Banco Central empurra Brasil rumo a gasto recorde de R$ 1 trilhão com juros

O Brasil pode atingir, ainda em 2025, um marco alarmante e inédito: o gasto de R$ 1 trilhão apenas com o pagamento de juros da dívida pública. O custo, que já chegou a R$ 924 bilhões nos 12 meses encerrados em fevereiro, é consequência direta da política de juros altos mantida pelo Banco Central (BC), sob o comando de um Comitê de Política Monetária (Copom) alinhado a uma lógica que muitos economistas e movimentos sociais consideram ultrapassada e socialmente injusta.

A alta da taxa Selic — atualmente em 14,25% ao ano , com previsão de novos aumentos pelo Comitê de Política Monetária (Copom) — é o principal motor dessa sangria. Enquanto o BC prioriza o controle da inflação via juros, o custo da dívida pública consome recursos que poderiam ser direcionados a saúde, educação e programas sociais.

Copom: guardião dos privilegiados

Desde que o Banco Central se tornou independente, durante o governo Bolsonaro, com um presidente indicado por ele, o Ministério da Fazenda não tem mais incidência sobre as decisões do órgão. Dominado por agentes dos bancos, – excluindo agentes da indústria, comércio, trabalho e consumo, que também compõem o “mercado” -, o BC atende suas demandas especulativas e recusa toda e qualquer lógica de defesa de interesses nacionais.

Essa escalada significa não apenas mais pressão sobre o orçamento público, mas também o comprometimento de áreas estratégicas para o desenvolvimento social e econômico — como infraestrutura, saúde, educação e programas sociais.

Enquanto o governo corta R$ 71 bilhões em áreas essenciais como saúde, previdência e saneamento para cumprir metas de “superávit primário”, não há limite para os gastos com juros. A rubrica de juros é classificada como “não primária”, o que a torna intocável pelas regras fiscais atuais.

Um trilhão que poderia estar no SUS, no PAC ou na merenda escolar

Segundo a própria estimativa do Banco Central, cada ponto percentual a mais na Selic representa cerca de R$ 50 bilhões a mais em gastos com juros. Ou seja, só as últimas altas da taxa já custaram ao país algo em torno de R$ 200 bilhões — valor superior ao orçamento anual de ministérios inteiros.

Para efeito de comparação, o Orçamento da Previdência Social — que atende milhões de aposentados, pensionistas e pessoas com deficiência — gira em torno de R$ 1 trilhão por ano. A cifra histórica prevista com juros representa, portanto, um escoamento de recursos públicos equivalente a tudo o que é investido na seguridade social brasileira.

Mesmo com déficit sob controle, a dívida continua crescendo com a Selic elevada. O país está entrando num ciclo vicioso em que não se investe em desenvolvimento, favorecendo a especulação financeira e o rentismo. Empresários perdem o interesse em investir em produção, quando pode acumular parasitariamente em juros do Tesouro Nacional.

O BC evita destacar os números em suas comunicações, preferindo focar dados positivos como a queda no desemprego, que nada tem a ver com sua política recessiva. No entanto, especialistas alertam: sem uma reforma estrutural na gestão da dívida, o país caminha para um colapso fiscal.

Rentismo que paralisa a economia e aprofunda desigualdades

Os juros altos não afetam apenas os cofres públicos. Com a Selic em patamar recorde, os empréstimos e financiamentos se tornam mais caros para empresas e consumidores. Isso freia o consumo, desestimula o investimento produtivo e sufoca pequenos negócios. A economia desacelera, o desemprego pode crescer e a arrecadação do governo tende a cair.

O efeito colateral é também político: a alta da dívida gera pressões por cortes de gastos, o que atinge os mais vulneráveis. Cortar gastos para pagar juros é um alerta que significa abandonar o SUS, as escolas, os programas sociais e os investimentos em infraestrutura.

Além disso, o juro elevado concentra renda. Quem mais se beneficia são os detentores dos títulos da dívida — ou seja, os ricos que compram esses títulos. O país transfere riqueza para o topo da pirâmide, a minoria bilionária, enquanto a base de maioria assalariada sofre com cortes e abandono.

Cenário pior que crises históricas

Enquanto o Orçamento da União prevê R$ 5,8 trilhões para 2025, os juros já representam 7,8% do PIB , nível próximo aos picos registrados durante crises históricas, como o Plano Collor, podendo passar de 8% nos próximos meses. A marca só foi atingida em momentos dramáticos da história recente: nas crises de 2002/2003 e de 2015/2016.

Desde 2002, a média dessa relação gira em torno de 6%. Ou seja, o Brasil está desviando 2 pontos percentuais a mais do seu PIB apenas para remunerar o capital financeiro.

Há uma clara desconexão entre a política econômica e os interesses nacionais, desde que o BC desligou-se de seus vínculos orgânicos com o governo. Desde então, os gastos crescentes com serviços da dívida não representam uma contrapartida em investimentos para o país, apenas paralisia e aprofundamento da crise monetária.

O caminho do conflito distributivo

No fundo, o que está em disputa é quem vai pagar a conta. Ao manter a Selic elevada, o Banco Central beneficia os detentores do capital financeiro e penaliza a maioria da população. O dinheiro que poderia ser usado para financiar uma transição ecológica, gerar empregos, ampliar universidades e hospitais, ou mesmo zerar o déficit habitacional, vai direto para os bancos e fundos de investimento.

A política monetária deixou de ser uma ferramenta técnica e virou um instrumento de transferência de renda — de baixo para cima. Muito se falou que o impeachment de Dilma, nada mais foi que um golpe originado nesse conflito distributivo, conforme se pagava menos para a especulação e se compartilhava mas com a base da pirâmide. O golpe foi se conformando em reformas trabalhista, política, teto de gastos, desmontes do estado, culminando no Banco Central independente.

Um alerta para o futuro próximo

Com uma nova reunião do Copom marcada para 6 e 7 de maio, tudo indica que a taxa pode subir ainda mais. A continuar nesse ritmo, o gasto com juros ultrapassará a barreira do trilhão sem que o país colha benefícios equivalentes.

A discussão sobre o papel do Banco Central, sua autonomia e sua responsabilidade social e fiscal ganha urgência política. Afinal, um país que sangra R$ 1 trilhão ao ano para remunerar a especulação precisa decidir se vai continuar financiando o rentismo ou investindo no futuro.

A trajetória atual é insustentável. Enquanto o governo é forçado pelo Banco Central a gastar R$ 1 trilhão em juros, milhões de brasileiros sobrevivem com um salário mínimo que sequer cobre o custo básico de vida.

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