A secretária de Educação de Aparecida de Goiânia, Núbia Farias, assumiu a pasta com grandes projetos e metas ambiciosas, especialmente voltadas à inovação tecnológica no ensino. No entanto, segundo ela, a escassez de recursos tem dificultado a execução de muitas dessas propostas.

Pedagoga com especialização em psicopedagogia e mestrado em educação tecnológica, Núbia trabalha na rede municipal desde 2005, tendo atuado por vários anos como professora. Sua experiência também inclui atuação na regional de educação do Estado, onde foi responsável por seis municípios: Hidrolândia, Aragoiânia, Caldazinha, Senador Canedo, Bonfinópolis e Aparecida.
“Essa experiência me deu uma base muito boa para estar aqui hoje. Claro que a realidade municipal é bem peculiar, mas a bagagem adquirida ajuda bastante”, afirmou em entrevista exclusiva ao Jornal Opção.
Ela ressalta, contudo, que a gestão só é possível graças ao esforço coletivo: “O que ajuda mesmo numa gestão é a equipe. Contamos com três superintendentes e uma secretária executiva que trabalham dia e noite para fazer a educação acontecer.”
Foco em aprendizagem significativa
A secretária enfatiza que seu principal objetivo é garantir uma educação de qualidade, que prepare os alunos para a vida. “Educação é um direito da criança. Meu foco é que o aluno aprenda, não só conteúdos, mas para a vida”, destaca.
Segundo ela, o prefeito também compartilha esse compromisso com a educação e tem demonstrado sensibilidade às necessidades da rede municipal.

Herança de dívidas e cortes orçamentários
Ao assumir a Secretaria em 2024, Núbia relata ter encontrado uma situação financeira delicada. “Temos muitas dívidas do ano passado. Estamos reorganizando os contratos, analisando cada um para ver se é possível manter, substituir por opções gratuitas, ou renegociar com fornecedores”, relata.
Ela reforça que não é possível, no momento, fazer aquisições: “Estamos correndo atrás de preços, brigando por condições melhores para conseguir atender as escolas com tranquilidade dentro da receita.”
Apesar disso, Núbia garante que os projetos existem — mesmo que ainda falte receita para executá-los: “Temos ideias e sonhos, e acreditamos que logo vamos conseguir colocar em prática. As finanças vão melhorar.”
Robótica nas escolas
Entre os projetos mais ambiciosos da gestão está a implementação do ensino de robótica em toda a rede municipal. Atualmente, apenas uma escola, a Sebastiana Lourenço Camilo, no Setor Vilage Garavelo ll, oferece o curso no contraturno, o que limita o acesso dos alunos. A proposta da Secretaria é integrar a robótica ao currículo regular.

“Temos uma unidade que já funciona com robótica no contraturno, com autorização dos pais, mas queremos implementar nas aulas regulares. Para isso, precisamos de orçamento, materiais, capacitação dos professores e estrutura”, explicou Núbia.
A Secretaria está em diálogo com a Escola do Futuro, do Governo do Estado, para firmar parcerias voltadas à formação docente. “Já estivemos lá, marcamos reuniões, e vamos fazer o levantamento dos professores interessados para iniciar a capacitação.”
A robótica, segundo a secretária, será parte de um novo currículo que está sendo construído e que integra o componente “Cultura de Inovação e Tecnologias”, presente na matriz curricular do município. Esse componente terá três eixos: cultura digital, tecnologia digital e pensamento computacional.
“Estamos organizando esse currículo para 2025. Queremos dar significado pedagógico ao uso da tecnologia. A robótica entrará dentro do pensamento computacional, não mais como um projeto solto, mas integrado à proposta pedagógica”, explica.
O plano é aproveitar os chamados “espaços maker” já existentes em algumas escolas da rede. “Eles já estão funcionando, com 20 computadores em cada espaço. Agora vamos dar sentido ao uso desses ambientes.”
A expectativa é que os primeiros movimentos do novo currículo comecem ainda no primeiro semestre de 2025. “Já em maio faremos reuniões com diretores e coordenadores pedagógicos, e em junho iniciamos os trabalhos em parceria com a Escola do Futuro.”
A proposta, segundo Núbia, é de implementação gradual: “Trabalharemos inicialmente com capacitação de servidores que já atuam nas escolas, sem contratação de novos profissionais.”
Inclusão, alfabetização e estrutura
Além da robótica, Núbia também planeja melhorias em outras frentes: “Temos muitas propostas, especialmente para inclusão e atendimento às crianças com deficiência. Também pretendemos melhorar o sistema de gestão da merenda, da alfabetização e da administração da própria secretaria.”

