Skatistas voltam a desafiar a gravidade para aumentar representação nos Jogos Olímpicos

Tony Hawk levou o skate a novos patamares em 1999, quando, bem alto no halfpipe dos X Games, começou a girar furiosamente, completando 2,5 voltas no ar antes de pousar e deslizar tranquilo pela rampa.O 900 – assim nomeado pela quantidade de graus de rotação que o movimento requer – parecia impossível, mas Hawk, a maior estrela do skate, conseguiu, reescrevendo as regras do que poderia ser feito com o skate e levando o esporte a um público muito maior.

Tony Hawk é um dos entusiastas do aumento da participação do skate nos Jogos Olímpicos. Foto: Tony Hawk via Instagram

Aí, logo depois de seu momento de triunfo, a forma de Hawk desafiar a gravidade começou a desaparecer, quase ao ponto da extinção. Foi substituída pelo estilo de rua, que era mais fácil de aprender nos parques de skate, com uma geração inteira de skatistas deixando as rampas gigantes para trás. Mas isso está começando a mudar.Nos últimos meses, as redes sociais foram inundadas por vídeos de skatistas pré-púberes se lançando de rampas e voando no ar, fazendo manobras que skatistas experientes têm relutado em tentar. Eles estão mudando o paradigma com seus movimentos que desafiam a gravidade e inspirando outros jovens do mundo todo a tentar o mesmo.O estilo vertical de Hawk – vert, para quem o pratica – está voltando, e Hawk está louco para transformar essa onda em um retorno da modalidade nas Olimpíadas de 2028, em Los Angeles.Vert é o skate na sua forma mais espetacular. Sua simplicidade, combinada com a pura empolgação de suas manobras perigosas, faz com que seja mais fácil de entender, mesmo por quem não acompanha o esporte.Graças ao seu 900 e ao videogame extremamente popular que veio em seguida, Tony Hawk’s Pro Skater, Hawk tinha se consolidado como o rosto do esporte no início dos anos 2000. Mas sua dedicação ao vert era um caso de apego ao passado.“Ainda é considerado um nicho”, disse Hawk em entrevista, falando sobre o atual estado do vert. “Para mim, é difícil de aceitar que seja assim”.

Gui Khury é um dos principais expoentes do Brasil no skate vertical. Foto: Gui Khury via Instagram

