Ansiedade pode afetar os dentes; veja os sinais

Quatro em cada 10 brasileiros têm bruxismo, segundo a OMS.

|  Foto:
Divulgação/Canva

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas: 9,3% da população. Considerando a população do Espírito Santo acima de 10 anos, que é de 3.338.867 – conforme estatística do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), segundo o Censo de 2022 -, 310.514 pessoas sofrem de ansiedade no Estado.A ansiedade pode ter diversos impactos na saúde. Mas o que muita gente não sabe é que até os dentes podem sofrer com a doença. Estresse e ansiedade estão ligados, por exemplo, ao bruxismo (apertar ou ranger dos dentes). Quatro em cada 10 brasileiros têm o transtorno, segundo a OMS. “O bruxismo tem causas multifatoriais, envolvendo fatores neuromusculares, psicológicos e até genéticos. Atualmente, ele é considerado um comportamento do sistema nervoso central, e não um problema odontológico ou oclusal. O bruxismo em vigília, que ocorre quando estamos acordados, tem aumentado bastante por ser ligado à ansiedade e ao estresse, e o estilo de vida moderno contribui para isso”, explica o ortodontista clínico, Tony Vieira Faria, mestre e doutorando em Ortodontia, presidente da Associação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial (Abor-ES).O problema é tão sério que, um estudo, publicado pela revista científica Psychosomatic Medicine, demonstrou que pessoas com quadros psiquiátricos graves têm um risco 2,8 vezes maior de perder os dentes.

|  Foto:
Divulgação/Acervo pessoal

Como identificarQuando o bruxismo ocorre durante o sono, pode não ser tão fácil identificá-lo, mas alguns sinais ajudam nesse diagnóstico. Dor ou fadiga nos músculos da mandíbula ao acordar, sensação de tensão ou rigidez na mandíbula pela manhã e dores de cabeça matinais, especialmente na região das têmporas, são indicativos do transtorno, aponta o presidente da Abor-ES. “Dentes desgastados ou fraturas dentárias inexplicáveis, aumento da sensibilidade dentária sem causa aparente, ruídos de ranger dos dentes, relatados por parceiros de sono ou familiares, marcas na língua ou nas bochechas causadas pelo atrito, ou por mordidas noturnas, sono não reparador ou cansaço excessivo, indicando possíveis microdespertares também são sinais”.Intensas dores na região do maxilar foram os sintomas que levaram a contadora Ellen Salazar, de 33 anos, a procurar um dentista em 2015, porém, um tratamento que não condizia com a sua situação, piorou o bruxismo e a fez abandonar o tratamento por um tempo.“O transtorno me trouxe muitas dores, travamento de maxilar e desgaste nos dentes. Em alguns dias, era impossível fazer minhas atividades”.Ellen procurou, então, outro profissional, que a diagnosticou tanto com bruxismo do sono quanto com o de vigília. “O bruxismo do sono é algo inconsciente, não sei informar se foi algo adquirido. Já o bruxismo de vigília foi adquirido por conta do estresse e das crises de ansiedade. Hoje, estou em tratamento com o uso da placa para o bruxismo do sono e estamos analisando o uso de toxina botulínica para amenizar o bruxismo de vigília”, afirma a contadora.

A contadora Ellen Salazar está em tratamento com uso de placa para bruxismo

|  Foto:
Acervo pessoal

TratamentoQuanto ao tratamento para o bruxismo, especialistas afirmam que não há um tratamento específico. O ortodontista clínico Tony Vieira Faria explica que o tratamento não foca apenas em eliminar o bruxismo, mas em controlar os sintomas e evitar complicações. “Por isso, o acompanhamento com um profissional de saúde – dentista, fisioterapeuta e, em alguns casos, médico do sono ou psicólogo – é essencial”.Pode ser necessário, para o tratamento, envolver abordagens odontológicas, médicas, fisioterapêuticas e comportamentais. Dispositivos de acrílico (placas) entre os dentes (apenas de acrílico, os mais flexíveis são contraindicados), terapia comportamental e controle do estresse, medicamentos (em casos específicos) e mudanças no estilo de vida estão entre as abordagens.As placas oclusais, conhecidas como placas de bruxismo, são usadas, de acordo com o cirurgião dentista, mestre e doutor em prótese dentária Marcelo Peçanha, quando ocorre comprometimento por desgaste ou fratura dos dentes e a reconstrução dos elementos envolvidos se faz necessária, sendo então indicadas as placas para a proteção dos dentes. Em alguns casos, segundo o especialista, o tratamento pode até mesmo envolver o uso da toxina botulínica, em casos específicos.“As consequências do bruxismo para a saúde podem ser diversas, incluindo o desgaste dentário em grau leve ou até desgastes mais severos, gerando alterações estéticas e funcionais significativas nos elementos dentais. Fraturas dentárias também podem ser observadas e muitas vezes podem inclusive levar a perda do dente”, alerta Marcelo.

|  Foto:
Divulgação/Acervo pessoal

QualificaçãoO caso de Ellen chama atenção para um fato: inicialmente, ela recebeu a indicação para usar aparelho ortodôntico como tratamento para o bruxismo. Ela usou durante um ano e meio, mas isso piorou sua condição. Mas o ortodontista clínico, Tony Vieira Faria, mestre e doutorando em Ortodontia, presidente da Associação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial (Abor-ES) alerta que o uso de aparelhos ortodônticos como tratamento direto para o bruxismo não tem embasamento científico. Essa é até uma posição defendida pela Abor nacional, que reconhece que os alinhadores são importantes aliados na prática ortodôntica, mas nem todos os casos clínicos podem ou devem receber esse tratamento.“A ortodontia pode ser indicada para melhorar a oclusão e a estética, mas não é um tratamento para bruxismo em si. Já as placas oclusais precisam ser bem ajustadas para garantir conforto e funcionalidade, pois um encaixe inadequado pode piorar os sintomas. Por isso, procurar um profissional qualificado é essencial. O diagnóstico correto e um plano de tratamento baseado em evidências evitam frustrações e piora do quadro clínico”, alerta Tony.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.