Com terras raras, Goiás pode estar no centro da transição energética do Brasil

Em meio à crescente demanda por minerais críticos impulsionada pela transição energética e avanços tecnológicos, Goiás emerge como um polo estratégico na produção de terras raras, essenciais para tecnologias como veículos elétricos e turbinas eólicas. Com um dos maiores depósitos de terras raras fora da Ásia, o estado brasileiro desponta no cenário global como peça-chave para a produção de tecnologias sustentáveis, especialmente aquelas voltadas para o uso de energia limpa. 

O depósito da Serra Verde, em Minaçu, no Norte goiano, já é considerado estratégico para a cadeia mundial de superímãs, essenciais na fabricação de motores de veículos elétricos, turbinas eólicas e outros equipamentos de alta performance. Com uma produção anual prevista de 5 mil toneladas de óxido de terras raras até 2026, estima-se que o investimento realizado até agora tenha ultrapassado R$ 760 milhões. 

O Brasil, conforme o Ministério de Minas e Energia (MME), possui a terceira maior reserva de terras raras do mundo, com um total de 21 milhões de toneladas. Essas reservas estão distribuídas entre os estados da Bahia, Goiás e Minas Gerais, com projetos mapeados, além de estarem presentes no Amazonas, Rio de Janeiro, Roraima e São Paulo. No entanto, conforme o levantamento do MME e do jornal Estadão, apesar das vastas reservas, a produção brasileira ainda é incipiente, representando apenas 0,02% da produção mundial, conforme dados de 2023.​

A corrida global pelos chamados “minerais críticos”, que também inclui cobre, lítio e níquel, está diretamente ligada à transição energética e ao avanço tecnológico de setores estratégicos. Esses materiais são indispensáveis na produção de baterias, veículos elétricos, painéis solares, turbinas eólicas, trens de alta velocidade, entre outros. Os elementos químicos que compõem as terras raras — como cério, neodímio, térbio e disprósio — são amplamente utilizados em produtos do cotidiano, como celulares, telas de televisão, equipamentos médicos e dispositivos de defesa nacional.

No contexto geopolítico, a crescente importância desses insumos acirra disputas comerciais entre potências, como ficou evidente quando o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cogitou o uso de força militar para garantir o controle da Groenlândia, rica em reservas minerais estratégicas.

Em meio a esse cenário de tensão internacional e oportunidades bilionárias, Goiás surge como um dos principais pontos de atenção no mapa mineral brasileiro.  A operação da Serra Verde Pesquisa e Mineração é, atualmente, a primeira e única fora da Ásia capaz de extrair os quatro elementos magnéticos de terras raras — um feito relevante em uma cadeia produtiva até então dominada pela China. A empresa iniciou suas atividades em 2024, com produção comercial de concentrado mineral contendo neodímio (Nd), praseodímio (Pr), térbio (Tb) e disprósio (Dy), todos indispensáveis à transição energética.

A importância da produção em Minaçu vai além dos números. A Serra Verde está a caminho de se tornar a terceira maior produtora mundial de elementos de terras raras, com potencial para dobrar sua capacidade produtiva até 2030. A estimativa é de que a planta goiana atinja uma produção anual de 5 mil toneladas de óxidos de terras raras — suficiente para abastecer indústrias globais de tecnologia e energia limpa. Mais do que isso: a empresa adota práticas sustentáveis, com destaque para o uso de energia 100% renovável, técnicas de mineração de baixo impacto e ausência de reagentes químicos perigosos no processo de separação mineral.

Outro avanço promissor em Goiás vem do município de Nova Roma, onde a Aclara Resources, do grupo Hochschild Mining, planeja investir cerca de R$ 2 bilhões na produção de terras raras em argilas iônicas. O projeto batizado de “Módulo Carina” já realizou 238 furos de perfuração, totalizando 1.693 metros, e descobriu um novo elemento pesado de terras raras (HREE). A área mapeada, com cerca de 1,4 mil hectares, possui potencial de expansão lateral e reforça a diversidade mineral do estado.

Além da Aclara, a canadense Appia Rare Earths & Uranium Corp. também confirmou planos de investir R$ 550 milhões em Goiás nos próximos quatro anos.

Entre os estados com mais potencial para transições verdes, está Minas Gerais (com 13 projetos mapeados), Bahia (12) e Pará (10), Goiás se consolida entre os nove estados brasileiros com maior número de iniciativas voltadas à mineração de minerais críticos. De acordo com o Guia para o Investidor Estrangeiro em Minerais Críticos, publicado pelo MME em março deste ano, ao todo 48 projetos estão em andamento no país.

Leia também:

Bolsonaro é submetido a nova cirurgia em Brasília para tratar obstrução intestinal

Fazendeiro se irrita com avião sobrevoando sua propriedade, atira contra ele e é preso, em Goiás

O post Com terras raras, Goiás pode estar no centro da transição energética do Brasil apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.