Saiba quem é o médico do Hospital das Clínicas denunciado por assédio

Helder Hara Takaoka foi denunciado por assédio moral contra servidores da equipe de enfermagem da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) para adultos do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Goiás (UFG). Os episódios recentemente apontados vieram a público na última quinta-feira, 20, após protesto em frente à unidade. O HC confirmou a denúncia e afastou os servidores envolvidos até que o caso seja apurado. Ex-residente da unidade, entretanto, relata outros episódios de assédio semelhantes. 

Nas reuniões diárias que acontecem com as diversas equipes do hospital, para discussão dos casos dos pacientes, ocorriam exposições públicas dos profissionais por parte de Takaoka. “A pessoa às vezes nem terminava de falar e ele já começava a humilhar”, relatou o antigo residente do HC. Nessas reuniões, participam de 35 a 40 pessoas. “Falava que a pessoa tem que estudar mais, se a pessoa não age de tal forma ela não tem competência para estar ali… isso na frente de 40 pessoas e era todo dia”, compartilhou.

Além disso, entre os médicos residentes diretamente subordinados a Takaoka, havia alta taxa de desistência. “Todos os anos entram novos médicos residentes, mas ainda no primeiro semestre, já haviam ocorrido algumas desistências”. A galera entra na residência lá para rodar com ele e não aguenta porque é muita humilhação”, afirmou. Os episódios de exposição e humilhação dos residentes, conforme relato da fonte anônima, eram frequentes e públicos.

O antigo residente do hospital afirma que existem preceptores, concursados, que “acham bonito o que ele faz e começam a reproduzir”, o que acaba criando uma cultura do assédio dentro da unidade. O chefe da UTI, Takaoka, expõe e assedia os preceptores, que por sua vez reproduzem o comportamento com os médicos residentes que acabam descontando nos estagiários. 

“Aquela UTI é tóxica do jeito que é justamente porque ele é o chefe e semeia uma cultura de que assédio moral é normal, de que destratar as categorias é normal”, sintetizou. O antigo residente afirma que já foram feitas outras denúncias na ouvidoria do hospital contra o médico, mas que não resultaram em nenhuma sanção ou mudança concreta.

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Histórico 

Helder Takaoka, 46 anos, se formou em medicina pela UFG em 2002, conseguiu a titulação de especialista em Clínica Médica em 2006 e em Nefrologia em 2008. Já atuou como professor substituto de Nefrologia no HC-UFG entre 2008 e 2010, além de ter sido preceptor da residência médica da disciplina na mesma instituição e no mesmo período. É especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMB). Também atua como auditor de sistemas de saúde com titulação MBA pela Fundação Unimed, além de possuir formação pela Fundação Getúlio Vargas (FGV)  em Administração em Gestão de Saúde.    

Atualmente, o nefrologista atende em consultório particular em Goiânia. Atua como diretor da UTI do HC-UFG desde novembro de 2019, e como supervisor da residência na UTI da unidade desde janeiro de 2018. 

Nesta semana

A denúncia mais recente contra o médico desencadeou uma série de manifestações dentro da unidade hospitalar. Na quarta-feira, 19, dezenas de enfermeiros realizaram um protesto em frente ao Hospital das Clínicas, exigindo medidas contra o assédio moral dentro da unidade.

O caso, que teria começado em outubro de 2022, gerou protestos de enfermeiros e mobilização de sindicatos em busca de esclarecimentos e providências. De acordo com o documento que embasa a denúncia, a chefe de Enfermagem vinha sofrendo episódios recorrentes de constrangimento e humilhação pública.

Em uma das situações relatadas, o médico acusado teria expulsado toda a equipe de enfermagem da sala de reuniões da UTI, além de adotar uma postura de desautorização sistemática das decisões da profissional. Segundo os denunciantes, o comportamento do médico tinha como objetivo desmoralizar a chefe de Enfermagem tanto no âmbito pessoal quanto profissional, promovendo um ambiente de trabalho hostil e prejudicando a comunicação entre as equipes.

Em nota oficial, o Hospital das Clínicas informou que um processo interno já foi instaurado para analisar as acusações de assédio moral entre os colaboradores da UTI adulto. “O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC UFG), vinculado à Rede Ebserh, informa que já foi instaurado processo interno para analisar as denúncias de assédio entre colaboradores da UTI adulto. Dois profissionais foram afastados preventivamente enquanto ocorre essa avaliação, que é conduzida de forma sigilosa”, afirmou a instituição.

Antes disso, um grupo de profissionais da UTI Adulto havia fixado uma faixa na entrada do hospital com os dizeres: “Chefe assediador! Não! Os profissionais da UTI Adulto estão adoecidos”. No entanto, relatos apontam que a administração da unidade retirou a faixa cerca de uma hora após sua instalação, o que gerou ainda mais indignação entre os funcionários.

O coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior do Estado de Goiás (SINT-IFESgo), Fernando Mota, informou que um documento foi entregue à direção do hospital questionando os procedimentos adotados na apuração da denúncia de assédio moral. Além disso, a entidade solicitou esclarecimentos sobre outras denúncias de assédio que supostamente ocorreram em diferentes setores da unidade.

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