Rombo bilionário no INSS: Onde está o dinheiro dos aposentados?

O Brasil amanheceu na quarta-feira, 23, com a confirmação de um escândalo que, embora alarmante, não surpreende: uma operação conjunta da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU) revelou a existência de um esquema bilionário de fraudes dentro do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Estima-se que, entre 2019 e 2024, tenham sido desviados até R$ 6,3 bilhões em descontos indevidos nos contracheques de aposentados e pensionistas — os mesmos cidadãos que mais deveriam ser protegidos pelo Estado.

O esquema, segundo as autoridades, consistia na aplicação de descontos mensais, supostamente autorizados, em nome de associações de aposentados — serviços que incluíam desde assistência jurídica até descontos em academias e planos de saúde. Na prática, os beneficiários jamais consentiram com as filiações. Suas assinaturas foram falsificadas. E o dinheiro, sistematicamente, desaparecia dos pagamentos mensais que deveriam lhes garantir uma velhice digna.

A magnitude do caso obrigou o governo federal a agir com rapidez. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, após ele ser alvo de mandados de busca e apreensão. Stefanutto, servidor de carreira com formação militar, assumiu a chefia do instituto em 2023, mas já ocupava funções estratégicas no órgão há mais de uma década. Sua exoneração carrega o peso da responsabilização institucional, mas ainda não responde à pergunta central: como um desvio dessa escala pôde ocorrer, diante de tantos mecanismos de controle?

É importante destacar que esse esquema não começou no governo atual. As fraudes se iniciaram ainda na gestão anterior, sob o comando do ex-presidente Jair Bolsonaro, quando a Polícia Federal tinha suas investigações limitadas por interferências políticas. Agora, com a autonomia retomada, a PF conseguiu desmontar a operação criminosa. Mas isso levanta uma questão: por que só agora? 

Se o esquema movimentou bilhões por cinco anos, como ele passou tanto tempo sem ser detectado? A resposta parece óbvia: falta de fiscalização eficiente e, possivelmente, conivência de quem deveria impedir esses crimes.

Além das demissões, a operação resultou em seis prisões temporárias e mais de 200 mandados de busca e apreensão. Bens avaliados em mais de R$ 1 bilhão foram sequestrados. Uma das entidades investigadas é o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), que tem como vice-presidente José Ferreira da Silva, o Frei Chico — irmão do presidente Lula.

Segundo as autoridades, ele não é investigado no momento, mas o envolvimento da instituição lança sombras sobre a necessidade de total transparência no processo. “Quando surgem denúncias de descontos irregulares nos benefícios, é essencial que essas alegações sejam levadas a sério e investigadas de forma rigorosa”, declarou o sindicato em nota.

No entanto, o que deveria ser óbvio — o compromisso com a apuração imparcial — nem sempre é o que prevalece nos bastidores políticos. É preciso garantir que o processo não seja utilizado como arma de retaliação política, mas também não pode ser abafado por alianças institucionais. Investigar de forma ampla e irrestrita é condição básica para que o sistema se regenere.

Não se trata apenas de punir. O momento exige reconstrução. Uma reavaliação das regras que permitem a existência de descontos associativos no contracheque, especialmente sem autorização expressa. É inadmissível que, em pleno século XXI, idosos e pessoas com deficiência continuem à mercê de golpistas que operam com conivência — ou, no mínimo, negligência — do próprio Estado.

O rombo bilionário, por sua vez, expõe um paradoxo. Enquanto o governo e o Congresso debatem formas de equilibrar as contas públicas e garantir a sustentabilidade da Previdência, bilhões são perdidos em fraudes silenciosas. A reforma da Previdência, por exemplo, sempre foi justificada com base na escassez de recursos e na necessidade de ajustar o sistema a uma população que envelhece. Mas o que dizer agora, quando se descobre que uma parte significativa desses recursos era simplesmente desviada por dentro?

Se a proteção aos aposentados é, como afirmou o Sindnapi, “prioridade fundamental para garantir uma sociedade mais justa e solidária”, então não há espaço para meias medidas. É preciso garantir mecanismos mais rígidos de controle, responsabilizar penal e administrativamente todos os envolvidos — independentemente de sua posição ou histórico — e reconstruir a credibilidade de uma das instituições mais importantes do Estado brasileiro.

Não se conserta um país com anistias convenientes nem com promessas de que “agora vai”. O Brasil precisa de um pacto que coloque os direitos dos cidadãos — especialmente os mais vulneráveis — acima dos interesses corporativos, políticos e criminosos. E esse pacto começa com justiça. Justiça plena, sem blindagens, sem seletividade e sem perdão prévio.

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