Marina Silva é derrotada e aliado de Heloísa Helena vai comandar Rede Sustentabilidade

Do jornal O Globo

Pela terceira vez consecutiva, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, saiu derrotada do Congresso Nacional da Rede Sustentabilidade. No 6º encontro do partido, realizado neste fim de semana em Brasília, seu aliado Giovanni Mockus perdeu a eleição interna para o grupo liderado por Heloísa Helena. O secretário de Relações Institucionais de Belo Horizonte, Paulo Lamac, foi eleito o novo porta-voz da legenda hoje.

Em entrevista ao GLOBO, Lamac afirmou receber o resultado com “grande responsabilidade” e prometeu trabalhar pela unidade da sigla, marcada por disputas internas nos últimos anos entre os grupos de Heloísa e Marina:

— É um compromisso firmado pela união. Todos vão se empenhar. Essas questões internas são menores diante do trabalho da Rede e das bandeiras que defendemos — disse Lamac.

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O período que antecedeu o congresso foi conturbado. A ala ligada a Marina chegou a judicializar o processo, pedindo a suspensão do pleito, mas a liminar foi derrubada na quinta-feira à noite, horas antes do início do evento.

A votação deste domingo evidenciou a força da chapa “Rede pela Base”, de Lamac, que recebeu 76% dos votos dos delegados. A chapa “Rede Vive”, apoiada por Marina Silva, obteve 24%. A derrota amplia a percepção de fragilidade da ministra dentro da legenda que fundou. Antes do resultado, a ministra se defendeu das críticas:

— Se quiserem decretar que eu sou personalista, decretem. Deus sabe que eu não sou.

Nos últimos meses, a Rede enfrentou disputas judiciais em pelo menos cinco estados — Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Espírito Santo — onde aliados de Marina apontaram irregularidades, como filiações supostamente feitas sem consentimento. Essa é a principal justificativa usada por seu grupo para explicar o resultado adverso.

O caso mais emblemático ocorreu na Bahia, onde duas convenções paralelas foram realizadas. A ala de Marina ocupou o espaço originalmente reservado, enquanto o grupo de Heloísa se reuniu no saguão do hotel. Em meio ao impasse, um aliado de Heloísa chegou a incitar vaias à ministra, que não estava presente.

A disputa entre Marina Silva e Heloísa Helena expõe uma divisão histórica no diretório nacional da Rede. As divergências entre as duas líderes remontam a 2022 e refletem visões distintas sobre o futuro ideológico do partido. Marina defende uma linha “sustentabilista progressista”, que busca conciliar preservação ambiental com o modelo capitalista. Já Heloísa é adepta do “ecossocialismo”, que prega a transformação do sistema econômico como caminho para a justiça ambiental.

Outro ponto de tensão é a relação com o governo federal. Marina compõe a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministra do Meio Ambiente, enquanto Heloísa mantém uma postura crítica ao PT desde 2003, quando foi expulsa do partido por se opor à reforma da Previdência no primeiro mandato de Lula.

Fundada por Marina Silva em 2013, a Rede inicialmente não se alinhava nem ao governo nem à oposição. Em 2014, lançou Marina como candidata à Presidência pelo PSB. Após ficar fora do segundo turno, ela apoiou Aécio Neves (PSDB) contra a então presidente Dilma Rousseff (PT), o que ainda hoje gera críticas internas. Durante o congresso, militantes da chapa “Rede Pela Base” puxaram o coro: “A Rede que eu quero não votou no Aécio”.

Em contrapartida, aliados de Marina gritaram “Glauber Fica”, em alusão ao deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), que sofre um processo de cassação na Câmara. Heloísa Helena é sua suplente.

A entrada de Heloísa Helena na legenda, em 2015, e sua eleição como porta-voz em 2021 marcaram a ascensão da ala mais à esquerda dentro do partido. A divergência sobre os rumos da política ambiental, tema central para a Rede, tem acentuado o racha interno — agora cristalizado com a nova derrota de Marina.

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