
Uma pesquisa inédita lançada nesta semana pela Aliança Nacional LGBTI+, em parceria com o Instituto Unibanco, expõe um cenário alarmante de violência e exclusão enfrentado por estudantes LGBTI+ nas instituições de ensino brasileiras. Entre os dados mais impactantes está o índice de 90% dos entrevistados que relataram ter sido vítimas de agressões verbais em 2024, sendo as formas mais comuns comentários LGBTIfóbicos direcionados à orientação sexual (83%) ou à não conformidade com padrões tradicionais de masculinidade e feminilidade (79%).
Além disso, 34% dos estudantes LGBTI+ afirmaram já terem sofrido violências físicas no ambiente escolar. Para estudantes transgêneros e travestis, a situação é ainda mais grave: 38% relataram ter sido alvos de violência física, contra 31% entre seus pares cisgêneros.
“Quando o professor ou o diretor é o agressor, é ainda pior. Porque é alguém em uma relação de poder intimidando e expulsando seu filho todos os dias daquele ambiente”, afirma a integrante da organização não-governamental Mães pela Diversidade no Distrito Federal, Elis Gonçalves.
Evasão escolar e impacto psicossocial
A violência e a insegurança nas escolas têm consequências profundas na vida dos estudantes LGBTI+. A pesquisa revela que 57% dos jovens trans perderam pelo menos um dia letivo no mês anterior ao levantamento — 15% a mais do que entre os estudantes cisgêneros. Além disso, 18% dos jovens trans relataram ter perdido seis dias ou mais de aula, enquanto essa proporção cai para 12% entre os estudantes cis.
Para especialistas, esses dados refletem não apenas questões de segurança, mas também problemas estruturais que afetam a permanência desses alunos na escola. A evasão escolar é multifatorial, mas contextos marcados por exclusão e insegurança comprometem profundamente a autoestima e o engajamento dos jovens.
O papel dos educadores e instituições
Um dado preocupante da pesquisa é que apenas 31% dos estudantes LGBTI+ que procuraram a escola após sofrer agressões relataram que alguma providência foi tomada. Pior ainda, 69% afirmam que nada foi feito para resolver a situação. Em alguns casos, os próprios educadores aparecem como responsáveis pelos atos de violência.
“A mudança estrutural não é só da escola, não é só na formação [de professores]. A mudança deve ser da estrutura da sociedade”, destacou Jaqueline Gomes de Jesus, primeira transexual a ingressar no doutorado na Universidade de Brasília (UnB), durante o lançamento da pesquisa.
Subgrupos mais vulneráveis
A investigação também evidenciou disparidades dentro da comunidade LGBTI+, mostrando que algumas populações enfrentam níveis ainda maiores de discriminação. Entre os grupos mais vitimizados estão:
- Pessoas trans/travestis (67%) : Consideradas as principais alvos de preconceito e exclusão.
- Meninos que não se encaixam nos padrões de masculinidade (59%) : Sofrem pressão social e bullying sistemático.
- Jovens negros (38%) : Apresentam maior incidência de violência física em comparação com seus pares brancos (29%).
Esses números reforçam a necessidade de políticas públicas específicas que contemplem interseccionalidades, como raça, gênero e classe social.
Iniciativas para promover inclusão
Apesar do cenário desafiador, o estudo destaca iniciativas que podem contribuir para tornar as escolas mais acolhedoras. Atividades educativas, como palestras, rodas de conversa e debates sobre diversidade, são apontadas como ferramentas cruciais para conscientização. No entanto, há lacunas significativas nesse campo: apenas 46% dos estudantes LGBTI+ se sentem confortáveis em discutir essas temáticas na escola.
Outro ponto crítico é a presença de profissionais de psicologia nas instituições de ensino. Embora haja alta demanda por esse tipo de suporte, apenas 39% dos entrevistados afirmaram que esses profissionais estão disponíveis em suas unidades de ensino.
Rumo a uma educação inclusiva
Os resultados da pesquisa lançam luz sobre um problema histórico e sistêmico que afeta diretamente a vida de milhares de jovens brasileiros. Para especialistas, a solução passa por transformações profundas, tanto nas práticas pedagógicas quanto nas políticas públicas voltadas para a educação.
“Nós estamos dando elementos e evidências para serem trabalhados nas escolas. Vamos ter uma escola protegida, uma escola democrática, uma escola em que todo mundo possa conviver harmonicamente”, declarou Toni Reis, coordenador da Aliança Nacional LGBTI+.
Garantir que todas as crianças e jovens tenham acesso a um ambiente escolar seguro e respeitoso não é apenas um dever ético, mas também uma condição essencial para construir uma sociedade mais justa e igualitária.
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