Núbia falou sobre os desafios enfrentados pela rede municipal de ensino em relação à inclusão de alunos com deficiência, à estrutura das escolas e aos projetos em andamento. Segundo ela, o maior obstáculo ainda é a falta de preparo da sociedade e das famílias para lidar com a diversidade.
“Na verdade, a gente percebe que a sociedade não está preparada. O nosso corpo clínico é novo, e muita coisa aparece do dia para a noite. A estrutura enquanto Estado não existe, e até mesmo a família não está preparada. A primeira resistência vem da própria família, que não aceita ou não quer medicar o menino, que rejeita. Isso remete à época em que a criança surda queria se comunicar com as mãos e a mãe amarrava as mãos para impedir. Nós ainda estamos nessa situação”, explicou a secretária. Ela destacou que a inclusão precisa ser responsabilidade de todos.
“O aluno é da escola, da merendeira, da professora, do coordenador, do professor de educação física. Ele é aluno de todo mundo. O apoio não é o professor específico da criança, mas alguém que está ali para dar suporte em momentos pontuais.”
Hoje, segundo Núbia, a rede atende cerca de 3.500 alunos com necessidades especiais, entre eles crianças com deficiência intelectual, deficiência física, autismo, TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), e transtorno opositor desafiador.
“Para cada uma dessas condições, é preciso profissionais capacitados. O Ministério Público Federal entende que, ao colocar um profissional exclusivo com a criança, estamos promovendo exclusão, pois ela acaba ficando isolada da turma. Por isso, o apoio deve ser itinerante, atendendo de duas a seis crianças por vez”, afirmou.
Ela explica que, ao receber um aluno com laudo médico, a escola elabora um Plano Educacional Individualizado, com base nas necessidades e potencialidades da criança.
“A avaliação dele é diferente. Se ele consegue pegar o lápis e apontar, isso já é uma habilidade. O profissional de apoio está ali para ajudar nesse processo.”
Além do apoio em sala de aula, o município oferece o Atendimento Educacional Especializado (AEE), que acontece no contraturno, duas vezes por semana. Aparecida de Goiânia, segundo a secretária, é referência nesse atendimento.
“Estive em duas unidades e fiquei encantada com a dedicação dos profissionais. São pessoas que amam a inclusão.”

Estrutura física das escolas e obras
Questionada sobre a infraestrutura das escolas, Núbia reconheceu a precariedade.
“Precisamos melhorar muito. Hoje temos 20 escolas que molham por dentro quando chove. Estamos com projetos para consertar telhados na seca. Temos também 32 escolas que não têm condições de receber ar-condicionado porque a rede elétrica não suporta.”
Segundo ela, algumas unidades receberão climatizadores e outras, um segundo quadro de energia ligado a transformadores para garantir o funcionamento de aparelhos.
“Temos também cinco obras paradas que serão retomadas e projetos de construção de novas escolas e Cmeis.”
Matrículas e vagas na rede
A secretária explicou que o sistema de matrículas ainda apresenta falhas, o que compromete a precisão nos dados.

