Quem é Daniel Noboa, que tenta a reeleição no Equador


Segundo turno das eleições presidenciais ocorre neste domingo. Noboa disputa com Luisa González, de esquerda. Ambos estão em empate técnico nas pesquisas. Daniel Noboa em comício em Quito, no Equador
Santiago Arcos/Reuters
Com discursos curtos, um olhar firme e sempre cercado por um forte esquema de segurança, o presidente Daniel Noboa disputa a reeleição no Equador com o compromisso de dobrar a aposta para enfrentar um narcotráfico audacioso.
Do alto de um tanque de guerra vestindo colete e capacete à prova de balas, Noboa lança advertências aos criminosos nas áreas mais perigosas do país. Outras vezes, aparece no Instagram com roupas esportivas, guitarra acústica e cantarolando em inglês uma música dos Goo Goo Dolls.
Neste sábado (12), ele decretou estado de exceção em sete de suas 24 províncias. A medida, que abrange a capital, Quito, e todo o sistema prisional do país, foi adotada devido ao aumento da violência causada pelo tráfico de drogas. A decisão é válida por 60 dias.
Com pouca experiência política, Noboa se tornou, aos 35 anos, o presidente mais jovem da história do Equador. Mas “nada se resolve em um ano”, repete o chefe de Estado, hoje com 37 anos, com a aspiração de permanecer no poder com suas políticas de linha-dura contra as máfias.
Os narcotraficantes “nunca imaginaram que eu teria colhões para declarar guerra contra eles”, disse à revista New Yorker em junho.
Se conseguir se reeleger para mais quatro anos, quebrará pela segunda vez a escrita do pai, um empresário do setor bananeiro, que tentou, sem sucesso, chegar à Presidência em cinco ocasiões.
Nascido nos Estados Unidos e formado em prestigiosas universidades estrangeiras, Noboa foi eleito para completar até maio o mandato de Guillermo Lasso. O ex-presidente dissolveu o Congresso e abriu o caminho para a realização de eleições antecipadas para fugir da destituição em um julgamento político por corrupção.
Noboa é sommelier, quis ser músico quando era mais jovem, tentou ser vegetariano, coleciona pimentas e é apaixonado por carros, cavalos e guitarras, segundo familiares próximos.
Embora seja um dos presidentes mais populares da América Latina, as pesquisas mais recentes preveem um segundo turno acirrado contra a esquerdista Luisa González, herdeira política do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017).
Militares na véspera da eleição presidencial no Equador
Karen Toro/Reuters
Mais soldados
Atlético e tatuado, Noboa evita se expor em palanques, coletivas de imprensa e entrevistas, mas distribui abraços e selfies por onde passa.
Acumulou apoios com uma ofensiva contra o narcotráfico, que incluiu o envio de militares às ruas e dentro das prisões, onde exibiu presos seminus, o que lhe rendeu comparações com o Nayib Bukele, presidente de El Salvador.
Também tem sido criticado por organizações de defesa dos direitos humanos por abusos da força pública durante os prolongados estados de exceção, como o deste sábado, e pela declaração de conflito armado interno.
Quatro meninos foram assassinados e tiveram seus corpos carbonizados em Guayaquil (sudoeste), em um caso envolvendo 16 militares.
Tentativa de proximidade com Trump
Na reta final da campanha, tem buscado o apoio do presidente americano, Donald Trump, na luta contra o crime e não descarta a volta de bases militares estrangeiras, hoje proibidas por lei.
Além disso, anunciou uma aliança com Erik Prince, fundador da empresa americana de segurança Blackwater, cujos funcionários mataram e feriram dezenas de civis no Iraque.
“Precisamos de mais soldados para lutar nesta guerra (…) Setenta por cento da cocaína mundial sai pelo Equador, precisamos da ajuda das forças internacionais”, disse à BBC.
Sua relação com os governos de esquerda é tensa. Rompeu laços diplomáticos com o México após ordenar uma incursão policial na embaixada do país em Quito para capturar o ex-vice-presidente correísta Jorge Glas, condenado por corrupção.
Noboa afirma ter diminuído a taxa de homicídios do recorde de 47 por 100.000 habitantes em 2023 para 38 por 100.000 em 2024.
“Nós não somos uma promessa. Nós somos uma realidade”, afirmou.
Em 2024, o Equador foi o país da América Latina que registou o maior número de homicídios proporcionalmente à sua população, segundo o ‘think tank’ Insight Crime.
Jovem influencer
Noboa se define como de centro-esquerda, mas venceu com o apoio de parte da direita e adota uma política econômica neoliberal –na prática, um governo de centro-direita.
Nas redes sociais, mostra-se próximo das pessoas e se apresenta como um católico devoto.
Pessoas próximas dizem que é um homem de rotina e disciplina: segue uma dieta balanceada, corre até 10 km por dia, toma shakes de proteína e poucas vezes dorme tarde.
O círculo íntimo de Noboa é formado por amigos do colégio e alguns deles fazem parte de sua equipe de trabalho.
Nos comícios, seus seguidores fazem fila para conseguir uma das muitas imagens do presidente em tamanho real, distribuídas em todo o país.
Com os braços cruzados, de bermudas ou uma roupa informal, estas figuras têm sido usadas pela oposição para chamá-lo de “presidente de papelão”.
Noboa é casado com Lavinia Valbonesi, uma influenciadora de 26 anos, mãe de dois de seus três filhos.
Sua ex-esposa, Gabriela Goldbaum, o acusou perante o Congresso de machismo e violência vicária (praticada contra terceiros para atingir a mulher), ao usar a filha que os dois têm em comum para lhe causar “dor”. A empresária diz ter apresentado dezenas de ações contra ele por impedi-la de se comunicar com a menina de cinco anos, entre outros abusos.
Esta não é a única denúncia contra Noboa: a vice-presidente Verónica Abad, eleita juntamente com ele na chapa vencedora em 2023, o acusa de violência de gênero por suas tentativas para afastá-la do cargo.
Eleição no Equador: Presidente Daniel Noboa disputará segundo turno com a candidata da esquerda Luisa González
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