A verdade é que os feitos de Hawk nas rampas verticais simplesmente fizeram a prática parecer mais popular do que era. Renton Millar, ex-skatista profissional e chefe da Vert Skating Commission da World Skate, o órgão regulador do esporte, disse que os skatistas verticais como Hawk geralmente são uma minoria, “que se destacam porque é uma coisa muito radical”.Mas agora entram em cena pessoas como Tom Schaar, skatista de 25 anos que muitos veem como a próxima grande estrela do vert e possível ponte entre as gerações mais velhas e a próxima – a molecada que está descobrindo o esporte por meio das redes sociais.Schaar, que é contratado da empresa de skate Hawk’s Birdhouse, nasceu no ano em que Hawk fez seu primeiro 900. Ele desceu sua primeira rampa vertical aos 6 anos e, tempos depois, conseguiu fazer um 900 e um 1080 no mesmo ano. Ele tinha 12 anos de idade.“O 900 levou muito mais tempo”, disse Schaar sobre aprender as duas manobras. “Depois que você supera o medo de fazer aqueles giros extras, eles meio que se misturam numa grande confusão de giros”.O vert recompensa aquele tipo de imprudência que é típica dos adolescentes, e os adolescentes estão definindo o futuro do estilo.“Hoje, os skatistas mais jovens têm mais recursos”, disse Hawk. “Têm instalações de treinamento, e a molecada é encorajada a começar cedo. Não era assim na minha juventude. A molecada era desencorajada. Skate era má influência, coisa sem futuro”. View this post on Instagram A post shared by CazéTV (@cazetv)Hawk disse que passou dez anos tentando antes de conseguir o 900, finalmente alcançando o feito quando tinha 31. Agora ele observa com admiração os jovens levando suas realizações adiante. No ano passado, Arisa Trew se tornou a primeira skatista a fazer um 900. Ela tinha 13 anos na época.“Alguns jovens, assim que começam a andar de skate, ficam fascinados com as manobras aéreas e sabem o que é possível”, disse Hawk. “Para eles, o 540 é só um ponto de partida. Nem existia 540 quando eu era adolescente”.Hawk, sempre defensor de seu esporte, sabe o que quer que aconteça agora. As Olimpíadas de Verão estão chegando a Los Angeles em 2028. O sul da Califórnia é o epicentro global do skate, e Hawk tem, como ele mesmo diz, “feito de tudo” para incluir o vert como uma das modalidades. Isso aumentaria a visibilidade do esporte e, Hawk acredita, levaria à construção de mais rampas. Para ajudar, ele está disposto a oferecer suas próprias instalações.“Eu poderia dar minha rampa para eles”, disse Hawk, animado. “Eu diria: ‘Aqui está a rampa. Encontre um lugar e é toda sua’. Eu tenho a melhor rampa de vert do mundo, e ela é portátil. Pode ser montada em poucas horas. É toda sua”.O Comitê Olímpico Internacional emitirá sua decisão final sobre o vert e outras modalidades para as Olimpíadas de 2028 na próxima reunião do conselho executivo, em 9 de abril.Muitos skatistas acreditam que a competição de vert é uma escolha óbvia para as Olimpíadas, mas ela foi deixada de fora dos Jogos de 2020 e 2024, disse Hawk, por causa de desafios burocráticos e de uma escassez de skatistas de vert na época.Schaar, que também se destaca no skate estilo park, levou para casa uma medalha de prata nas Olimpíadas de 2024. Mas ele compete nesse estilo por necessidade; o vert continua sendo sua maior paixão.“Quando minha avó assiste às Olimpíadas, street e park são muito técnicos para alguém que não entende de skate”, disse Schaar.Hawk disse que, na época das discussões para incluir o skate nos Jogos de 2020, ele sabia que não havia skatistas de vert suficientes para fazer uma boa competição. Mas, à medida que a popularidade do esporte cresceu, também cresceu sua defesa pública.“A lacuna entre gêneros e níveis de qualidade no mundo todo era grande naqueles tempos”, disse Luca Basilico, que supervisiona o skate para a World Skate. “Era outra época. Mas tudo isso já passou”.Para chegar a esse ponto, o esporte teve de deixar o passado para trás.Quando ele fez o 900, Hawk e seu grupo – remanescentes dos anos 1980, quando o vert era o estilo dominante – estavam envelhecendo na carreira profissional. Pouquíssimos skatistas de vert estavam surgindo para substituí-los, deixando Hawk como uma das poucas vozes defendendo a modalidade.“Os skatistas de hoje, especialmente quem tem mais de 25 anos, dizem que começaram no skate por causa de Tony Hawk”, disse Jimmy Wilkins, importante skatista de vert. “Mesmo que não digam, provavelmente começaram a andar de skate num parque que Hawk construiu para eles”.Mas os skatistas jovens que estão revivendo a arte do vert no Instagram não são assim tão ligados a Hawk. Eles nasceram depois de seus grandes momentos e trazem um estilo novo e particular. View this post on Instagram A post shared by Gui Khury (@gui_khury)Elliot Sloan, skatista de vert de 36 anos que se tornou profissional em 2008, falou sobre uma “enorme lacuna” entre as gerações de skatistas vert, o que deixou sua jornada bastante solitária. Ele se considerava sortudo por fazer parte de um esporte que ainda estava vivo, em grande parte graças aos sucessos de Hawk no final dos anos 1990.Mas as realizações de Hawk estão no passado, e Wilkins e Sloan são decididamente veteranos. E os skatistas que vieram depois deles estão ficando incrivelmente bons, incrivelmente rápido.“Eu via uma molecada começando aos sete anos de idade e pensava: ‘Esse garoto é muito bom’”, disse Sloan. “E aí logo depois eu estava competindo contra ele”.“A melhor coisa do ressurgimento do vert é a onda de apoio que ele tem com os jovens”, disse Millar. “Hoje tem uma série de instalações de vert no mundo todo, antigamente não tinha quase nenhuma”.Embora a ascensão de jovens skatistas de vert tenha chocado alguns veteranos, ela permitiu que Hawk seguisse na luta para trazer a modalidade de volta aos olhos do público. Mas não importa a época, a popularidade ou a visibilidade do esporte, é impossível separá-lo do Hawk – que manteve seus velhos hábitos, apesar da aposentadoria oficial.“Tenho que andar de skate”, ele disse para concluir nossa entrevista. Seu amigo Bucky Lasek, outra lenda dos anos 1990, estava chegando. Eles iriam passar o dia na rampa particular de Hawk.Este artigo foi originalmente publicado no New York Times./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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