“Meu sistema estava gerando até cinco matrículas para o mesmo aluno. Já identificamos 171 duplicidades em um único dia. Em algumas regiões temos vagas, em outras, não. Estamos fazendo um levantamento manual porque o sistema não gera relatórios confiáveis.”
No caso dos Cmeis, Núbia informou que o número de vagas cresceu significativamente.
“Hoje temos 7.000 alunos a mais nos Cmeis. Algumas regiões precisam de 18, 30 ou até 140 vagas. Estamos acionando as conveniadas do voucher para atender essa demanda.”
Quadro de professores e uniformes
O quadro de professores também passa por dificuldades. Recentemente, 42 contratos foram encerrados e novos profissionais estão sendo chamados via processo seletivo.
“Esse processo é demorado, leva mais de um mês. Temos professores efetivos e contratados, mas em algumas unidades ainda falta servidor.”
Sobre uniformes escolares, a secretária disse que ainda não houve fornecimento neste ano, mas que isso mudará a partir de 2026.
“Estamos iniciando o processo agora, porque leva até oito meses. A gestão anterior não deixou contrato pronto. No próximo ano, vamos entregar.”

Merenda escolar e novo projeto
“Temos merenda, inclusive fizemos uma compra emergencial. Mas temos um projeto novo que vai facilitar a vida do gestor. Como ainda está em andamento, não posso divulgar detalhes. Quando der certo, prometo que vou contar.”
Escolas cívico-militares
Sobre escolas cívico-militares, Núbia afirmou que o município ainda não possui, mas há projetos em estudo.
“Temos uma proposta do prefeito, mas ainda não tive tempo de parar para ver isso. Existe uma escola no interior com esse modelo. Estamos estudando essa possibilidade.”
Expansão da rede e novo projeto educacional
A secretária destacou ainda o avanço no atendimento de crianças entre quatro e cinco anos com a oferta parcial, o que permitiu incluir mais alunos nas salas de aula.
“Colocamos muitas crianças que estavam fora da escola. Antes eram 2.500 em período integral. Agora conseguimos atender o dobro.”
Atualmente, 48 mil alunos estão matriculados nas 94 unidades municipais e 47 conveniadas. Desses, 11.204 estão na Educação Infantil, 31.509 no Ensino Fundamental I e 4.893 no Ensino Fundamental II.
Ela também falou sobre um novo projeto educacional lançado em março: “Identidade Brasileira, História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena”.
“Estamos cumprindo uma das condicionalidades do Valor Aluno Ano Resultado (VAAR) para ampliar recursos do Fundeb e promover igualdade racial. Teremos formações ao longo do ano e mostras pedagógicas em maio, agosto e uma grande culminância em setembro com participação de toda a cidade.”
A secretária destaca que há muito a ser feito, mas evita críticas diretas a gestões anteriores: “Cada um que passou por aqui fez um pouquinho. Agora é nossa vez de reorganizar tudo, levantar dados e colocar a casa em ordem”, finalizou.
Robótica na escola Sebastiana Lourenço Camilo: inovação que enfrenta desafios logísticos
O projeto de robótica da Escola Municipal Sebastiana Lourenço Camilo, localizada no Setor Vilage Garavelo ll, em Aparecida de Goiânia, tem conquistado a atenção dos alunos, mas enfrenta desafios logísticos para atingir seu pleno potencial. Iniciado em 2025 com o apoio da Secretaria de Educação, a iniciativa busca aproximar os estudantes do universo tecnológico, utilizando o espaço maker da escola para oferecer aulas extracurriculares de robótica.

