Divórcio em Buda, de Sándor Márai, é um romance sobre os limites da moralidade

Carlos Willian Leite

Especial para o Jornal Opção

Décimo livro lido em 2025: “Divórcio em Buda” (Companhia das Letras, 176 páginas, tradução de Ladislao Szabo), de Sándor Márai.

Sándor Márai (Sándor Károly Henrik Grosschmid, 1900-1989) é um escritor da introspecção, da análise minuciosa das paixões humanas e dos conflitos internos que moldam o destino de seus personagens. “Divórcio em Buda” narra não apenas a dissolução de um casamento, mas também a ruína de uma visão de mundo rigidamente construída. Não é um romance sobre divórcio; trata-se de um estudo sobre os limites da moralidade, os riscos da rigidez intelectual e as zonas de sombra das relações humanas.

O protagonista, Kristóf Kömives, é um juiz de 38 anos que já se sente envelhecido, não apenas fisicamente, mas em sua forma de pensar. Orgulhoso de seu papel como guardião da ordem e da tradição, encara com desdém os novos costumes que emergem na sociedade húngara. Para ele, o divórcio — sua especialidade no tribunal — é um sintoma da decadência moral e da fragilidade emocional do mundo moderno.

Sándor Márai: escritor húngaro que escreveu até sobre Canudos | Foto: Reprodução

Nesse cenário, Kömives se depara com o processo de separação entre Imre Greiner e Anna Fazekas, um casal ligado ao seu passado. Dez anos antes, ele e Anna viveram um encontro silencioso, mas com consequências para toda a vida. O reencontro, agora no tribunal, obriga o juiz a confrontar as fissuras de sua própria existência, levando-o a questionar certezas antes inabaláveis.

Embate filosófico sobre o amor

O ponto de virada ocorre quando Imre Greiner lhe faz uma visita inesperadamente. O que poderia ser uma conversa formal transforma-se em um embate filosófico sobre amor, desejo, culpa e incomunicabilidade. Greiner, cínico e desiludido, desnuda a fragilidade das crenças de Kömives, forçando-o a encarar sua vulnerabilidade.

A força do romance está na habilidade de Márai em explorar a crise do protagonista, revelando que, apesar de se julgar acima das paixões humanas, Kömives está preso às mesmas contradições que condena. Sua rigidez, antes um escudo, torna-se sua própria prisão.

Nota: 9,5

Carlos Willian Leite, poeta, jornalista e editor da “Revista Bula”, é colaborador do Jornal Opção.

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