Guerra comercial de Trump pode beneficiar o ES?

Café capixaba pode ganhar mais espaço no mercado chinês, ampliando presença no exterior, avaliam economistas | Foto: Divulgação

A decisão do presidente norte-americano Donald Trump de anunciar um “tarifaço” a diversos países iniciou uma guerra comercial, com China, Canadá e México anunciando novas taxas aos Estados Unidos como retaliação. Para especialistas, a situação tende a beneficiar as exportações do Espírito Santo.O economista Eduardo Araújo avalia que a escalada das tarifas tende a abrir um cenário positivo para o ES, especialmente nos setores de aço e café.Para Araújo, o fato de os Estados Unidos terem imposto uma tarifa de 25% sobre o aço de diversos países pode tornar os produtos siderúrgicos capixabas mais competitivos no mercado internacional.Além disso, as medidas de retaliação da China, que incluem tarifas sobre produtos agrícolas americanos como café, podem beneficiar os produtores capixabas.“Com as restrições chinesas aos produtos dos EUA, o café capixaba, reconhecido por sua qualidade, pode ganhar mais espaço no mercado chinês, ampliando sua presença internacional”, explica.O economista Heldo Siqueira Júnior acrescenta que produtos, como frangos e ovos, que são importantes para o Espírito Santo, também podem ter uma influência positiva em substituição às proteínas exportadas pelos Estados Unidos à China.“E não vejo esse aumento tendo impacto no mercado interno. Ou seja, o aumento das exportações não necessariamente afetaria o preço do produto para o consumidor local”, explica.Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, ressaltou que a expectativa é de que a parte da indústria mais afetada procure outros mercados, de olho no aumento de exportações para a Europa e China como forma de suprir a demanda reduzida nos Estados Unidos.“Apesar do discurso sobre ‘taxas injustas do Brasil’, quem vai sofrer impacto mesmo são México e Canadá. Temos sorte de não sermos tão visados e de os Estados Unidos serem historicamente superavitários em relação ao Brasil”, acrescentou Vale.O economista Vaner Corrêa salienta que esse cenário deve ocorrer caso a guerra comercial não se amplie a outros patamares. “Se ficar só nessa questão, tudo bem, mas há o risco de os ânimos entre China e Estados Unidos se acirrarem, o que poderia criar uma retração econômica mundial”.Vaner Corrêa explica que um eventual acordo de paz na guerra da Ucrânia poderia atenuar a situação de instabilidade no comércio internacional. “Ao se resolver um conflito desses, com uma reconciliação, é possível que um cenário mais atrativo para o comércio internacional ocorra”.Setor agrícola brasileiro vai ser o mais favorecidoAs novas tarifas da China sobre produtos agrícolas dos Estados Unidos estão prestes a remodelar os fluxos comerciais globais, levando o maior importador agrícola do mundo a obter mais carne, laticínios e grãos de países da América do Sul – como Brasil e Argentina –, Europa e Pacífico.Isso porque, em contrapartida às tarifas sobre as importações contra a China entrarem em vigor – impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump – o Ministério das Finanças da China aplicou tarifas de 15% sobre importações de produtos agrícolas como frango, trigo, milho e algodão dos EUA, e tarifas de 10% sobre outros alimentos, incluindo soja e laticínio.Os embarques para a China do principal fornecedor de soja, Brasil, do maior exportador de trigo, Austrália, e do principal fornecedor de carne suína, Europa, podem aumentar à medida que uma guerra comercial se intensifica entre as maiores economias do mundo, disseram autoridades e analistas da indústria.“Os principais produtos que serão impactados são vísceras de porco e pés de frango. Para carne suína, tanto músculo quanto vísceras, a China obterá mais suprimentos do Brasil, Espanha, Holanda e outros países da União Europeia”, disse Pan Chenjun, analista sênior de proteína animal do Rabobank em Hong Kong.Em nota, o governo brasileiro anunciou que está em conversações com representantes da indústria de proteína bovina e do governo chinês para permitir a retomada de exportações por três frigoríficos suspensos pelo país asiático.Saiba maisTarifasO presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, colocou em vigor, a partir da última terça-feira, tarifas de importação de 25% para o México e Canadá e de 20% para a China. Os governos dos três países já revidaram, anunciando tarifas para importações dos EUA, levantando alertas de guerra comercial.As tarifas impostas pelos EUA ao Canadá e ao México deveriam começar em fevereiro, mas Trump concordou com uma suspensão de 30 dias para negociar por mais tempo com seus dois maiores parceiros comerciais. Em coletiva de imprensa na segunda-feira, ele confirmou a taxação de 25% sobre os produtos importados dos dois países vizinhos.Segundo Trump, o motivo para a imposição de tarifas seria o grande fluxo de tráfico de drogas que tem chegado aos EUA de países vizinhos.Já para a China, Trump anunciou uma taxa adicional de 10% sobre as importações do gigante asiático, o que resultou em uma tarifa cumulativa de 20%. As novas tarifas atingirão importações de eletrônicos de consumo dos EUA vindas da China, como smartphones, laptops, consoles de videogame, smartwatches, alto-falantes e dispositivos Bluetooth.Agro brasileiroA guerra comercial entre Estados Unidos e China pode beneficiar o agronegócio brasileiro. À medida que o aumento de tarifas gera pressão sobre as exportações agrícolas americanas, há um ajuste de preços e um redirecionamento no mercado global de grãos e proteínas.Em relatório, os analistas do Itaú BBA, Gustavo Troyano e Bruno Tomazetto, indicam que o Brasil tem potencial de preencher a lacuna a ser deixada pelos Estados Unidos, com uma produção relevante em soja, algodão e carne bovina.Atualmente, a China importa cerca de 90% da soja consumida no país, sendo que 23% desse total têm origem americana. De forma semelhante, o algodão e a carne bovina podem ter impacto de 13% e 3%, respectivamente, considerando o fluxo comercial dos EUA.Enquanto o governo americano colocou em vigor, desde a última terça-feira, a tarifa adicional de 10% sobre os produtos importados chineses, o governo do país asiático anunciou aumento nas tarifas de importação sobre vários produtos agrícolas americanos, como aumento de 15% para aves, trigo, milho e algodão, além de alta de 10% para carne bovina, suína, soja, laticínios, frutos do mar, entre outros. Essas cobranças passam a valer a partir de 10 de março.Na visão do Itaú BBA, as tarifas mais altas podem reduzir as exportações agrícolas americanas, principalmente para grãos e proteínas, pois os produtores americanos podem perder competitividade no mercado chinês. Enquanto isso, fornecedores alternativos — especialmente o Brasil — podem se beneficiar dessa guerra comercial.Fonte: Pesquisa A Tribuna e especialistas citados na reportagem.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.