Centrais argentinas consideram greve geral um “sucesso retumbante”

A terceira greve geral contra o governo de Javier Milei foi considerada um “êxito retumbante” pelas principais centrais sindicais da Argentina. A paralisação de 36 horas, que envolveu trabalhadores do setor público e privado, teve forte adesão em todo o país e foi convocada pela CGT (Confederação Geral do Trabalho), CTA (Central de Trabalhadores da Argentina ) e CTA Autónoma (Central de Trabalhadores Autônomos da Argentina).

O secretário-geral da CTA Autónoma, Hugo Godoy, avaliou que a greve marca um ponto de virada no humor social argentino. Em conversa com o Vermelho, Godoy destacou que a paralisação teve força especialmente em setores estratégicos como a indústria, portos, bancos e serviços públicos.

Ele também advertiu para o impacto da precarização das relações de trabalho sobre a capacidade de greve. “A busca pelo sustento diário torna difícil para muitos trabalhadores informais aderirem a uma greve, mas mesmo assim tivemos uma resposta muito forte”, disse.

Para os dirigentes das centrais, o protesto expressa o esgotamento da paciência popular diante da política econômica de arrocho, das demissões em massa e do novo endividamento com o FMI.

Em entrevista coletiva realizada nesta quinta-feira (10) na sede da CGT, em Buenos Aires, o secretário-geral da central, Héctor Daer, destacou que o movimento foi uma demonstração clara de que “a Argentina não pode ter preços livres e salários achatados”.

Ele criticou a queda do poder aquisitivo dos trabalhadores e das aposentadorias, o colapso das economias das províncias e o desmonte das obras públicas.

As críticas dos sindicatos ganharam respaldo em pesquisas recentes. Segundo levantamento da consultora Analogías, 53% dos argentinos acreditam que a inflação não está caindo, 64% dizem que a pobreza não diminuiu e 61% rejeitam o novo acordo com o FMI.

Além disso, 87,3% defendem uma recomposição emergencial dos benefícios previdenciários, demonstrando insatisfação generalizada com os rumos da economia.

Daer afirmou que a greve foi um “êxito retumbante” e destacou seus efeitos concretos. “O principal empreendimento estratégico do país, Vaca Muerta, está totalmente paralisado”. Trata-se da segunda maior reserva de gás de xisto do mundo e uma das maiores jazidas de petróleo não convencional da América Latina, localizada na província de Neuquén.

A manifestação da véspera, na Plaza de los Dos Congresos, foi descrita por Daer como “multitudinária”. Já Hugo Yasky, da CTA de los Trabajadores, declarou que “o povo argentino disse basta às políticas de crueldade”.

De norte a sul do país, a greve teve forte adesão. Em cidades como Rosário e Neuquén, houve bloqueios de rodovias, mobilizações de sindicatos e até cozinhas comunitárias organizadas por movimentos sociais.

Em Mendoza, apenas três dos 27 voos programados decolaram. Em Córdoba, La Rioja, Catamarca, Tucumán e outras províncias, o comércio funcionou de forma parcial e as ruas ficaram vazias.

No Congresso Nacional, a paralisação foi praticamente total. As três principais entidades representativas dos servidores – APL, ATE e UPCN – aderiram ao movimento, deixando o Parlamento sem atividades. A TV legislativa ficou fora do ar e nenhuma comissão se reuniu. Até mesmo o calendário de votações foi alterado.

A mobilização também enfrentou repressão. A Polícia Federal e a Guarda Costeira impediram que manifestantes do Movimento Popular La Dignidad bloqueassem o Puente Pueyrredón, em Avellaneda. A entidade repudiou a violência e acusou o governo Milei de implementar “políticas de endividamento e repressão” com apoio da ministra de Segurança Patricia Bullrich.

As centrais sindicais também denunciaram o uso de propaganda governamental contra o movimento. Em estações de trem e metrô, alto-falantes transmitiram mensagens como: “Ataque à República: a casta sindical atenta contra milhões de argentinos que querem trabalhar”.

Em resposta, ferroviários reagiram com ironia. “Isto não é Star Wars, vai trabalhar”, anunciaram pelo sistema de som dos vagões. Para Daer, essas campanhas são “muito semelhantes às utilizadas em períodos não democráticos”.

Mesmo com os ataques, o apoio popular ao governo vem caindo. Segundo levantamento da consultora Analogías, 53% acreditam que a inflação não está caindo, 64% dizem que a pobreza não diminuiu e 61% rejeitam o novo acordo com o FMI. A pesquisa mostra ainda que 87,3% defendem uma recomposição emergencial dos benefícios previdenciários.

O sindicalista Ernesto Quiqui, da Federação Sindical Mundial (FSM Cone Sul), reforçou em entrevista ao Vermelho que Milei “governa para os grandes capitais” e adota um projeto “neocolonial e neofascista”. Para ele, a mobilização sindical é essencial.

“Não existe hoje uma força coesa do movimento operário. Mas Milei está sendo golpeado por seu próprio desgoverno. Inclusive, parte da base que o apoiou nas eleições começa a se desiludir. O protagonismo deve vir de qualquer setor em luta, e os sindicatos são os mais organizados”, avaliou.

A greve geral desta semana pode não ser a última. Segundo a CGT, o próximo 1º de Maio será marcado por uma nova jornada de luta. “Enquanto se mantiver essa política de queda nos rendimentos e destruição das aposentadorias, não há saída possível. Nunca o Fundo foi solução para o povo argentino”, concluiu Daer.

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