União Europeia mira eleitores republicanos em retaliação a tarifas do aço de Trump

Nesta quarta-feira (12), a União Europeia anunciou contramedidas contra as recentes tarifas de 25% impostas pelos Estados Unidos sobre as importações de aço e alumínio. Segundo informações, o plano europeu prevê taxas que poderão atingir até 26 bilhões de euros (aproximadamente US$ 28 bilhões) em produtos americanos. A medida, que será aplicada integralmente a partir de 1º de abril, retoma as tarifas que já haviam sido implementadas durante o primeiro mandato de Trump e posteriormente suspensas, incluindo algumas que nunca estiveram em vigor anteriormente.

Para os EUA, a medida representa uma tentativa de proteger sua indústria doméstica, mas que agora se volta para penalizar produtos que possam causar danos em áreas politicamente sensíveis – isto é, regiões governadas por líderes republicanos. Entre os alvos está, por exemplo, a soja produzida na Louisiana, lar do presidente da Câmara dos EUA, Mike Johnson. Essa estratégia visa pressionar o governo norte-americano a reabrir a mesa de negociações, enquanto a UE, por sua vez, mantém uma postura de resposta forte, mas “proporcional”, conforme destacou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

“As contramedidas que tomamos hoje são fortes, porém proporcionais”, declarou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, durante uma coletiva de imprensa em Estrasburgo, na França. “Acreditamos firmemente que, em um mundo repleto de incertezas geoeconômicas e políticas, não é do interesse comum sobrecarregar nossas economias com essas tarifas.”

Painel dos estados mais afetados

A estratégia da UE é multifacetada e busca maximizar o impacto político nos EUA, enquanto minimiza os danos econômicos para o bloco europeu. Um aspecto irônico da nova estratégia da UE é o foco cirúrgico em produtos oriundos de estados que, historicamente, têm sido governados por apoiadores de Trump. A ideia é criar pressão em áreas-chave lideradas por republicanos, forçando uma resposta política mais rápida de Washington. Ao mirar produtos de estados liderados por republicanos, a UE busca explorar divisões internas no Congresso americano, onde há crescentes críticas às políticas comerciais de Trump.

“Estamos prontos para negociar”, disse Maros Sefcovic, chefe de comércio da UE, após visitar Washington no mês passado para tentar evitar a escalada. “A interrupção causada pelas tarifas é evitável se o governo dos EUA aceitar nossa mão estendida e trabalhar conosco para chegar a um acordo.”

Entre os principais alvos estão:

  • Louisiana: A soja produzida nesse estado, base de apoio para figuras influentes como Mike Johnson, é um dos produtos destacados pela UE.
  • Bourbon do Kentucky, estado do líder republicano no Senado, Mitch McConnell.
  • Motocicletas Harley-Davidson e jeans Levi’s, símbolos icônicos da indústria americana, já afetados em disputas anteriores.
  • Outros estados republicanos: Produtos têxteis, eletrodomésticos e bens agrícolas provenientes de regiões onde o protecionismo e o discurso nacionalista são fortes também serão visados.

Essa abordagem tem o intuito de causar impacto nos setores econômicos e políticos de áreas que, por vezes, demonstram uma retórica de “Make America Great Again”, mas que agora podem sentir o peso das novas tarifas.

Perdas e danos para todos

O bloco europeu busca equilibrar dois objetivos: minimizar prejuízos internos e explorar fissuras domésticas nos EUA. Priorizou produtos como aço e alumínio, que representam apenas 0,3% do PIB da UE, evitando setores críticos como energia. Ao mirar estados republicanos, a UE espera que pressões locais forcem Trump a recuar. “Queremos que agricultores do Midwest e CEOs da Harley-Davidson cobrem o governo”, disse um diplomata europeu sob anonimato.

    A estratégia inclui uma janela de negociação até meados de abril, liderada pelo chefe de comércio da UE, Maros Sefcovic, que ofereceu aos EUA aumento de importações de gás natural e bens de defesa.

    Para a Europa, as tarifas retaliatórias representam quase quatro vezes o valor das medidas semelhantes adotadas durante o primeiro mandato de Trump, quando os EUA atingiram cerca de US$ 7 bilhões em exportações de metais do bloco. Agora, o escopo é muito maior, refletindo a seriedade da resposta europeia.

    Enquanto a UE mira os EUA, seu mercado interno enfrenta uma ameaça paralela, o desvio de exportações globais e a saturação do mercado. Com as tarifas americanas, aço asiático e norte-africano, antes destinado aos EUA, pode inundar a Europa. O lobby Eurofer estima que, para cada 3 toneladas desviadas dos EUA, 2 cheguem à UE. Em 2018, isso levou a uma queda de 12% nos preços do aço no bloco. “Já sofremos com importações baratas. Agora, o cenário será pior”, alertou um porta-voz do Eurofer.

    A diplomacia antes da guerra comercial

    Os possíveis cenários para a negociação envolvem um acordo de última hora. A UE sinaliza flexibilidade, oferecendo reduzir tarifas industriais em troca de acesso ao mercado americano. Ou uma escalada perigosa. Trump prometeu retaliar com taxas de 100% sobre carros europeus em abril, o que afetaria gigantes como Volkswagen e BMW, já em crise.

    O impacto global deve envolver inflação e fragmentação comercial. Setores como construção civil e automotivo nos EUA e UE podem enfrentar custos maiores. A disputa reforça tendências de “desglobalização”, com blocos econômicos priorizando produção doméstica.

    Enquanto a UE se prepara para impor as novas tarifas a partir de meados de abril, a expectativa é de que o cenário global se torne mais incerto. A nova rodada de medidas pode abrir caminho para negociações que redefinam os termos do comércio internacional – um movimento que, em última instância, afetará tanto as economias americana quanto global, além de pressionar estados e setores sensíveis a ajustes na política comercial global.

    A guerra comercial não apenas ameaça as economias dos dois blocos, mas também pode minar décadas de cooperação estratégica em áreas como segurança e política externa. Em um mundo cada vez mais fragmentado, o desfecho dessa disputa pode definir o futuro das relações transatlânticas.

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