse o presidente.

Lula recebeu representantes de oito centrais sindicais na terça-feira (29) no Palácio do Planalto. Os sindicalistas entregaram uma pauta de reivindicações que o petista disse que se comprometeria a avançar com elas. Um dos pedidos é justamente a redução da jornada de trabalho.

Dentre os outros pedidos estão a aprovação do projeto de lei que isenta do Imposto de Renda quem recebe até R$ 5.000 por mês. O texto (íntegra) apresentado a Lula é um desdobramento e atualização da Pauta da Classe Trabalhadora aprovada na Conclat (Conferência Nacional da Classe Trabalhadora) em abril de 2022. À época, o petista ainda era candidato à Presidência da República.

Lula usou ainda o horário nobre na televisão para defender seu governo no caso das fraudes no INSS. Disse que sua gestão desmontou um esquema criminoso de cobranças indevidas contra aposentados e pensionistas.

“Na última semana, o nosso governo, por meio da Controladoria Geral da União e da Polícia Federal, desmontou um esquema criminoso de cobrança indevida contra aposentados e pensionistas, que vinha operando desde 2019. Determinei à Advocacia Geral da União que as associações que praticaram cobranças ilegais sejam processadas e obrigadas a ressarcir as pessoas que foram lesadas”, afirmou.

Esta foi a primeira vez que o chefe do Executivo falou publicamente sobre o assunto. Na noite desta quarta-feira (30), nomeou o procurador federal Gilberto Waller Júnior para a presidência do instituto, depois que mandou demitir o ex-presidente, Alessandro Stefanutto.

Apesar da declaração, Lula evitou explicar como o governo ressarcirá os aposentados. Até 24 de abril, a última satisfação foi dada pelo ministro da CGU (Controladoria Geral da União), Vinícius de Carvalho. Uma das alternativas foi bloquear R$ 2 bilhões de instituições investigadas e pessoas ligadas a elas.

O governo afirma que das 40 milhões de pessoas beneficiadas pelo INSS, 6 milhões tiveram descontos. O que não se sabe ainda é quantos desses foram irregulares. A CGU (Controladoria Geral da União) diz que 97,6% dos aposentados e pensionistas do INSS tiveram descontos diretos não autorizados em seus benefícios para pagar sindicatos e associações.

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