Conexões entre a anistia e Glauber Braga

Por Rudolfo Lago – Correio da Manhã

Embora tenha dito que ao final seguirá a posição que for definida pelo seu partido, não foi de graça que o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), disse ser contra a cassação do deputado Glauber Braga (Psol-RJ), em greve de fome há quase uma semana. Há aí uma evidente troca de compaixões.

Ao demonstrar solidariedade a Glauber, Sóstenes busca trazer comoção também para os casos dos que foram condenados e presos pelos atos do dia 8 de janeiro de 2023. Quem for implacável com o 8 de janeiro gera como reação ser implacável com Glauber, e vice-versa. É evidente que não há equivalência de pesos e medidas nos dois casos. Mas essa é claramente parte da estratégia a essa altura. Que, pelo lado do Psol, tem também outra estratégia.

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Antes de Glauber, há Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), acusado de ser um dos mandantes do assassinato de Marielle Franco. Todos os casos estão totalmente conectados. E essa a encalacrada do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).

Não é por outra razão que Motta resolveu remeter a questão da anistia ao Colégio de Líderes. Os demais deputados é que terão de decidir o que farão em todos esses casos. O que está em jogo é a régua que o Legislativo usará para definir os limites da própria democracia.

Em 1949, o primeiro deputado cassado, Barreto Pinto, perdeu seu mandato porque posou de cuecas para uma fotografia. Por essa régua, talvez não houvesse discussão sobre o destino de Glauber Braga. Mas a verdade é que situações semelhantes aos chutes dados por Glauber já se repetiram sem punição. Já houve até um senador, José Kairala, assassinado dentro do plenário, vítima de um tiro desferido por outro senador, Arnon de Mello, pai do ex-presidente Fernando Collor. Aí entra a estratégia de Sóstenes: por que esse tipo de permissividade entre os próprios parlamentares deve ser trocada pelo rigor no 8 de janeiro?

É, talvez, uma compaixão de conveniência. Afinal, o alvo central de toda a discussão sobre anistia, o ex-presidente Jair Bolsonaro, é alguém que já disse que o problema do país não ter matado “uns 30 mil” na ditadura. É legítimo dizer que seriam uns “30 mil Glaubers”.

Profundo conhecedor dos humores do Congresso, onde já fez diversas pesquisas com parlamentares, o cientista político Ricardo de João Braga, está mais convencido que a saída para o impasse da anistia virá mesmo pela discussão com relação às penas.

“Faz sentido o PL barganhar com Glauber, mas não sei até que ponto isso evolui pela posição no caso de Arthur Lira”, considera Ricardo. Atribuiu-se ao ex-presidente da Câmara a situação de Glauber Braga: a cassação do mandato seria uma retaliação articulada por ele.

Assim, como principal comandante do Centrão, um alívio para Glauber teria que eventualmente passar por ele. “Hugo Motta tem um problema para resolver, e a solução deverá passar por um acordo”, avalia. Se chegará ou não a Bolsonaro, é outra questão.

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