
O presidente da China, Xi Jinping, desembarcou nesta segunda-feira (14) em Hanói para uma visita de Estado que marca o início de uma ofensiva diplomática chinesa no Sudeste Asiático. A viagem ocorre em meio à escalada da guerra tarifária entre Pequim e Washington, intensificada após o governo Trump elevar para 145% as tarifas sobre importações chinesas.
Em resposta, a China anunciou tarifas de 125%, suspendeu exportações de minerais críticos e iniciou uma estratégia de fortalecimento de alianças regionais.
Xi foi recebido no aeroporto por autoridades vietnamitas de alto escalão, incluindo o presidente Luong Cuong. Em declaração escrita, Xi celebrou sua quarta visita ao Vietnã e afirmou que China e Vietnã formam “uma comunidade com futuro compartilhado de importância estratégica”.
O gesto simbólico foi reforçado por dezenas de acordos assinados, como memorandos de cooperação em cadeias produtivas, infraestrutura ferroviária, segurança pública, tecnologias verdes e inteligência artificial.
Em artigo publicado no jornal oficial vietnamita Nhan Dan, Xi reiterou que “guerras comerciais e tarifárias não têm vencedores” e defendeu uma “globalização econômica benéfica e inclusiva”. Segundo o presidente chinês, o mundo vive uma “transformação turbulenta” e os países asiáticos devem aprofundar sua integração frente às “forças do unilateralismo e do protecionismo”.
Ele também conclamou os vizinhos a fortalecerem cadeias regionais de valor, promoverem a modernização compartilhada e apoiarem a multipolaridade.
A retórica foi acompanhada de ações concretas. Segundo a Reuters, foram assinados mais de 40 acordos entre China e Vietnã, incluindo cooperação em ferrovias (como a linha entre Haiphong e a fronteira chinesa), energia limpa, agricultura, turismo, e o reconhecimento recíproco de certificados de origem para exportações.
A VietJet, uma companhia aérea vietnamita de baixo custo, também firmou um memorando com a chinesa COMAC para uso de aviões C909 em rotas domésticas, uma vitória simbólica para a indústria aeroespacial chinesa.
A visita, contudo, não ocorre em terreno neutro. O Vietnã é hoje um dos principais destinos de indústrias que migram da China para evitar tarifas dos EUA. Ao mesmo tempo, Hanói é alvo de tarifas de 46% por parte de Washington, o que levou o governo vietnamita a intensificar negociações com os EUA.
Delegações foram enviadas a Washington oferecendo abertura total às importações norte-americanas e promessas de repressão à reetiquetagem de produtos chineses como “Made in Vietnam”.
Esse contexto impõe uma diplomacia de equilíbrio. Hanói tenta tirar proveito das disputas sino-americanas sem romper com nenhum dos lados. Xi busca se apresentar como um parceiro estável diante das flutuações da agenda “América Primeiro” de Trump. A China, por sua vez, não apenas se contrapõe às tarifas norte-americanas, como também bloqueou a exportação de minerais de terras raras e imãs industriais, essenciais para a indústria automobilística, militar e de semicondutores global.
Os acordos com o Vietnã também incluem cooperação ferroviária estratégica: Pequim pressiona para avançar com projetos financiados por empréstimos chineses, como a ferrovia de bitola padrão entre Guangxi (China) e Haiphong (Vietnã), rota que pode reduzir a dependência das cadeias logísticas impactadas pelas tarifas. Outro aceno simbólico veio da decisão de Hanói de reconhecer a autoridade da aviação civil chinesa, abrindo caminho para operação regular dos aviões COMAC na região.
Apesar da cordialidade, disputas persistem, como no Mar do Sul da China, onde os dois países têm reivindicações sobre áreas estratégicas. Xi propôs maior “cooperação marítima” e a “gestão apropriada das diferenças”, mas não houve menção direta do lado vietnamita. A visita ocorre no ano em que se celebram os 75 anos de relações diplomáticas entre os dois países e o “Ano dos Intercâmbios Culturais China-Vietnã”.
Xi Jinping ainda visitará a Malásia e o Camboja. Segundo o Guardian, Pequim pretende usar a viagem para se apresentar como potência responsável, contrastando-se com os EUA. Em conversa com o presidente espanhol Pedro Sánchez, Xi declarou que a China e a União Europeia devem “se opor conjuntamente a atos unilaterais de intimidação”.
Em declaração mais incisiva, o ministério do Comércio chinês disse que os EUA devem “cancelar completamente as tarifas retaliatórias e voltar ao caminho certo do respeito mútuo”.
A viagem de Xi Jinping ao Vietnã representa mais do que uma visita de Estado: é uma investida geoestratégica em meio a uma nova fase da guerra comercial. Enquanto os EUA endurecem suas políticas tarifárias e pressionam seus aliados, a China busca se reposicionar como líder confiável, defensora do multilateralismo e promotora do desenvolvimento regional.
Com dezenas de acordos firmados, gestos simbólicos e uma retórica centrada na estabilidade e cooperação, Xi reforça sua imagem de estadista diante de um mundo em reconfiguração. Resta saber se seus gestos serão suficientes para conter o avanço do protecionismo norte-americano ou se os países do Sudeste Asiático, como o Vietnã, conseguirão manter seu delicado equilíbrio entre as duas maiores potências do planeta.
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