Apesar de pressões dos EUA, Vietnã cresce 6,93% no primeiro trimestre

O Produto Interno Bruto (PIB) do Vietnã cresceu 6,93% no primeiro trimestre de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior. O dado, divulgado pelo Escritório Nacional de Estatísticas (NSO), representa o melhor resultado para o período desde 2020. 

A marca impressiona não apenas pelo ritmo elevado, mas também pelo contexto em que foi alcançada: o país já enfrentava tensões comerciais globais e a expectativa das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos, seu maior parceiro comercial.

Segundo a diretora do NSO, Nguyễn Thị Hương, o desempenho é reflexo do modelo de desenvolvimento baseado em planejamento estatal, coordenação centralizada e mobilização das estruturas do Partido e do governo para manter o dinamismo econômico. Ela destacou o papel da “ação eficaz de todo o sistema político” diante das rápidas mudanças no cenário regional e global.

Ainda que tenha superado a meta do governo estabelecida na Resolução nº 01/NQ-CP, o resultado ficou abaixo do cenário mais otimista projetado na Resolução nº 25/NQ-CP, de fevereiro deste ano. O próprio NSO reconhece que os efeitos das incertezas externas, como a volatilidade cambial e os riscos geopolíticos, podem pressionar as engrenagens da economia vietnamita.

Modelo estatal impulsiona serviços e indústria

A composição do crescimento reforça o papel estratégico do Estado como organizador da atividade econômica. Os setores de serviços, indústria-construção e agrofloresta-pesca cresceram 7,7%, 7,42% e 3,74%, respectivamente, respondendo por 93% da expansão total do PIB. A indústria de transformação, considerada o principal motor da economia, cresceu 9,28% e contribuiu com 2,33 pontos percentuais para o crescimento geral.

No setor de construção, a alta foi de 7,99%, impulsionada pelo investimento público e por financiamentos para grandes projetos de infraestrutura, em especial rodovias, ferrovias e saneamento. O setor agrícola também apresentou desempenho sólido, com destaque para a silvicultura, que cresceu 6,67%.

A área de serviços foi favorecida pela retomada da demanda interna e pela volta de turistas internacionais, especialmente durante o feriado do Ano Novo Lunar. O transporte e armazenagem cresceram 9,9%; hospedagem e alimentação, 9,31%; comércio atacadista e varejista, 7,47%; e o setor de finanças e seguros, 6,83%.

Essa diversidade de setores em expansão evidencia que, embora o Vietnã ainda dependa de exportações, o país construiu ao longo das últimas décadas uma base produtiva relativamente diversificada, apoiada por forte investimento estatal, controle estratégico de setores-chave e cooperação entre o setor público e a iniciativa privada nacional.

Crescimento sob ameaça: tarifas e desaceleração

Apesar do desempenho robusto, os próximos meses serão de teste para o modelo vietnamita. O crescimento de 6,93% representa desaceleração frente ao último trimestre de 2024 (7,55%). A razão mais visível é a imposição de uma tarifa de 46% sobre os produtos vietnamitas pelo governo dos Estados Unidos, anunciada por Donald Trump como parte de sua nova ofensiva tarifária global.

As novas tarifas ameaçam setores estratégicos como têxteis, calçados, eletrônicos e smartphones, que concentram milhões de empregos e grande parte da receita cambial do país. Segundo a agência Reuters, caso a medida provoque uma queda de 10% nas exportações para os EUA, o crescimento do PIB pode ser reduzido em até 0,84 ponto percentual.

Além disso, há o risco de retração dos investimentos estrangeiros diretos (IED), sobretudo de parceiros como Coreia do Sul, Japão, China e os próprios Estados Unidos. Relatórios do setor apontam que muitas multinacionais estão reavaliando planos de expansão produtiva no Vietnã, diante da instabilidade nas relações comerciais com Washington.

Em nota, a consultoria BMI afirmou que “as tarifas aplicadas ao Vietnã são mais duras do que o esperado e podem provocar uma mudança estrutural no modelo econômico baseado em exportações e atração de capital estrangeiro”.

Governo mantém meta e aposta na diversificação

Mesmo diante das dificuldades, o governo vietnamita mantém a meta de crescimento de pelo menos 8% para 2025. Em pronunciamento após reunião com líderes locais e ministros, o primeiro-ministro Pham Minh Chính classificou as tarifas como “um desafio que deve ser convertido em oportunidade”.

“Não mudaremos nossos objetivos. Vamos reagir com serenidade, criatividade, flexibilidade e ação eficaz. Nosso modelo é sólido, e o povo vietnamita tem a sabedoria, a cultura e a resiliência necessárias para enfrentar esse momento”, afirmou.

Chính destacou que os EUA são um mercado relevante, mas não exclusivo. O Vietnã já assinou 17 acordos de livre comércio com parceiros de diversas regiões e pretende acelerar a diversificação das cadeias produtivas e dos destinos das exportações. O premiê determinou ainda a aceleração dos investimentos públicos, a ampliação do crédito em setores estratégicos e o reforço na diplomacia econômica, inclusive com os próprios EUA.

Segundo ele, é hora de “renovar os motores tradicionais do crescimento e desenvolver novos pilares”, como a industrialização verde, a transição energética, o digital e os mercados Halal, africanos e latino-americanos.

Integração com o Brasil reforça alternativas

Nesse cenário, ganha ainda mais relevância a recente visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Hanói. O encontro resultou na assinatura de um plano de ação conjunta Brasil–Vietnã 2025–2030, com foco em comércio, ciência, defesa, meio ambiente e intercâmbio cultural. Lula também propôs a aproximação do Vietnã com o Mercosul, passo considerado estratégico para ampliar as relações com a América Latina.

“Essas medidas vão nos permitir ampliar os fluxos de comércio e investimento entre nossos países”, afirmou Lula durante encontro com o presidente Luong Cuong e lideranças do Partido Comunista do Vietnã.

A relação entre Brasil e Vietnã é vista com atenção pela esquerda brasileira como exemplo de integração entre economias do Sul Global comprometidas com o desenvolvimento soberano, o papel do Estado e a construção de uma ordem mundial multipolar.

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