UFG desenvolve tratamento inédito para combate a casos graves de dengue 

A dengue se coloca como um problema crônico para o sistema público de saúde no Brasil. Desde a década de 1980, epidemias e óbitos são registrados sistematicamente em diversos pontos do território brasileiro. O painel do Ministério da Saúde para atualização de casos de arboviroses mostra que, apenas em 2025, são 639.353 casos prováveis em todo o país com 322 óbitos confirmados e outros 656 em investigação. Em Goiás, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde do estado, foram 145.823 casos confirmados da doença em 2024. 

Nesse sentido, a Universidade Federal de Goiás (UFG) realiza uma pesquisa que visa atuar nos casos graves da doença. Os estudos realizados no Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (Iptsp) podem, de forma pioneira, oferecer terapêutica específica para o combate à dengue, o que não existe nos dias atuais, já que o tratamento oferecido se concentra nos sintomas da doença. 

Em entrevista ao Jornal Opção, o professor Helioswilton Sales, responsável pelo grupo que desenvolve a pesquisa na UFG, explica que o objetivo principal é atuar nos casos graves da doença, objetivando reduzir significativamente o número de óbitos. Segundo o docente, os pacientes que desenvolvem uma forma mais perigosa da dengue se deve a uma inflamação descontrolada que traz dois pontos centrais: a passagem do sangue presente nos vasos sanguíneos para os tecidos e uma queda no número de plaquetas. 

Normalmente, no processo natural de oxigenação (passagem do oxigênio do sangue para as células) apenas as partículas presentes na corrente sanguínea passam para os tecidos. No caso da dengue hemorrágica, a inflamação descontrolada faz com que a permeabilidade dos tecidos para os líquidos nos vasos sanguíneos aumente e o sangue como um todo passe para os tecidos. Essa diminuição de sangue circulando no corpo, conforme explica o professor, gera uma série de consequências que puxa o agravamento da dengue. 

Dessa forma, Helioswilton afirma que a pesquisa busca atuar nos receptores que estão na superfície das células (sensíveis a partículas presentes no vírus da dengue), atuando tanto na permeabilidade dos fluídos da corrente sanguínea nos tecidos quanto no número de plaquetas. Esses receptores são o TREM-1 e o TLT-1. “E se nós usássemos estratégias que já existem para tratar a COVID, por exemplo, que tem como alvo esses dois receptores, para bloquear a atividade desse receptor durante a infecção?”, compartilhou o questionamento inicial que motivou a pesquisa. 

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Próximos passos

O estudo surgiu como parte de um projeto de mestrado do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP), mas, devido ao sucesso das simulações em computador, novos parceiros surgiram. Dessa forma, com um projeto para continuidade da pesquisa já aprovado,  a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o Ministério da Saúde (MS), Ministério da Ciência e Tecnologia, a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e a FioCruz se envolveram e se envolverão, em alguma medida, com a pesquisa. A fase de testes pré-clínicos, sem testes em humanos, tem duração prevista de três anos. 

Apesar de já existir vacina disponível no SUS, a dengue não possui tratamento específico l Foto: Caio Rabelo/UFG.

“É muito importante a gente não criar falsas expectativas”, pontuou o professor ao afirmar que o uso de qualquer medicação dessa natureza na rede pública deve demorar de sete a dez anos. É preciso encontrar uma indústria farmacêutica interessada na pesquisa para dar sequência à fase de testes clínicos (em humanos), além de recrutar pessoas e realizar testes de segurança.  

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