
A 1ª Plenária Nacional de Organização e Mobilização do Plebiscito Popular, realizada nesta terça-feira (8), reuniu remotamente cerca de 500 militantes de movimentos sociais, sindicais e populares para dar início à construção de uma consulta histórica. A atividade deu largada à principal iniciativa política das forças populares neste ano: consultar o povo brasileiro sobre temas estruturantes da vida da classe trabalhadora e da sociedade.
O objetivo é levar ao povo brasileiro três temas estruturantes: redução da jornada de trabalho, fim da escala 6×1 e tributação dos bilionários, com isenção de Imposto de Renda para a classe trabalhadora. Os movimentos planejam pressionar o Congresso e o governo a priorizar pautas da classe trabalhadora, além de fortalecer a unidade contra a agenda da extrema-direita.
“Mesmo com Lula eleito, não conseguimos mudar a correlação de forças. O grande capital segue ditando regras”, afirmou Igor Felippe, um dos coordenadores do Plebiscito. Conforme ele lembrou, o Plebiscito Popular segue uma tradição de mobilizações como o Plebiscito da Alca (2002) e o Plebiscito da Constituinte (2014). “Não é só uma votação, mas um processo pedagógico de construção de consciência”, destacou.
Diversidade, unidade e amplitude das vozes
A plenária, organizada pelas Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, contou com a participação de lideranças de centrais sindicais, como Adilson Araújo, presidente da CTB (Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), lideranças de movimentos sociais como João Paulo Rodrigues (MST), Manuela Mirella (UNE), dirigentes de partidos como Liege Rocha (PCdoB), Henrique Fontana (PT) e Paula Coradi (PSol) e representantes do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), que destacaram a urgência de unir forças contra a agenda neoliberal e a exploração do trabalho.
Entre outros, a plenária contou com intervenções de representantes de:
- Movimentos: MST, MTST, UNE, MNU, MAB, Marcha Mundial das Mulheres;
- Sindicatos: CTB, CUT, Intersindical, CNTE;
- Partidos: PT, PSOL, PCdoB, PCB, UP;
- Entidades religiosas: CNBB e Pastorais Sociais.
Todos reforçaram que o plebiscito é uma resposta concreta à tentativa de desestabilização democrática e à ofensiva da extrema-direita. “Vamos derrotar o fascismo não só nas urnas, mas nas ruas, com organização e mobilização popular”, resumiu Ana Carolina, do Movimento Brasil Popular.
“O plebiscito é uma ferramenta para pressionar o Estado e construir poder popular. É é um momento importante de ligação com a população de um modo geral, é o momento da gente fortalecer essa ligação para que a gente possa cada vez mais defender a democracia e cada vez mais lutar contra essa onda da direita, essa onda fascista”, diz Liege Rocha, do PCdoB.
Segundo Liege, “para que a gente tenha um plebiscito vitorioso e possa alcançar o maior número de pessoas de norte a sul do país, o nosso lançamento aqui em São Paulo precisa ser bem amplo, com a participação efetiva dos vários movimentos e partidos de trabalhadores, mulheres, juventude, negros, todos sem restrição”.
Henrique Fontana, do PT, concorda: “Esse plebiscito é a nossa trincheira contra o fascismo. Vamos mostrar que o povo quer emprego digno e justiça social. Ao propor a redução da jornada e a taxação dos super-ricos, estamos indo ao coração do nosso projeto político – o que gera unidade e nos prepara para derrotar o conservadorismo nas urnas novamente.”
Os temas do plebiscito: por que são prioridades?
1. Fim da Escala 6×1:
A escala de trabalho 6×1, comum em setores como serviços e saúde, foi alvo de críticas por comprometer a saúde física e mental dos trabalhadores. Milton Rezende (CUT) destacou que a redução para 40 horas semanais é uma luta histórica desde a Constituição de 1988: “Trabalhar menos é viver mais. Precisamos discutir lazer, divisão de tarefas domésticas e saúde mental”. Ele lembrou que a redução da jornada sem perda de salário é uma luta histórica e necessária diante da precarização atual: “Temos mais de 50 milhões de trabalhadores na informalidade. Reduzir a jornada gera emprego, qualidade de vida e justiça social.”
