Lula defende política industrial na Gerdau e anuncia R$ 6 bi em investimentos

Nesta terça-feira (11), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou a unidade da Gerdau em Ouro Branco, Minas Gerais, marcando um momento decisivo para a modernização da siderúrgica. A visita, que contou com a presença de autoridades como o CEO Gustavo Werneck, o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin, e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, ressaltou o investimento de R$ 1,5 bilhão destinado à ampliação da capacidade de produção de bobinas a quente – um dos pilares de um plano de R$ 6 bilhões para modernizar e expandir as operações da Gerdau no estado.

A obra, que vai gerar mais de 2.500 empregos, permitirá que a produção anual de bobinas a quente seja elevada em 250 mil toneladas, atingindo 1,1 milhão de toneladas ao final do primeiro trimestre de 2025. A iniciativa se insere num cenário de incertezas globais, com a iminente aplicação de novas tarifas de 25% dos Estados Unidos sobre a importação de aço e alumínio, reforçando a necessidade de fortalecer a produção interna.

Em discurso assertivo, Lula vinculou o projeto ao seu plano de reindustrialização: “Como metalúrgico, quero estar onde se gera emprego. É o trabalho que traz dignidade e prosperidade”, declarou, destacando que a planta mineira — a maior da Gerdau no mundo — é estratégica para setores como construção civil, automotivo e energia. O CEO Gustavo Werneck reforçou o compromisso da empresa, que recicla 70% do aço a partir de sucata: “Somos protagonistas na construção do futuro do Brasil”.

Com suas palavras, Lula reforçou a ideia de que o investimento na modernização da Gerdau não é apenas uma aposta na reindustrialização, mas também um instrumento para ampliar oportunidades e valorizar o trabalho, elemento fundamental para o desenvolvimento econômico e social do país. O presidente destacou ainda a importância de políticas que privilegiem a qualidade e o comprometimento das equipes responsáveis pela condução dos investimentos.

Lula defende Estado indutor

O presidente usou o palco da siderúrgica para contrapor narrativas de opositores, como o governador Romeu Zema (Novo), que durante o dia defendeu, no sentido oposto, a redução do estado como exemplo de eficiência administrativa, criticando o papel indutor da industrialização e do crescimento econômico defendido por Lula. 

“Alegria é acreditar num Brasil sem mentira, onde só o trabalho garante futuro melhor”, disse, repetindo a palavra “sorte” de forma irônica ao citar os 3,4% de crescimento do PIB em 2024. Os números bem-sucedidos da economia têm sido tratados com surpresa pelo mercado financeiro, que prevê sempre um ambiente recessivo para a economia sob Lula. Em referência indireta a Zema, que criticou o número de ministérios federais (38), Lula rebateu: “Não importa quantas pastas há, mas a qualidade e a sensibilidade de quem governa”.

Embora Zema tenha reconhecido a relevância dos aportes na região, suas declarações incluíram críticas mesquinhas à estrutura administrativa e questionamentos sobre a política de investimentos em Minas Gerais. Em outros momentos do dia, em eventos anteriores, os dois já haviam trocado farpas, ressaltando divergências de visão sobre o papel do Estado e as prioridades de desenvolvimento.

Ainda assim, Lula manteve o foco na agenda de investimentos, deixando em segundo plano os desentendimentos com o governador. Para o presidente, a grande vitória está na capacidade de transformar o setor produtivo, gerar empregos e, consequentemente, construir um Brasil mais dinâmico e competitivo.

Lula ainda enumerou ações do governo em MG, como o programa Pé de Meia (beneficiando 370 mil jovens) e o PAC local (R$ 147 bilhões), e desafiou Zema: “Nunca antes um presidente investiu tanto aqui, mesmo com oposição”. Lula ainda questionou o que Bolsonaro, aliado de Zema, fez por Minas Gerais. O recado ecoou como resposta ao governador, que horas antes, em Betim, havia elogiado sua gestão “enxuta” (com 12 secretarias) e criticado “burocracia da máquina pública”.

Tensão política não ofusca números da siderurgia

Apesar do atrito, o governador insistiu num tom frio e cheio de números no evento da Gerdau, destacando os “R$ 6 bi investidos desde 2019” pela empresa no estado. Provocou com indiretas, mas sua presença lembrou a complexa relação com o Planalto: aliado de Bolsonaro em 2022 e pré-candidato em 2026, Zema busca capitalizar uma imagem de gestor técnico, enquanto Lula reforça a marca de “presidente do emprego”.

Para o ministro Alexandre Silveira (PSD), os números justificam a estratégia: “Somos o nono produtor global de aço, com crescimento de 7,6% em 2024, na contramão do abandono industrial anterior”. O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) acrescentou: “A indústria vai crescer ainda mais com recomposição tarifária” — menção às novas taxas de 25% sobre aço impostas pelos EUA, que entram em vigor nesta quarta (12).

Entre bobinas e urnas: o simbolismo de Ouro Branco

A cerimônia na Gerdau sintetizou o eixo da retórica lulista em 2024: vincular crescimento econômico a políticas sociais e contrapor-se ao desmonte bolsonarista da indústria nacional. Com a siderúrgica como pano de fundo, Lula reforçou seu lema — “Nosso sonho é vida digna para todos”.

Enquanto o aço mineiro ganha novo fôlego, o aço político segue em teste: em ano de eleições municipais e sob a sombra de 2026, Lula sabe que cada emprego gerado em Ouro Branco é também um tijolo na construção de seu legado. Já Zema, ao lado do presidente em fotos oficiais, equilibra-se entre o pragmatismo e a ambição nacional. O laminador de bobinas, agora, é metáfora e realidade: molda tanto o futuro do aço quanto o das urnas.

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