Há teatros que acolhem espetáculos. E há palácios que são eles próprios, o espetáculo. O Palais Garnier, em Paris, que completou 150 anos em janeiro de 2025, pertence a essa segunda categoria. Mais que um palco para a ópera, é uma obra de arte total, um monumento erguido para o encantamento.
Projetado pelo jovem arquiteto Charles Garnier, o edifício foi inaugurado em 1875, ao fim de uma construção marcada por guerras, inundações e mudanças políticas. Surgia ali um novo ideal de espaço cultural: não apenas um local para ouvir música, mas um ambiente de convivência, de deslumbramento, de afirmação social e estética. Um lugar em que o público não assistia apenas como expectador, mas, era também parte do espetáculo.
Por fora, a fachada em estilo neobarroco exibe colunas, frisos, esculturas. Por dentro, a opulência dos veludos, dourados e espelhos faz com que cada visitante se sinta como se estivesse entrando num sonho. No centro da sala de espetáculos, um candelabro de mais de seis toneladas coroa a plateia. Acima dele, uma pintura do teto feita por Marc Chagall, em 1964, se sobrepõe à original de Jules Lenepveu – gesto polêmico que ainda hoje suscita debates.
Mas o Garnier não é apenas beleza. É também um feito de engenharia. Sua estrutura foi pensada para acomodar grandes montagens e abrigar complexos sistemas de iluminação, cenografia e acústica, quase uma “máquina de sonhos”. E foi essa visão de um teatro monumental que inspirou, no Brasil, a construção de edifícios como o Theatro Municipal do Rio de Janeiro e o de São Paulo.

A ópera que ali floresceu era a chamada grand opéra, um gênero tipicamente francês que unia música, teatro, dança, pintura e arquitetura. Uma experiência artística completa.
No subsolo do Garnier, há ainda outra história: a de um misterioso lago subterrâneo, origem do imaginário que inspirou O Fantasma da Ópera, romance de Gaston Leroux. Verdade ou ficção, o que importa é que o lugar nunca deixou de alimentar fantasias.
Como lembra o historiador Jorge Coli, em reportagem publicada na edição de abril da Revista Concerto:
“A perfeição propriamente técnica não bastava: era preciso criar um fabuloso palácio dos sonhos, onde, ao entrar, os espectadores se sentissem imersos na opulência dos ouros, dos bronzes, dos cristais e dos espelhos”.

Visitar o Palais Garnier é entrar em contato com uma ideia poderosa: a de que a arte pode ser um acontecimento urbano, uma experiência coletiva, um reflexo de época. E, mais que isso, é lembrar que certos lugares não apenas guardam memórias, eles moldam o próprio modo como a gente sonha.
Você já sonhou com um teatro assim? Se as palavras ainda não forem suficientes para traduzir a grandiosidade do Palais Garnier, convido você a visitar virtualmente o interior desse “palácio dos sonhos”. Em um vídeo disponível em alta definição, é possível percorrer seus salões, escadarias e galerias como se estivéssemos ali, em silêncio, diante de uma ópera arquitetônica. Observe a opulência dos espelhos, dos cristais, dos mármores e dos tetos pintados como se tudo conspirasse para que o próprio edifício fosse um espetáculo. Uma experiência visual que faz compreender, com os olhos e com a alma, por que esse teatro é um dos grandes monumentos do imaginário artístico europeu.

Logo na entrada, a escadaria principal é um espetáculo à parte. Inspirada nos palácios barrocos, ela não serve apenas como passagem, mas como palco social — onde o ato de subir e descer já era, no século XIX, uma performance.
Ricamente decorada com ouro, veludo vermelho e lustres de cristal, essa sala de espetáculos, foi pensada para deslumbrar. O teto pintado por Marc Chagall em 1964 contrasta com a ornamentação original e cria um diálogo fascinante entre o passado e o moderno.

Inspirado na Galeria dos Espelhos de Versailles, O Grand Foyer, era um espaço de convivência da elite parisiense. Observe os detalhes em bronze dourado, os espelhos, as pinturas alegóricas no teto e a luz dourada que parece intencionalmente teatral.
Mais do que um edifício funcional, o Palais Garnier foi concebido como um “palácio dos sonhos”, como diz Jorge Coli na Revista Concerto. Tudo ali — do mármore às esculturas, dos candelabros aos balaústres — é pensado para causar um encantamento quase onírico.
Note como a arquitetura dialoga com a função do espaço. Cada curva, cada coluna e cada detalhe foi desenhado não apenas para encantar, mas para amplificar o ritual da música, do balé e do espetáculo.
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