Justiça concede medida protetiva a funcionária da Embaixada do Zimbábue após denúncia de abusos


Mulher afirma que era vigiada, impedida de sair sozinha e obrigada a fazer massagens íntimas em conselheira da embaixada. Justiça determinou que conselheira mantenha distância da vítima, que está abrigada. Fachada da Embaixada do Zimbábue, em Brasília
Ana Lídia Araújo/g1
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) concedeu uma medida protetiva a uma funcionária da embaixada do Zimbábue após ela denunciar uma série de abusos e situações de constrangimento que teria sofrido por parte de uma ministra conselheira da missão diplomática.
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A funcionária de 27 anos, que chegou a ser dada como desaparecida, relatou ter sido submetida a jornadas de trabalho exaustivas e controle sobre a alimentação, além de ser obrigada a fazer massagens intimas na ministra conselheira (saiba mais abaixo). A jovem está abrigada em um local com endereço protegido.
O g1 fez contato com a embaixada do Zimbábue, por e-mail, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem. A reportagem também questionou o Ministério das Relações Exteriores sobre o caso, e aguarda retorno.
A medida judicial determina que a conselheira — com quem a funcionária morava — mantenha distância da vítima. Ela também está proibida de entrar em contato com a jovem “por qualquer meio”.
A decisão pela medida protetiva foi assinada na terça-feira (16), com base na Lei Maria da Penha. A juíza Bianca Fernandes Pieratti destacou que os requisitos legais para o deferimento da medida estavam presentes e que havia risco de a vítima voltar a ser exposta a situações de violência.
Relato à polícia
O g1 teve acesso ao relato da vítima à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). De acordo com o depoimento, a funcionária foi inicialmente contratada como cozinheira na residência do embaixador do Zimbábue no Brasil, Meshack Kitchen.
No entanto, passou a ser chamada com frequência para prestar serviços na casa da ministra conselheira, localizada no Lago Sul. No local, a vítima afirma que realizava massagens diárias na diplomata, inclusive em partes íntimas .
Ela também disse que vivia sob constante vigilância, sem liberdade para sair da casa quando quisesse. Segundo o relato, só podia frequentar a igreja com autorização da conselheira e precisava pedir permissão até para buscar atendimento médico.
A funcionária contou que ficou doente em três ocasiões, mas foi impedida de ir ao hospital sozinha. Em uma dessas situações, ela afirma que “escorregou, quebrou um dente e desenvolveu uma infecção que atingiu sua bochecha; que, mesmo assim, não pôde ir ao hospital, sendo posteriormente ajudada por outra pessoa da embaixada”.
A mulher também relatou que a conselheira “frequentemente a incomodava, ligando insistentemente e exigindo que estivesse disponível a todo momento, não importando o horário”. Durante o relato, a vítima ainda contou que chegou a dormir nas escadas do jardim da casa, aguardando amanhecer, porque a ministra a proibia de “entrar na residência após determinado horário”.
Desaparecimento
Polícia investiga desaparecimento de cozinheira da Embaixada do Zimbábue
No dia 9 de abril, conforme revelado pelo g1 DF, a ministra conselheira procurou a 10ª Delegacia de Polícia, no Lago Sul, para registrar o desaparecimento da funcionária.
Segundo o boletim, a conselheira estranhou quando a funcionária não apareceu para levar o café da manhã no quarto da ministra conselheira.
A funcionária foi localizada pela polícia três dias depois. Em depoimento, ela afirmou ter ingerido uma substância tóxica na noite anterior e disse que foi levada ao hospital por um motorista de aplicativo.
Ainda segundo a vítima, documentos pessoais como passaporte, carteira de identidade, cartão de febre amarela e demais comprovantes de vacinação foram deixados sobre a cama e, agora, estariam em posse da conselheira.
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