As revoltosas águas de março de 1964

Em março de 1964, o Brasil estava mergulhado numa crise complicada. O Presidente João Goulart tentando emplacar as reformas de base e fazendo comício na Central do Brasil desapropriando terras às margens das rodovias federais. Empresários, políticos e militares conspiravam contra o governo. A classe média marchando com Deus pela liberdade. Jornais faziam editoriais exigindo a saída de Jango. Nos dias finais daquele mês tão intenso, cabos, sargentos e marinheiros resolveram se rebelar, quebrando a hierarquia militar. João Goulart ficou ao lado dos revoltosos. Imagine a cara dos generais ao ver o comandante em chefe das Forças Armadas dando palanque para subordinados rebeldes.

A rixa dos militares contra Jango era antiga. Desde a sua indicação para o Ministério do Trabalho, no segundo Governo Vargas, que os marechais torciam o nariz para ele. Em 1961, depois da renúncia de Jânio Quadros, houve a primeira tentativa de golpe militar contra Jango. Falhou. Por outro lado, os “generais do povo” estavam ao lado do presidente. Governo e oposição, cada lado se acusava de golpe e de implantar uma ditadura. Comício da Central do Brasil, Marcha da Família com Deus pela Liberdade, cada lado querendo provar que tinha mais gente, mais apoio em suas manifestações.

A imprensa pedia a cabeça de Jango. O Correio da Manhã escrevia “Basta!”, “Fora!”. O Globo aguardava a restauração da democracia, que seria a saída do Presidente. Somente o Última Hora ao lado de Jango. O ainda comunista Paulo Francis escrevia indignado contra os golpistas. Os opositores do governo também estavam na televisão. Imagem, som, letras, tudo era crise. Um lado acusava o outro de golpe e se autoproclamava defensor da democracia e da Constituição.

Março de 1964 terminava. A democracia conquistada com tanto esforço depois da ditadura do Estado Novo estava por um fio. As revoltosas águas de março de 1964 levariam o Brasil para longos vinte e um anos de uma nova ditadura comandada pelos militares.

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