Para saldar juros da dívida pública, Brasil desembolsa R$ 12 trilhões em 24 anos

Para além dos efeitos na vida dos brasileiros — principalmente os mais pobres — e nos negócios, o aumento da taxa de juros também tem duros reflexos no achatamento dos recursos disponíveis para que os governos possam investir em políticas públicas. 

Em meio à nova onda de elevações da Selic, é importante lembrar o seu peso na majoração da dívida pública brasileira. Considerados os últimos 24 anos, foram gastos R$ 12,6 trilhões apenas com os juros dessa dívida. Somente em 2024, foram R$ 988 bilhões.

No ano passado, os juros da dívida tiveram o maior aumento, 26,7%, desde 2021. Os cálculos consideram o setor público como um todo —  o que engloba a União, os estados e os municípios — e foram publicados pelo portal Poder 360, tendo como base dados do Banco Central.

Ou seja, o Brasil direciona boa parte de sua riqueza, gerada pelo trabalho suado de sua população, para o pagamento de valores que beneficiam uma ínfima minoria, em detrimento da grande maioria, que poderia estar sendo contemplada com mais serviços públicos de qualidade se não fossem esses gastos com os juros. 

A associação Auditoria Cidadã da Dívida, que acompanha e denuncia os gastos excessivos do país com esses pagamentos, aponta que “o processo de endividamento público tem sido usurpado por um conjunto de mecanismos financeiros cada vez mais sofisticados e levianos, que continuamente transferem dinheiro público para bancos e grandes rentistas, e ‘geram’ dívida pública sem contrapartida”.

Está aí um dos motivos para a eterna pressão do mercado em favor do aumento da Selic. Ainda conforme a entidade, também tendo como base informações disponibilizadas pelo BC, a cada 1% de aumento na Selic, o gasto com a dívida pública cresce R$ 55 bilhões.

Para esta quarta-feira (19), uma nova elevação da Selic é esperada. A taxa, que está em 13,25%, deverá ir a 14,25%.

“Mesmo com cortes de gastos públicos e aumento de arrecadação, o custo dos juros compromete o orçamento e perpetua o que chamamos de ‘sistema da dívida’”, disse, ao site Extra Classe, a auditora fiscal aposentada Maria Lucia Fattorelli, um dos principais nomes da Auditoria Pública Cidadã. 

Dívida pública 

A dívida pública é aquela contraída pelos governos para o financiamento de suas ações quando há déficit orçamentário, e para outras operações com finalidades específicas, definidas em lei. 

Para poder pagar os encargos decorrentes deste financiamento, o governo precisa arrecadar mais do que gasta, ou seja, fazer superávit. 

No caso da Dívida Pública Federal (DPF), considerando a alta dos juros, em 2024 o montante superou R$ 7,3 trilhões, de acordo com o Tesouro Nacional, o que corresponde a 76% do PIB. Entre 2023, quando estava em 6,52 trilhões, e o ano passado, o aumento foi de 12,2%. 

No entanto, cabe destacar que a dívida bruta do Brasil caiu 0,8 ponto percentual em janeiro, chegando a 75,3% do PIB. Ao mesmo tempo, o setor público consolidado registrou um superávit de R$ 104 bilhões no mês. 

No dia 15, quando o dado foi divulgado, a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, declarou, via redes sociais, que este é mais “um indicador muito positivo e que mais uma vez superou expectativas pessimistas”. 

com agências

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