A fraude no Equador e a “retomada do quintal”

Dois dias depois de o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, anunciar explicitamente que os EUA iriam “retomar o seu quintal”, referindo-se à América Latina e o Caribe, uma fraude escandalosa na eleição presidencial do Equador (13/04) impede a vitória da candidata da Revolução Cidadã, Luiza Gonzalez, em favor do extremista de direita, Daniel Noboa. E uma coisa está claramente ligada à outra.

Noboa não é o primeiro representante de uma oligarquia a aceitar vender os interesses do seu país para uma potência estrangeira. Trânsfugas como ele sempre existiram e existirão.

Daniel Noboa anunciou, orgulhoso, durante uma viagem à Flórida, um convênio com o grupo de mercenários americanos “Blackwater”, que agora poderá atuar em solo equatoriano. Este grupo ficou tristemente famoso por torturar e assassinar civis durante a ocupação americana no Iraque.

Nesta mesma ocasião, no dia 1º de abril, portanto duas semanas antes das eleições, o fascista equatoriano foi recebido pelo fascista de Washington e entregou para Trump a ilha de Galápagos – patrimônio natural da humanidade, segundo a UNESCO – para que os EUA instalem uma base militar. Tal acordo, além de destruir uma área de preservação ambiental muito valiosa, viola frontalmente a Constituição equatoriana que proíbe expressamente “ceder bases militares nacionais a forças armadas ou de segurança estrangeiras”.

Isso não importa para Noboa que ignorou igualmente a obrigação constitucional de se licenciar para concorrer a um novo mandato. Permaneceu olimpicamente no posto.

As instituições equatorianas (justiça, aparelho policial e militar) estão ocupadas majoritariamente pela extrema-direita e não houve para Noboa qualquer consequência legal, mesmo diante de violações flagrantes da Constituição.

Foi com essa “licença” tácita que Noboa – que tinha como um dos itens principais de campanha a construção de mais presídios – decretou estado de exceção em 7 províncias e na capital, Quito, um dia antes das eleições.

Com a fraude consumada, Donald Trump imediatamente parabenizou sua marionete de forma efusiva.

Registre-se que o partido Revolução Cidadã, mesmo tendo sofrido derrotas nos últimos pleitos presidenciais, jamais contestou os resultados desfavoráveis. Desta vez, no entanto, é impossível não lutar contra um roubo descarado.

Será, sem dúvida, uma luta difícil, pois não é preciso ser adivinho para vaticinar que eventuais protestos de rua serão violentamente reprimidos com base no estado de exceção, previamente convocado para abafar a previsível revolta.

Para piorar, mesmo líderes situados no campo progressista, como o presidente do Chile, Daniel Boric, parabenizaram Noboa pela reeleição, o que é um reconhecimento da legitimidade de sua “vitória”.

Lembrando que o mesmo Boric colocou em dúvida a reeleição (essa sim, legítima) do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, mas corre apressado para reconhecer uma eleição evidentemente fraudada por um extremista de direita, capacho do imperialismo.

O Brasil, até o momento em que termino de escrever esta Súmula, não se pronunciou a respeito.

Penso que deveria, pois em relação ao “quintal” que Trump deseja voltar a abocanhar, o Equador é apenas um aperitivo, e o Brasil, o prato principal.

Nota de atualização: Minutos depois da publicação da Súmula, o governo brasileiro divulgou uma nota saudando a eleição de Noboa: “Saúdo o povo equatoriano e o presidente reeleito, Daniel Noboa, pelas eleições de domingo, 13 de abril. O Brasil seguirá trabalhando com o Equador em defesa do multilateralismo, pela integração sul-americana e o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República“.

Financial Times: Guerra tarifária contra China é “benção” para Brasil

BBC informa, baseando-se em texto de um dos mais importantes jornais burgueses de negócios e finanças do mundo, o Financial Times (FT), que a escalada da guerra tarifária entre Estados Unidos e China teve um efeito positivo na América do Sul, mais especificamente no Brasil: o aumento das taxas entre as duas maiores economias do mundo deu novo impulso ao setor agrícola brasileiro e já prejudica o agro americano.

A reportagem foi publicada pelo jornal britânico Financial Times na edição de domingo (13/4), reporta a BBC.

A matéria destaca como China e União Europeia olham cada vez mais para o Brasil como uma “opção estável” de bens alimentícios, como soja, aves e carne bovina.

O analista de agricultura Isham Bhanu foi entrevistado pela reportagem e declarou que a guerra tarifária representa uma “benção” para Brasil e também para a Argentina.

