Dada sua independência editorial, resultado de sua autonomia financeira — a empresa é dirigida pelo empresário João Moreira Sales (Banco Itaú e mineradora)—, a revista “Piauí” publicou uma reportagem exclusiva sobre os bastidores da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues, é apontado como envolvido em alguns escândalos.
Vários jornais reproduziram trechos, os mais chamativos, da reportagem da “Piauí”. Jornalistas do programa “Linha de Passe”, da ESPN, talvez acreditando na autonomia da emissora, decidiram repercutir as denúncias da revista. Deu ruim. Dimas Coppede, Gian Oddi, Paulo Calçade, Pedro Ivo Almeida, Victor Birner e William Tavares, uma seleção de seis jornalistas, foram afastados pela direção da ESPN. Motivo: foram críticos à gestão de Ednaldo Rodrigues, à semelhança da “Piauí”. Com a diferença de que a revista é crítica e, de fato, independente, ao menos em relação à CBF.
A cúpula da CBF reclamou diretamente à cúpula da ESPN. Em geral, a diretoria não se interessa por tudo que é divulgado, de olho muito mais na audiência. Porém, ante a reclamação de uma entidade poderosa e endinheirada — 1 bilhão de reais por ano e negociando jogos dos clubes de futebol —, os chefões se irritaram. A ESPN, apoiada pela CBF, vai transmitir a Série B do Campeonato Brasileiro de 2025. Ante a possibilidade de algum boicote de Ednaldo Rodrigues, a ESPN decidiu punir os jornalistas, quer dizer, a verdade dita sobre condução da CBF por parte do cartola.
Os jornalistas foram afastados na terça-feira, 8, e novos jornalistas foram convocados para participar dos debates do “Linha de Passe”: André Pilhal, André Kfouri, Breiler Pires, Eugênio Leal e Leonardo Bertozzi.
De acordo com profissionais da empresa, os jornalistas afastados deverão voltar ao programa. Até agora nenhum dos profissionais foi demitido. Mas comenta-se sobre a demissão de um dos mais “radicalizados”.
A reportagem da “Piauí”, que já está na internet (a edição impressa da revista ainda chegou às bancas de Goiânia), é uma bomba-relógio. O Ministério Público Federal deveria examiná-la com lupa. Porque pode render no mínimo umas cinco ações judiciais contra cartolas, políticos e até magistrado.
A matéria da “Piauí” foi escrita por um dos mais experimentados jornalistas investigativos do país, Allan de Abreu.
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