
Número de cardeais com direito de voto está acima do limite de 120 estabelecido por Paulo VI, exigindo um quórum mais alto para a eleição do novo Papa. Conclave, para escolher sucessor de Papa Franscisco, é considerado um dos mais indecifráveis de que se tem notícia
Jornal Nacional
Se o Papa Francisco será sucedido por alguém a quem ele deu a púrpura de cardeal, é apenas uma possibilidade.
Atualmente, o número de cardeais com direito de voto, ou seja, com menos de 80 anos de idade, está acima do limite estabelecido por Paulo VI, que era de 120 purpurados. O que vai exigir um quórum mais alto para a eleição do novo Papa.
O Papa Francisco não criou um colégio só de gente que pensa como ele. Ao contrário, deu espaço para todas as tendências: progressista, conservadora, reformista e tradicionalista. Uma das reformas deste Papa foi mudar a geopolítica do colégio de cardeais. Por isso, esse conclave é considerado um dos mais indecifráveis de que se tem notícia.
Há quem afirme que, pouco antes de ir para o hospital, o próprio Papa Francisco estivesse já trabalhando pelo seu sucessor.
Um dos preferidos de Francisco pode representar uma surpresa no conclave: o cardeal Pierbattista Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalém.
Franciscano, é natural de Bérgamo. Dos seus quase 60 anos de idade, viveu mais de 30 na Terra Santa. Seria um Papa italiano, mas com um conhecimento único do Oriente Médio. É apreciado por israelenses e palestinos.
O secretário de Estado do Vaticano, teoricamente, é sempre um papabile. Embora não tenha tantos casos na história dos pontificados. Pietro Parolin, veneziano, moderado, diplomata com grande capacidade de mediação, é reconhecido como de centro. A favor dele, além das suas qualidades, joga o peso do jubileu, quando o trono papal não pode ficar vazio por muito tempo. Parolin seria uma escolha de Cúria, rápida, para conquistar um consenso.
Se a preferência for um Papa de linha pastoral e progressista, há outros nomes fortes como Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana. Também diplomata. Poderia se tornar o Francisco II. Zuppi agrada tanto às comunidades gays como às organizações religiosas em defesa da família.
O brasileiro Sérgio da Rocha, arcebispo metropolitano da Bahia, também é citado em algumas listas. Desde 2023, ele está no grupo dos nove cardeais conselheiros, escolhidos pelo Papa. É um grande apoiador das mudanças de Francisco e comprometido com o combate à homofobia e com a inclusão de casais gays na Igreja.
Se o colégio cardinalício quiser prosseguir no caminho das inovações e reformas, com uma visão mais aberta do mundo, é um forte candidato.
Um cardeal conservador, e muito respeitado pelo Papa Francisco, o arcebispo de Budapeste, Péter Erdő, torna-se um nome forte. Viveu o comunismo e foi vítima de perseguição religiosa. Foi presidente da Conferência Episcopal Húngara e relator de vários sínodos.
Em questões políticas como a imigração, contra a qual a Hungria vem lutando há alguns anos, Erdő transmitiu uma abordagem equilibrada, reconhecendo o direito de imigrar e a necessidade de integrar refugiados sem colocar em risco a estabilidade política.
Entre os conservadores, um nome que vem crescendo, dentro e fora do clero africano: o cardeal congolês Fridolin Ambongo Besungu. Ambongo liderou a oposição ao documento da Igreja que autorizou a bênção aos casais homossexuais.
Da Ásia, o filipino Luis Antonio Tagle, teólogo ilustre, aparece sempre em todas as listas há vários anos. Apreciado por Francisco e pelos conservadores da Cúria Romana. Figura discreta, neto de avô materno chinês. Um detalhe não sem importância, seria um bom nome para a Igreja mais universal criada por Francisco.
Outros nomes cotados para Papa: o austríaco Christoph Schönborn, considerado um teólogo brilhante, próximo de Bento XVI, mas também um dos apoiadores do Papa Francisco. Defende o acolhimento aos divorciados que se casaram novamente e aos homossexuais. Rigoroso contra os casos de abuso sexual.
Jean-Marc Aveline, arcebispo de Marselha, cidade multiétnica e multirreligiosa. Seria o primeiro Papa francês desde a época do Papado de Avignon, mais de seis séculos depois. Francisco tinha uma forte ligação com Marselha pela boa convivência entre as religiões.
Há muitas apostas de que o papado voltará para as mãos de um italiano.
Fala-se também de um cardeal espanhol, de Malta, da Holanda. Também do Canadá e um afro-americano.
Mas, para os favoritos, existe sempre aquela máxima vaticana repetida em cada conclave: quem entra papabile sai cardeal.
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