De acordo com o diretor da instituição, Marcos Acácio de Souza Nogueira, a ideia do projeto foi desenvolvida em 2024, mas só agora, em 2025, foi possível concretizá-lo. “Desde o ano passado, trabalhamos com a Secretaria para otimizar o espaço maker, que é compartilhado entre a biblioteca, o espaço de criação e as aulas de robótica”, detalhou o diretor. O projeto conta com o trabalho do professor Fabiano, que vem introduzindo os alunos ao uso de ferramentas tecnológicas, sites e aplicativos educativos.
As aulas acontecem nas sextas-feiras, das 13h às 17h, no contraturno escolar, devido à impossibilidade de inserção formal da disciplina na grade curricular, que é definida pelo Ministério da Educação (MEC). Essa flexibilidade, no entanto, gera dificuldades para os pais, que enfrentam desafios logísticos para levar ou pagar transporte aos filhos. “Embora os alunos mostrem grande interesse, o transporte acaba sendo um obstáculo para muitos”, explicou Marcos Acácio.
Os alunos, por sua vez, estão animados com a proposta. “Eles ficam eufóricos”, afirmou o diretor. “As aulas práticas e a interação com o espaço maker geram grande entusiasmo”, completou. O apoio da Secretaria de Educação foi fundamental para viabilizar o projeto, que conta com equipamentos tecnológicos e a presença do professor, que foi uma solicitação da escola. No entanto, o diretor destaca a dificuldade de encontrar profissionais qualificados para a área, especialmente devido à questão salarial.
Além da robótica, o diretor enfatiza a necessidade de discutir temas como inteligência artificial nas escolas. “A IA já é uma realidade, não um futuro distante. É essencial preparar os alunos para usá-la corretamente”, disse. Ele defende uma revisão urgente na matriz curricular para incluir conteúdos relacionados à robótica, criatividade e inteligência artificial, a fim de equipar os estudantes para as demandas do mercado de trabalho.
Alunos se destacam e visualizam o futuro na robótica
Os alunos também estão empolgados com o aprendizado oferecido pelo projeto. André Luiz Vas Rodrigues, de 12 anos, do 7º ano, destaca-se pelo entusiasmo. “É uma área que me chama muita atenção e vejo como uma oportunidade para o futuro”, afirmou. Para ele, a robótica não é apenas uma diversão, mas uma chance real de desenvolvimento profissional. “Pretendo continuar estudando essa área, tenho certeza de que vai ser importante para minha vida”, disse com confiança.

Vitor Emanuel Matos da Costa, também de 12 anos, compartilha o entusiasmo de André. “Eu gosto de ver os robôs funcionando, é muito legal”, afirmou. Para ele, o curso oferece uma possibilidade de ganhar dinheiro no futuro e ajudar sua família. “A robótica é uma área que pode trazer muitas oportunidades”, concluiu.
Micaele Cristine de Souza Gojajara, de 12 anos, vê nas aulas de robótica uma chance valiosa para sua trajetória profissional. “É uma boa oportunidade para aprender sobre a área e quem sabe me tornar uma profissional no futuro”, declarou.
Projeto de robótica tem como foco a geometria e lógica de programação
O projeto de robótica, que conta com a participação do professor Fabiano Roberto Xavier, tem como objetivo inicial o ensino de geometria por meio da robótica. Com 10 anos de experiência na área, Fabiano destaca que o foco do projeto é desenvolver competências matemáticas e de lógica de programação, com vistas a prepará-los para competições como a Olimpíada Brasileira de Robótica (UBR). “Estamos selecionando os alunos com bom desempenho em matemática e lógica. Nosso objetivo é implementar o projeto na prática e, no futuro, levar os alunos para competições”, explicou.
Atualmente, o projeto conta com apenas quatro alunos inscritos, um número reduzido devido à carga horária do curso, que ocorre apenas uma vez por semana, no contraturno. Fabiano também destacou a importância de incluir temas como inteligência artificial e automação nas escolas, considerando que essas áreas já fazem parte do cotidiano dos estudantes.

Para Fabiano, o grande desafio é canalizar o interesse natural dos alunos pela tecnologia para o aprendizado de forma estruturada. “Hoje em dia, os alunos já têm uma afinidade com a tecnologia. O papel do educador é apenas orientá-los, para que esse interesse se transforme em conhecimento e habilidades para o futuro”, finalizou.
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