O economista José Eli da Veiga concedeu ao repórter Diego Viana, do “Valor Econômico” (sexta-feira, 11), uma das melhores entrevistas da semana. Com o título de “O acordo mais eficiente”, e um subtítulo que captura a melhor parte da fala do especialista: “José Eli da Veiga argumenta que esforço por redução de emissões poderia produzir melhor resultado se concentrado nas 57 empresas mais poluidoras”.
Ao leitor sugiro que leia a entrevista completa, dado seu caráter valioso. Mas vou explorar apenas os trechos que considero centrais. Deixo de lado, por exemplo, a discussão da energia eólica e o debate sobre o Antropoceno.
José Eli da Veiga diz que, no caso da camada de ozônio, “não era o mundo inteiro que emitia, era só um tipo de indústria”. Agora, é diferente: discute-se a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Tende-se, no lugar de debater a redução de emissões, a discutir, de acordo como José Eli da Veiga, “o fundo para ajudar os [países] mais pobres”.
O economista frisa que, “desde que o Acordo de Paris foi assinado, em 2015, as emissões de CO2 subiram, em vez de cair”.
Com a COP 30, que será realizada em Belém, o Brasil pretende se tornar uma liderança na área ambiental. Para tanto, José Eli da Veiga sugere que o governo de Lula da Silva, com as demais forças que militam na área, deveria rever o discurso e a prática.
“Só 57 empresas no mundo são responsáveis por 80% das emissões. E essas empresas, ainda por cima, estão sediadas em apenas 34 países. São basicamente empresas de energia e cimento. Um marciano que chegasse na Terra e visse isso perguntaria: se são 57 empresas, por que reunir 190 países para discutir o problema?”, assinala o pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo.
O mestre acrescenta que “as 57 empresas são um grupo pequeno e efetivamente responsável pelo problema. Então seria mais eficaz termos as COPs em intervalos de, digamos, cinco anos, e no período entre elas criar um arranjo centrado nesse grupo de empresas, para obrigá-las a agir de modo a reduzir, de fato, as emissões”.
Como resolver a questão? José Eli da Veiga sugere que se use o mecanismo de “cap and trade”¹. Mas é preciso “ter foco na redução das emissões, porque, se focar em comprar créditos de carbono, não vai dar em nada. Em todo caso, colocando as 57 empresas para discutir, talvez elas encontrassem até alguma outra solução que não o ‘cap and trade’”.
O repórter do “Valor” contrapõe que o modelo mencionado “inclui créditos” de carbono. José Eli da Veiga concorda, mas acrescenta: “Mas são créditos para reduções que efetivamente aconteceram, não para uma certificação baseada em algo incerto como o ‘net zero’². Se definirem um patamar, digamos, de 10% de emissões em um ano ou dois, as empresas que conseguirem ultrapassá-lo vendem para as que não conseguirem”.
José Eli da Veiga cita a ideia de “clube” — criada pelo ganhador do Nobel William Nordhaus — para sugerir que é preciso “trabalhar juntando os países com perfis e problemas parecidos para tomar decisões”.
O pesquisador está citando, indiretamente, as 57 empresas. Na verdade, está mencionando um clube de 34 países com problemas similares. “Será que isso seria viável? Seria preciso convencer a liderança brasileira. Mas sei que se ficar como está, a COP 30 vai ser a continuação da 29, discutindo fundos e financiamento, um fiasco parecido com todas as anteriores.”
Notas sobre cap and trade e net zero
¹ Cap and trade “é um sistema de comércio de emissões que limita a quantidade de gases de efeito estufa (GEE) que podem ser emitidos. O objetivo é reduzir as emissões de forma econômica”. Informação obtida no Google/IA.
² “Net zero é um conceito que se refere ao equilíbrio entre a quantidade de gases de efeito estufa (GEE) emitidos e a quantidade removida da atmosfera. É uma estratégia para combater as mudanças climáticas.” Informação obtida no Google/IA.
[Email: [email protected]]
O post Confira a ideia do economista José Eli da Veiga para a COP 30 não se tornar um fiasco apareceu primeiro em Jornal Opção.
