
Cerimônia seguirá tradições do Vaticano para a morte de um pontífice. Antes de morrer, Francisco fez mudanças para simplicar rituais fúnebres. Morre o Papa Francisco
A morte de um papa dá início a uma série de ritos e cerimônias cuidadosamente organizadas muito antes do início do Conclave para eleger o sucessor. Elas envolvem a certificação da morte e a exibição pública do corpo para que os fiéis possam prestar homenagens, além do funeral e do sepultamento.
O papa Francisco, que morreu nesta segunda-feira (21), revisou diversos ritos no ano passado, simplificando os rituais funerários para enfatizar seu papel como um simples bispo.
Mas os elementos centrais permanecem, incluindo três momentos-chave que devem ser observados entre a morte de um papa e seu sepultamento. Veja mais abaixo cada um deles.
Embora os papas frequentemente façam ajustes nas regras que regulam o Conclave, uma revisão dos ritos funerários papais não era feita desde o ano 2000. As mudanças se tornaram necessárias após Francisco expressar seus próprios desejos.
Em 2023, alguns meses depois da morte de Bento XVI, Francisco revelou que estava trabalhando com o mestre de cerimônias litúrgicas do Vaticano, o arcebispo Diego Ravelli, para reformular completamente o livro de ritos e simplificá-los.
Ao explicar as reformas, Ravelli afirmou que as mudanças tinham como objetivo “enfatizar ainda mais que o funeral do Pontífice Romano é o de um pastor e discípulo de Cristo, e não o de um homem poderoso deste mundo”.
Confira a seguir as etapas do funeral do papa.
1. Preparação do corpo
Papa Francisco morre aos 88 anos
Vaticano
Os ritos fúnebres ocorrem em três partes, chamadas de estações. A primeira ocorre na capela privada do papa, após profissionais de saúde confirmarem a morte. Até recentemente, essa etapa acontecia ao lado da cama do papa.
Após o corpo repousar na capela, o cardeal que atua como camerlengo organizará o funeral. Ele também é responsável por administrar o Vaticano até que um novo papa seja eleito. O atual camerlengo é o cardeal Kevin Joseph Farrell, nomeado por Francisco em 2019.
Como ocorre há séculos, o camerlengo chama formalmente o papa falecido pelo nome completo que recebeu no batismo — Jorge Mario Bergoglio.
Tradicionalmente, outro rito antigo também acontece após a declaração da morte do papa: a destruição do anel papal. Cada papa usa um anel feito sob medida com a imagem gravada de um homem pescando de um barco, uma referência ao evangelho de Mateus, onde Jesus chama São Pedro de “pescador de homens”.
Esse Anel do Pescador, com o nome do papa gravado sobre a imagem, poderia ser usado como selo em documentos oficiais. O camerlengo quebrará o anel de Francisco e destruirá o selo com um martelo ou outro instrumento, para impedir que outra pessoa o use.
Os aposentos papais também serão trancados, com entrada proibida — uma prática tradicional para evitar saques.
2. Exposição do corpo
Cardeal Giovani Battista benze o caixão de Bento XVI durante o funeral do papa emérito, em 5 de janeiro de 2023.
Guglielmo Mangiapane/ Reuters
O papa será vestido com sua simples batina branca e vestes vermelhas, e colocado em um caixão de madeira simples. Esse caixão será levado em procissão até a Basílica de São Pedro, onde ocorrerá a exposição pública do corpo pelos três dias seguintes.
Durante esse período, o corpo do papa ficará em um caixão simples e aberto, para enfatizar o papel humilde do papa como pastor, e não como chefe de Estado. Anteriormente, o corpo ficava sobre uma plataforma elevada chamada catafalco, prática encerrada no funeral do papa Bento XVI, em 2022.
Bento XVI também foi o último papa a ser enterrado nos tradicionais três caixões — de cipreste, chumbo e olmo. Dois desses caixões continham documentos sobre seu pontificado; o primeiro também abrigava três sacos de moedas — ouro, prata e cobre — representando cada ano de seu pontificado.
No funeral de Francisco, após a exposição pública, um pano branco será colocado sobre seu rosto, enquanto ele repousa no caixão de carvalho — uma tradição que continua nos funerais papais. Mas esta será a primeira vez que apenas um único caixão será utilizado. Provavelmente, conterá um documento descrevendo seu pontificado e um saco de moedas referente ao seu tempo como papa.
A Missa fúnebre será celebrada em São Pedro, provavelmente dentro da basílica, por causa do clima, e é provável que haja uma multidão de fiéis do lado de fora, reunidos na praça.
A homilia refletirá sobre a vida e espiritualidade do papa falecido. O próprio Francisco fez a homilia no funeral de seu antecessor aposentado, o papa Bento XVI.
Já Joseph Ratzinger, ainda antes de ser eleito papa Bento XVI, fez a homilia no funeral de João Paulo II. À época, Ratzinger era o líder — ou decano — de todos os altos membros da Igreja, o chamado Colégio dos Cardeais.
O atual decano é o cardeal Giovanni Battista Re, de 91 anos, e não se sabe se ele conseguirá manter essa tradição devido à idade avançada.
Missas continuarão sendo celebradas em memória de Francisco por nove dias após sua morte — um período chamado de Novendialis. Esse ritual foi inspirado em uma tradição romana antiga que previa um período de luto encerrado no nono dia após a morte.
3. Sepultamento
Fachada da Basílica de Santa Maria Maggiore, onde papa Francisco será enterrado.
Divulgação
Papados anteriores foram sepultados em vários locais. Até a legalização do cristianismo no Império Romano, no início do século IV, os papas eram enterrados nas catacumbas, os cemitérios nos arredores de Roma.
Depois disso, os papas passaram a ser enterrados em diferentes locais, como a Basílica de São João de Latrão — a catedral oficial de Roma — ou outras igrejas dentro e fora da cidade. Alguns chegaram a ser sepultados na França, durante o século XIV, quando o papado foi transferido para a fronteira francesa por razões políticas.
A maioria dos papas é enterrada nas grutas sob a Basílica de São Pedro, e desde o sepultamento do papa Leão XIII em São João de Latrão, em 1903, todos os papas foram enterrados em São Pedro.
No entanto, segundo os desejos de Francisco, deverá haver uma procissão por Roma até Santa Maria Maggiore, com o carro funerário e outros veículos levando as pessoas que participarão desse ritual privado.
Após algumas orações finais e a aspersão de água benta, o caixão será colocado em seu local definitivo dentro da igreja. Apenas mais tarde o espaço será aberto ao público para orações e veneração.
*artigo produzido com informações de Joanne M. Pierce, professora de estudos religiosos no College of the Holy Cross.