Os países asiáticos vão buscar relações ainda melhores com a América do Sul“, antevê ele.

Esse fato tem gerado repercussões entre o setor agropecuário americano. O FT aponta que Caleb Ragland, presidente da Associação Americana de Soja, publicou uma carta aberta pedindo que Trump faça um acordo “urgente” com a China.

A reportagem aponta que a participação dos EUA nas importações de comida pela China caiu de 20,7% em 2016 para 13,5% em 2023. Nesse mesmo período, a fatia brasileira pulou de 17,2% para 25,2%.

No entanto, os Estados Unidos ainda possuem uma vantagem competitiva em relação ao Brasil: a infraestrutura.

Mas especialistas consultados para a matéria apontam que a guerra tarifária pode levar a um aumento de investimentos estrangeiros na logística brasileira, justamente para facilitar esse transporte de alimentos para outras partes do mundo.

Bernie Sander: “Já vivemos, nos EUA, em uma sociedade oligárquica”

O senador Bernie Sanders (independente de Vermont) e a deputada Alexandria Ocasio-Cortez (democrata de Nova York) foram ovacionados pela multidão durante o evento “Combatendo a Oligarquia” em Los Angeles / Foto: Jae Hong-AP

O jornal do Partido Comunista dos EUA, People’s World (O Mundo do Povo), continuador do histórico Daily Worker (Diário do Trabalhador), fundado em 1924, publicou, nesta segunda-feira (14), um artigo exaltando o papel do senador independente Bernie Sanders, que vem liderando uma turnê por todo o país intitulada: “Combatendo a Oligarquia: Para Onde Vamos Agora”, onde o veterano parlamentar denuncia de forma veemente o governo de Donald Trump. Leia os principais trechos da reportagem:

Bernie Sanders está novamente em campanha, assumindo com destaque a liderança da oposição a Donald Trump, num papel que outros parlamentares têm evitado. E as pessoas — dezenas de milhares delas, de costa a costa — estão respondendo.

A prova mais recente disso ocorreu em 12 de abril, em Los Angeles. Sanders, senador independente de 83 anos por Vermont e um dos mais antigos e consistentes defensores dos trabalhadores no Congresso, reuniu cerca de 60 mil pessoas no centro de L.A., segundo a Polícia de Los Angeles — que não é conhecida por inflar estimativas de público.

Sanders está em campanha há meses, atraindo multidões imensas – inclusive em estados conservadores – compostas por pessoas indignadas com a destruição, por parte do presidente Trump, de programas e políticas importantes para a população. Sua parceira frequente na turnê ‘Combatendo a Oligarquia: Para Onde Vamos Agora’ é a deputada Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York, uma voz progressista combativa do Bronx. Ambos declaram que os EUA estão sob o domínio de uma oligarquia.

Diante das devastações impostas ao país pelo presidente republicano e seu parceiro bilionário, Elon Musk, retratado como um operador impiedoso, Sanders e seus aliados estão mobilizando o povo para reagir nas ruas.

‘Vivemos em um momento em que um punhado de bilionários controla a vida econômica e política do país (…) Não estou mais falando sobre como estamos caminhando para uma oligarquia. Estou dizendo que já vivemos hoje em uma sociedade oligárquica’, disse Sanders, encerrando um comício em Los Angeles que durou cinco horas e contou com apresentações de Joni Mitchell, Neil Young e Joan Baez — todos artistas progressistas históricos —, além de Ocasio-Cortez e o deputado Ro Khanna, da Califórnia.

‘Se estamos aqui para derrotá-lo’ — disse Ocasio-Cortez à multidão, referindo-se a Trump — ‘então precisamos derrotar o sistema que o criou. O dinheiro na política é a mão da oligarquia.’

‘A sensação de a água subir até nossas gargantas, a impossibilidade de comprar qualquer coisa com facilidade, o medo de falar, a divisão profundamente amarga e tóxica impulsionada mais por algoritmos das redes sociais do que pelo pensamento individual, a erosão de nossos direitos e proteções — entendam: é isso que significa e como se sente ser governado por bilionários’, acrescentou Ocasio-Cortez.”

“Minha loucura, outros que me a tomem / Com o que nela ia. / Sem a loucura que é o homem / Mais que a besta sadia, / Cadáver adiado que procria?”

 Trecho do poema de Fernando Pessoa, “D. Sebastião Rei de Portugal”

O post A fraude no Equador e a “retomada do quintal” apareceu primeiro em Vermelho.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.