Esquema desviou R$ 2 bilhões do FGTS e seguro-desemprego

App Caixa Tem era utilizado pelos criminosos, segundo a Polícia Federal: 749 mil processos de contestação.

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Divulgação

Em um esquema que envolvia a tecnologia e a ajuda de funcionários da Caixa, criminosos desviaram cerca de R$ 2 bilhões de beneficiários de programas sociais, do FGTS e do Seguro-Desemprego de trabalhadores.A fraude era cometida por meio da invasão de contas do aplicativo Caixa Tem e tinha vítimas de todo o País, incluindo com origem no Espírito Santo.O esquema foi divulgado pela Polícia Federal, que deflagrou na última semana a Operação Farra Brasil 14, no Rio de Janeiro. O objetivo era desarticular uma organização criminosa especializada nesse tipo de fraude. De acordo com a PF, os investigados pagavam propinas a funcionários da Caixa Econômica e de casas lotéricas para obter acesso a valores por meio do aplicativo.Foram cumpridos 23 mandados de busca, quando foram apreendidos 20 telefones celulares, seis notebooks, dois veículos, além de documentos.Desde a criação do Caixa Tem, em abril de 2020, a Coordenação de Repressão a Fraudes Bancárias Eletrônicas da Diretoria de Combate a Crimes Cibernéticos da PF registrou cerca de 749 mil processos de contestação de quase R$ 2 bilhões por parte da Caixa Econômica Federal.O consultor de tecnologia da informação Eduardo Pinheiro orientou que os usuários do App Caixa Tem adotem o hábito de sempre verificar as movimentações em suas contas e ativar, quando possível, a verificação de dois fatores em suas transações. “A Caixa, por sua vez, precisa investir em aplicações que identifiquem transações atípicas, inclusive aquelas realizadas fora da região de origem do correntista, bem como realizar auditorias internas e investigação de funcionários que tenham acesso aos sistemas”.O advogado especialista em direito digital, privacidade e proteção de dados e presidente da Comissão de Proteção de Dados, Privacidade e Inteligência Artificial da OAB-ES, Felipe Lima, enfatiza que esse golpe configura uma violação grave à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). “Mais do que uma fraude, esse caso expõe uma falha de segurança e de governança sobre dados pessoais, o que é inaceitável em se tratando de serviços que atendem justamente as pessoas que mais precisam de proteção”.Ajuda no combate a fraudes Diante das investigações sobre esquemas fraudulentos envolvendo o aplicativo Caixa Tem e funcionários da instituição, a Caixa informou que atua conjuntamente com os órgãos de segurança pública nas operações que auxiliam no combate a fraudes e golpes.

Prédio da Caixa Econômica.

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Marcelo Camargo/Agência Brasil

O banco ressaltou, ainda, que monitora ininterruptamente seus produtos, serviços e transações bancárias para identificar e investigar casos suspeitos.“Destaca que melhora constantemente os critérios de segurança, observando as melhores práticas de mercado e as evoluções necessárias ao observar a ocorrência de fraudes”, afirmou por meio de nota à imprensa.A Caixa ainda esclareceu que informações sigilosas sobre eventos criminosos em suas unidades são repassadas exclusivamente às autoridades policiais e ratifica que coopera integralmente com as investigações dos órgãos competentes.Por fim, o banco orientou que – em caso de movimentações e operações de FGTS não reconhecidas pelo cliente – é possível realizar pedido de contestação em uma das agências do banco, portando CPF e documento de identificação. As contestações, de acordo com a Caixa, são analisadas de forma individualizada e considerando os detalhes de cada caso. Para os casos considerados procedentes, o valor é ressarcido ao cliente. Para quem deseja mais orientações sobre segurança, a Caixa informou que são disponibilizadas no site www.caixa.gov.br/seguranca.Saiba mais OperaçãoA Polícia Federal deflagrou a Operação Farra Brasil 14, no Rio, para desmontar uma organização criminosa especializada em fraudes por meio do aplicativo Caixa Tem.De acordo com a PF, os investigados pagavam propinas a funcionários da Caixa Econômica e de casas lotéricas para obter acesso a valores por meio do aplicativo. Teve funcionário que chegou a realizar saque a mando da quadrilha.Na ação, foram cumpridos 23 mandados de busca e apreensão nos municípios de Niterói, Rio de Janeiro, São Gonçalo, Maricá, Itaboraí, Macaé e Rio das Ostras. Além dos mandados, a Justiça Federal impôs medidas cautelares diversas da prisão para 16 investigados. ValoresDesde a criação do Caixa Tem, em abril de 2020, a Coordenação de Repressão a Fraudes Bancárias Eletrônicas da Diretoria de Combate a Crimes Cibernéticos da PF registrou cerca de 749 mil processos de contestação de quase R$ 2 bilhões por parte da Caixa. De acordo com a PF, as investigações mostram que a maior parte das vítimas é beneficiária de programas sociais do governo federal, mas as fraudes também atingem o FGTS e o Seguro-Desemprego de trabalhadores, todos geridos pelo Caixa Tem. CrimesOs investigados responderão pelos crimes de organização criminosa, furto qualificado, corrupção ativa e passiva, além de inserção de dados falsos em sistemas de informação, com as penas máximas podendo chegar a 40 anos de reclusão.Como era o esquema1. Acesso a dados Em páginas ilegais na internet, criminosos conseguiam dados – como CPFs – de milhares de pessoas que tinham benefícios ativos. 2. Alteração do cadastroOs dados obtidos pelos golpistas eram repassados a funcionários da Caixa envolvidos no crime, que alteravam os cadastros das vítimas no aplicativo Caixa Tem. Eles substituíam e-mails dos beneficiários e, assim, os criminosos conseguiam mudar a senha e ter acesso a todos os detalhes. 3. MovimentaçãoUsando tecnologias, eles conseguiam acessar várias contas e passavam a fazer transferências por Pix, pagavam boletos ou sacavam os valores.

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