Chapa Caiado-Gusttavo Lima expõe divisão da direita e revés para bolsonarismo

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), anunciou que formará uma chapa com o cantor Gusttavo Lima para disputar a Presidência da República em 2026. A informação, divulgada pelo jornal O Globo e confirmada por outros veículos, marca um passo decisivo na pré-campanha eleitoral e intensifica a fragmentação do campo conservador. A chapa será lançada oficialmente em Salvador (BA) no dia 4 de abril.

O anúncio ocorre em meio a uma disputa pela hegemonia da direita, que se encontra desorganizada após a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O movimento de Caiado representa um revés para o bolsonarismo, que ainda não definiu um nome competitivo para a sucessão presidencial.

Com cada vez menos espaço para articular a oposição, Bolsonaro insiste em ser o candidato do PL em 2026 e já vetou Gusttavo Lima como postulante ao Planalto. A relação entre Caiado e Bolsonaro, outrora aliados, azedou após divergências em eleições municipais de Goiânia em 2024.

A fragmentação é evidente: em pesquisa da Quaest, Lula lidera todos os cenários de primeiro turno (28%-32%), enquanto os nomes da direita variam entre 3% (Caiado) e 18% (Gusttavo Lima).

Quem lidera a chapa?

Ainda não está claro quem será candidato a presidente e quem ocupará a vice. Segundo Caiado, essa definição será feita apenas em 2026. “O importante é que vamos estar juntos”, declarou ao UOL.

A pesquisa Genial/Quaest mostra que o governador tem uma aprovação de 86% em Goiás, enquanto Gusttavo Lima, que ainda não se filiou a um partido, aparece como o nome da direita mais competitivo contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em um eventual segundo turno. Apesar disso, a pesquisa também revelava 50% de rejeição para o cantor sertanejo entre o eleitorado.

Racha na direita: sem liderança clara

O anúncio da chapa Caiado-Gusttavo Lima escancara a falta de coesão da direita na corrida presidencial. Sem um candidato único, diversos nomes tentam ocupar o espaço deixado por Bolsonaro. Enquanto o PL tenta manter o controle da base bolsonarista, outros nomes da direita buscam protagonismo. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), só entraria na disputa com o aval de Bolsonaro. Já Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, investe em marqueteiros para se projetar nacionalmente. No Paraná, Ratinho Jr. (PSD) pressiona por apoio, mas depende do mesmo beneplácito.

Dentro do PL, caso não consiga reverter sua situação na Justiça Eleitoral, Bolsonaro pode indicar um de seus filhos, como Eduardo ou Flávio Bolsonaro. Michelle Bolsonaro também chegou a ser cotada, mas o ex-presidente descartou essa possibilidade.

Resistência interna e embates judiciais

A pré-candidatura de Caiado enfrenta resistência dentro do próprio União Brasil. Ministros do partido no governo Lula, como Celso Sabino (Turismo), defendem apoiar a reeleição do petista. A ala governista do partido resiste a assumir um papel oposicionista radical, o que limita o espaço de Caiado. Ao mesmo tempo, o governador de Goiás ainda precisa reverter sua inelegibilidade declarada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-GO), que o condenou por abuso de poder político nas eleições municipais de Goiânia.

Já Gusttavo Lima está envolvido em investigações sobre contratos superfaturados para shows financiados por prefeituras e também foi citado em um inquérito sobre lavagem de dinheiro por meio de jogos de azar. Sua entrada na política ainda é incerta, já que o cantor está sem partido e não confirmou sua filiação ao União Brasil.

Além da alta rejeição, Gusttavo Lima enfrenta desconfiança por sua inexperiência política. Seu recente encontro com Luciano Hang, apoiador de Bolsonaro, sugere tentativas de aproximação com setores bolsonaristas, mas a indefinição partidária persiste: o cantor recusou convites do PP e do PL, mantendo-se sem legenda.

Futuro incerto para a direita

O cenário para 2026 é incerto para a direita, que ainda busca um nome de consenso. Enquanto Caiado e Gusttavo Lima apostam em um discurso voltado ao eleitorado conservador, outros candidatos tentam consolidar suas candidaturas.

A estratégia do governador de Goiás e do cantor sertanejo pode ser um teste para medir a força da direita além do bolsonarismo. No entanto, a falta de unidade e a concorrência interna podem dificultar a consolidação de uma candidatura competitiva contra Lula.

A próxima fase das articulações políticas deve ocorrer na reunião da cúpula do União Brasil, na próxima semana, quando Caiado e Gusttavo Lima discutirão os próximos passos de sua aliança.

O maior desafio da oposição é a falta de unidade e visibilidade. Felipe Nunes, diretor da Quaest, ressalta que 68% do eleitorado não conhece Caiado, e 62% ignoram Zema. Até Tarcísio, governador do estado mais populoso do país, é desconhecido por 48% dos entrevistados. Enquanto isso, Lula mantém sólidos 47% de intenção de voto e baixo desconhecimento (4%).

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