Meu pai partiu. Único. Permanente.

Por Rodrigo Vilaça*

Extasiante, o malabarismo que fazia com as palavras. Estavam sempre prontas, desnudas. Alguns quase alcançavam o que de fato queriam dizer.

Com o tempo, foi parando de usá-las e, atentos, esperávamos, letra a letra, uma frase completa para nosso regozijo. Acabou entregando ao olhar a missão de dizer o que a caneta e a boca não falavam mais. Ficávamos nós, tentando compreender o que contavam, mas era impossível decifrar, diante de tamanho repertório. De novo, chegava fácil a saudade.

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Sagaz, viu o mundo inteiro porque sua mente não teve fronteiras. Nunca duvidou de sua imponência, e foi a cabeceira em todas as mesas em que se sentou. Sentou em todas.

Sua Recife, o Brasil, a Academia Brasileira de Letras, o mundo – perdem originalidade, ousadia e, em alguma medida, desfaçatez. Perdem brilho.

Viveu amplamente, usufruiu e também pagou o preço de sua insubordinação pernambucana.

Contemple agora o silêncio bem-vindo e encontre os seus, apartados de você prematuramente. D. Evalda, Professor Vilaça, Maria do Carmo, Tom e Vytória passam a aproveitar de sua presença mais viva. Na matula, seu bolo de rolo. Enfim, o sossego.

Seja a paz que, mesmo sem destreza, sempre procurou.

Você é amado.

*Filho de Marcos Vilaça, imortal da ABL que faleceu no último sábado

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