Vanessa, do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), relatou a realidade de quem folga apenas um dia: “Mães não veem os filhos, jovens não estudam. Essa escala é desumana”. A PEC contra a 6×1, proposta pela deputada Erika Hilton (PSOL), já tem 234 assinaturas no Congresso. “Não queremos apenas sobreviver, queremos viver”, afirmou a representante do VAT, destacando que a luta contra a exaustão laboral é também uma bandeira de dignidade.
2. Redução da Jornada de Trabalho:
João Paulo Rodrigues, do MST, ressaltou que a redução da jornada sem aumentar a exploração é essencial para “reconectar a classe trabalhadora e fortalecer a unidade que derrotou Bolsonaro”.
Já o professor Matheus, da Intersindical, destacou o simbolismo da luta contra a escala 6×1: “É uma escala cruel, que afeta principalmente mulheres negras e jovens. O apoio da população é massivo. A extrema direita pode ter as big techs, mas nós temos o povo.”
3. Tributação de bilionários:
A presidenta da UNE, Manuela Mirella, foi a responsável por apresentar o terceiro eixo do plebiscito: “A tributação dos bilionários e a isenção para quem ganha até R$ 5 mil é o caminho para garantir justiça fiscal. O projeto já está no Congresso, mas não pode ser isolado. Precisamos taxar os super-ricos para não tirar dos programas sociais.”
Ela lembrou que os impostos no Brasil penalizam os mais pobres e que o plebiscito será um instrumento para conscientizar a população: “Temos que dialogar sobre por que o pobre paga tanto e o rico quase nada.”
A proposta de taxar grandes fortunas e isentar trabalhadores do Imposto de Renda visa combater a desigualdade. “Enquanto bilionários acumulam riqueza, milhões vivem na miséria. Esse plebiscito é um grito por justiça fiscal”, disse a líder estudantil. Manu criticou a injustiça tributária: “Quem ganha R$ 50 mil paga o mesmo IR que quem ganha R$ 5 mil. Enquanto isso, jatos e iates são isentos”.
Paula Coradi (PSOL) reforçou: “Não vamos permitir que a isenção de IR para pobres seja compensada com cortes em saúde e educação. A conta deve vir dos bilionários”. No Legislativo, projetos como a taxação de grandes fortunas enfrentam lobby de ruralistas e do setor financeiro.
Desafios e estratégias de mobilização
A plenária mostrou a força da articulação popular. Foram debatidas estratégias para ampliar a base do plebiscito, como:
- Plenárias estaduais para mobilizar comunidades e sindicatos; atos de lançamento e urnas físicas para votação popular a partir de setembro;
- Formação de multiplicadores para explicar as pautas nas periferias e universidades;
- Nas redes: Campanhas digitais e conteúdo didático para engajar jovens.
- Atos públicos, como o lançamento nacional marcado para 10 de maio, às 18h30, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo.
Igor Felippe, da coordenação do plebiscito, enfatizou: “Precisamos transformar essa consulta em um instrumento de educação popular e resistência”. “Precisamos disputar corações e mentes. 65% da população já apoia o fim da 6×1. É hora de ampliar o diálogo”.
Segundo Igor, a proposta é construir um processo de base, com capilaridade nacional e formação política. Cada estado deverá organizar sua coordenação, promover plenárias regionais, lançar comitês e preparar atividades de rua e debates públicos. Um curso nacional de formação está previsto para maio.
Próximos passos: Lançamento e formação política
- 10 de abril: Ato nacional em São Paulo, no auditório da Faculdade de Direito da USP;
- Maio: Curso de formação para multiplicadores;
- Setembro: Votação popular em urnas físicas e digitais.
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