Um tênue fio de esperança

Por Marlos Porto*

Inadmissível a morte de um ambulante por policiais de São Paulo. O vídeo divulgado na mídia nacional mostra que ele usa uma barra de ferro para se defender de agressões de policiais com cassetetes, e não é nesse momento que ele é baleado, mas depois, quanto tenta se retirar com suas mercadorias em uma carroça.

Vergonhosamente, a polícia paulista, sob a batuta trágica de Tarcísio, parece ter ignorado completamente no caso em tela a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica, instituída pela Lei Federal nº13.874/2019, do governo Jair Bolsonaro (uma das melhores normas do seu governo, assim como a lei de abuso de poder).

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O senegalês Ngange Mbaye, de 34 anos (que deixa uma companheira brasileira grávida de sete meses), morto na tarde do dia 11 de abril de 2025 na Rua Joaquim Nabuco, no Brás, em São Paulo, não estava vendendo sentenças, não estava vendendo emendas parlamentares nem vendendo patrimônio público a preço de banana. Decididamente, Mbaye não merecia morrer.

Na Tunísia, em 2010, o ambulante Muhammad Bouazizi se imolou em praça pública após uma situação parecida, em que fiscais apreenderam suas mercadorias. Isso desencadeou protestos maciços no país, que resultaram na queda do governo em Túnis, no que ficou conhecido como o início da Primavera Árabe.

Não posso deixar de expressar um fio tênue de esperança de que a trágica morte de Mbaye leve nosso povo a protestar dura, mas pacificamente, contra os mais variados descalabros existentes nos três níveis federados e nos três poderes, como alerta para que cessem as injustiças e os crimes cometidos nas diversas esferas de poder pelo país afora. Esperança de que neste outono surja a nossa Primavera Brasileira.

E se dizem que o esquecimento é pior que a morte, que o sagrado vulto do grande Joaquim Nabuco, cuja memória foi manchada pelo sangue de um inocente derramado em uma rua que leva seu nome, se erga sobranceiro sobre as mentes e os corações de nossos concidadãos, para que não deixem esse caso se tornar mais uma página morta do livro das iniquidades impunes, que são, aos borbotões, esquecidas nas catadupas das sucessivas tragédias nacionais.

*Bacharel em Direito

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