
Pesquisa, que se baseia em 15 anos de dados coletados em 22 áreas protegidas no Brasil e em outros três países, foi publicada na revista científica holandesa Biological Conservation. Estudo inédito estima existência de mais de 6,3 mil onças-pintadas em áreas protegidas da Amazônia.
Instituto Mamirauá
Pesquisadores conseguiram estimar a população de onças-pintadas em áreas protegidas da Amazônia, revelando a presença de mais de 6,3 mil desses felinos no bioma. O estudo, baseado em 15 anos de dados coletados em 22 áreas protegidas no Brasil e em outros três países, foi publicado na revista científica holandesa Biological Conservation.
As informações foram obtidas por meio de câmeras de movimento instaladas nas matas, que permitem o monitoramento remoto das onças-pintadas. As imagens capturadas pelas câmeras são fundamentais para o estudo, pois cada onça possui um padrão único de manchas, semelhantes a impressões digitais nos seres humanos.
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O biólogo e primeiro autor do artigo, Guilherme Costa Alvarenga, explicou que as manchas nas pelagens das onças ajudam na identificação individual dos animais.
“Essas pintas, essas rosetas, servem como impressões digitais nos seres humanos. Então, cada indivíduo de onça-pintada tem um padrão único”, afirmou.
O estudo, que envolveu a colaboração de 23 organizações científicas, como o WWF Brasil e o Instituto Mamirauá, também forneceu dados sobre a densidade populacional dessas onças nas áreas analisadas. A média geral encontrada foi de cerca de 3,08 onças por 100 km², com variações significativas entre as regiões.
Na Reserva Biológica de Cuieiras, no Amazonas, a densidade foi bem mais baixa, com cerca de 0,6 onça por área territorial. Já na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, a densidade foi bem maior, com aproximadamente 10 onças por 100 km², mesmo com a floresta submersa durante boa parte do ano.
O líder do Grupo de Ecologia e Conservação de Felinos da Amazônia, Jorge Menezes, destacou que a presença de tantas onças em uma área com tantas dificuldades naturais, como o alagamento da floresta, é um fato surpreendente.
“Esse é um dos poucos lugares em que a onça é forçada a viver num ambiente que é alagado quase seis meses por ano. É surpreendente, quase exótico, o fato de que um lugar que apresenta todas essas dificuldades para a onça também é um lugar que tantos indivíduos conseguiram vencer essa barreira”, disse.
De acordo com os pesquisadores, a principal razão para a diferença na concentração de onças em diferentes territórios está na quantidade de alimentos disponíveis. Como predadores de topo na cadeia alimentar, as onças-pintadas desempenham um papel regulador essencial nos ecossistemas.
Alvarenga também destacou que as áreas protegidas e das terras indígenas é importante para a conservação dessas espécies.
“A Amazônia é coberta por 54, 55% de área protegida e terra indígena. Então, se num pedacinho tão pequeno a gente conseguiu mostrar que tem tanta onça, você imagina o papel importantíssimo que as áreas protegidas e as terras indígenas têm para a proteção dessa espécie e, por consequência, de toda a biodiversidade que está debaixo desse guarda-chuva. Se o predador de topo está presente, é um bom indício de que todos os outros abaixo também estarão”, concluiu.
Estudo inédito estima existência de mais de 6,3 mil onças-pintadas em áreas protegidas da Amazônia.
Instituto Mamirauá