Brasil pode se beneficiar da disputa entre potências

Em meio à turbulência global provocada pela guerra tarifária entre Estados Unidos e China, algumas economias emergentes vislumbram oportunidades. É o caso do Brasil, que foi um dos poucos países a escapar com uma tarifa “recíproca” mais branda, de apenas 10%, imposta pelo governo de Donald Trump. A nova rodada de tarifas entra em vigor nesta quarta-feira (9), e pode representar uma vantagem competitiva para o país em áreas estratégicas como o agronegócio e a exportação de manufaturados.

A ofensiva tarifária de Trump mira especialmente economias com superávit comercial significativo em relação aos EUA, como China, Japão, Coreia do Sul, Vietnã e Bangladesh — todos penalizados com taxas superiores a 20%, chegando a até 46%. O Brasil, por outro lado, é importador líquido (termo usado para descrever um país que importa mais do que exporta determinado tipo de produto ou serviço) de produtos norte-americanos, o que o posiciona como um parceiro comercial de menor risco aos olhos da Casa Branca.

Além disso, o país pode herdar parte da demanda que será redirecionada por empresas chinesas atingidas pelas tarifas norte-americanas.

O histórico recente também joga a favor. Durante o primeiro mandato de Trump, os produtores brasileiros de soja e milho lucraram com o vácuo deixado pela suspensão das compras chinesas de grãos norte-americanos. Esse cenário pode se repetir agora, com a China buscando novos fornecedores de commodities agrícolas, carnes e alimentos processados. A expectativa é que o Brasil amplie sua presença no mercado chinês, ao mesmo tempo em que reduz sua vulnerabilidade às oscilações nos EUA.

Outros países emergentes também estão atentos às brechas que se abrem com o tarifaço. Egito, Marrocos e Turquia, todos com déficits comerciais com os EUA, enxergam espaço para avançar em setores como têxteis e siderurgia, à medida que concorrentes diretos — como Bangladesh e Vietnã — enfrentam pesadas sobretaxas. “A oportunidade está à vista, só precisamos agarrá-la”, afirmou Magdy Tolba, presidente da empresa egípcio-turca T&C Garments, à Reuters.

Na Ásia, a Índia aposta na redistribuição da cadeia de suprimentos global para ampliar sua fatia no mercado norte-americano, principalmente nos setores de vestuário, calçados e produção de eletrônicos. Há ainda expectativa de que parte da fabricação de iPhones, hoje concentrada na China, seja transferida para o país, em razão das novas tarifas impostas a Pequim.

Apesar disso, analistas alertam que nenhum país sairá completamente ileso. Em Cingapura, por exemplo, o índice Straits Times registrou sua maior queda desde 2008, e o governo já admite que uma recessão nos EUA ou na economia global pode anular qualquer benefício imediato. “Não há vencedores em uma guerra comercial”, disse a economista Selena Ling, do banco OCBC. “Tudo é relativo.”

Na América do Sul, além do Brasil, há expectativa de que o impasse entre Washington e Pequim reacenda as negociações em torno do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Com suas exportações ainda fortemente concentradas em commodities, o Brasil poderia se tornar o maior beneficiário de um eventual avanço no tratado, ganhando acesso facilitado ao mercado europeu em um momento de reconfiguração das rotas globais de comércio.

Embora as oportunidades existam, especialistas alertam que os ganhos serão limitados pelos impactos de uma recessão global. A instabilidade nos fluxos de capitais, a volatilidade cambial e a retração na demanda por bens industriais podem frear qualquer impulso mais consistente. Ainda assim, diante do caos, países como o Brasil seguem buscando brechas para ampliar sua presença nos mercados globais — mesmo em tempos de guerra.

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