Medo de desagradar e de ser abandonada: entenda a síndrome da “boa menina”

Quais características têm uma “boa menina”? Uma “boa menina” pode agradar demais? Popularizado na internet, o termo “síndrome da boa menina” caracteriza pessoas que têm uma necessidade excessiva de agradar os outros, que vivem em uma constante busca por aprovação externa.

O termo foi introduzido pela psicoterapeuta norte-americana Beverly Engel em seu livro The Nice Girl Syndrome (2008). O padrão não se resume às mulheres – pode afetar homens -, no entanto, elas foram moldadas historicamente por expectativas sociais e culturais que incentivam o cuidado e reforçam a submissão como forma de amar.

Segundo a psicanalista Isabeli Baroni, o padrão pode ter origem em ambientes familiares rígidos ou excessivamente críticos, onde a aceitação está condicionada à obediência”. Por isso, em famílias onde há ameaças de abandono emocional (explícitas ou não), como afastamento ou silêncio punitivo, a criança tende a adaptar o próprio comportamento para manter a relação, por medo.  

“Traumas emocionais ensinam que a segurança está diretamente ligada ao ato de agradar”, disse. No entanto, para além de possíveis traumas específicos, a rotina e a cultura familiar, as formas de demonstrar amor e validação dentro de casa, e a forma como os sentimentos são expressados influenciam e moldam as pessoas. Isso cria padrões de comportamento duradouros.

Isabeli reitera também que a cultura em que estamos inseridos – ocidental, eurocêntrica, capitalista e religiosa – tem responsabilidade nos modelos e valores criados sobre mulheres. “A criança internaliza essas expectativas e passa a acreditar que “ser boa” é a chave para seu valor, ela inconscientemente associa o amor a algo condicional, dependente de agradar os outros”, explicou.

Esses padrões de comportamento iniciado na infância se refletem na dificuldade em dizer ‘não’, o medo de desagradar ou da rejeição, em uma tendência em se anular para manter relações harmoniosas, uma autoestima atrelada à validação externa e ainda culpa por priorizar suas próprias necessidades, segundo a psicanalista.

“Esses padrões podem resultar em diversos impactos negativos na vida emocional e psíquica, como baixa autoestima, ansiedade constante, medo, depressão e um sentimento de vazio. A dificuldade em estabelecer limites saudáveis pode gerar relações desequilibradas, enquanto a raiva reprimida e a perda da identidade são comuns. Em muitos casos, isso culmina em burnout emocional, onde a pessoa se esgota em suas tentativas de atender às expectativas alheias”, disse Isabeli.

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