A prisão de Fernando Collor de Mello, decretada agora em abril de 2025, é quase como um déjà vu do pior tipo. Trinta e três anos depois do escândalo que o tirou da Presidência da República por corrupção, Collor volta às manchetes, agora algemado, condenado a quase nove anos de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção passiva. O Brasil é um país onde o tempo passa, mas os personagens e práticas continuam os mesmos.
Dessa vez, Collor foi condenado por receber R$ 20 milhões em propina em contratos com a BR Distribuidora, estatal ligada à Petrobras. Em troca, usava sua influência política para garantir nomeações estratégicas e manter o esquema funcionando. De brinde, ainda tinha uma frota de carros de luxo, Porsche, Ferrari, Lamborghini, guardada em casa, como se fosse troféu de corrupção. Parece até piada de mau gosto, mas é a realidade do nosso país.
A história de Collor mostra o quanto a impunidade tem sido generosa com políticos brasileiros. Ele foi o primeiro presidente eleito por voto direto após a ditadura e também o primeiro a sofrer impeachment. Saiu pela porta dos fundos em 1992, mas logo depois voltou, como se nada tivesse acontecido. Em 2007 virou senador e ficou no cargo por mais de uma década. Um ciclo de poder que não acaba nunca, mesmo quando a ficha está mais suja que pau de galinheiro.
E o mais revoltante é que ele não é o único. O Brasil está cheio de políticos que fazem um trabalho meia-boca, vivem de falcatrua e continuam sendo sustentados por cargos públicos, por verba, por voto. A gente troca o nome, mas o esquema é sempre o mesmo. A diferença é que, às vezes, um ou outro acaba preso. Mas é raro, é lento, é exaustivo.
A Lava Jato, que começou lá em 2014, tentou mudar esse jogo. Prendeu figurão, mexeu com empreiteira bilionária, tirou o sono de muita gente graúda. Mas mesmo com tudo isso, a corrupção ainda corre solta. Muita coisa foi desfeita depois, condenações anuladas, processos arquivados. A justiça no Brasil ainda parece ter um compasso diferente quando o réu tem sobrenome famoso ou influência em Brasília.
O caso de Collor é um retrato do atraso. Ele saiu do governo por corrupção, voltou ao poder com o aval das urnas e só agora, três décadas depois, vai cumprir pena de verdade. Que tipo de mensagem isso passa pro cidadão comum, aquele que paga imposto e vê escola sem professor, hospital sem médico, rua sem asfalto? Que aqui, se você for poderoso, pode tudo e responde quando (e se) der tempo.
E não é como se esses políticos mostrassem algum arrependimento. Muitos se dizem perseguidos, injustiçados, mártires da “velha política”. Collor, por exemplo, continuou atuando como se nada tivesse acontecido, até a Justiça bater à porta dele de novo. É como se a vergonha tivesse se aposentado junto com a ética.
O problema maior é estrutural. Temos um sistema que favorece o apadrinhamento, o toma-lá-dá-cá, o jeitinho para burlar regras. Quem tem dinheiro e influência escapa ou enrola até a lei cansar, e isso mina a confiança das pessoas na política e na Justiça. Se nem o sujeito que foi presidente e já foi cassado é barrado no baile, o que esperar do resto?
A prisão de Collor precisa ser mais do que um evento isolado. Precisa ser símbolo de um basta. De que acabou a farra ou pelo menos de que ela está com os dias contados. Não dá pra aceitar que gente que vive da política só apareça nos noticiários por roubo, trapaça e ostentação. A política tem que voltar a ser instrumento de transformação, não de enriquecimento pessoal.
E aí a responsabilidade é nossa também. De cobrar, de votar melhor, de não se contentar com o “menos pior”. O Brasil precisa virar essa página de impunidade institucionalizada.
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