Quarta Cultural em Anápolis e os Fios da Escrita de Adalberto de Queiroz

No dia 26 de fevereiro de 2025, ocorreu a Quarta Cultural em Anápolis, onde sou membro da Academia de Letras, presidida pelo dinâmico Doutor José Fábio com Natalina Fernandes, Solemar Vieira e a Simone e no time de frente. O evento contou com a participação do ator Alê Carneiro, que apresentou uma performance do poema O Acendedor de Lampiões, de Jorge de Lima. Em seguida, o escritor Adalberto de Queiroz proferiu uma palestra sobre poetas católicos, aprofundando os temas abordados em seu livro Os Fios da Escrita. Além disso, o professor Carlos Neiva também participou, discutindo a obra de Carlos Drummond de Andrade. Adalberto de Queiroz expressou satisfação com o evento, conforme registrado em suas redes sociais.

Me lembro que por volta de 2021, proferi uma palestra sobre Os heterônimos de Fernando Pessoa e os “heterônimos” de Chico Xavier no Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG), quando destaquei na ocasião a poesia e a prosa de renomados autores espiritas como Emmanuel e André Luiz, pois o Beto havia falado semanas antes sobre a poesia de poetas católica na literatura brasileira. Hoje venho recordar a temática ao revisitar seu livro Os Fios da Escrita, onde o Beto considera as questões abordadas naquela exposição, agora retomada em Anápolis.

Adalberto de Queiroz, escritor e poeta goiano, se destaca não apenas por sua produção literária, mas pela forma como reflete sobre o ato da escrita. Sua obra Os Fios da Escrita não é apenas uma análise literária, mas uma exploração profunda sobre o papel da literatura na formação do pensamento humano. O título da obra é uma metáfora que expressa sua visão sobre a escrita como um processo artesanal, onde cada palavra é como um fio que, entrelaçado, constrói algo maior e mais complexo. O livro não se limita a examinar obras de escritores de diversas épocas e estilos, mas busca estabelecer um diálogo entre elas, proporcionando ao leitor uma visão mais ampla da literatura.

Ao longo da obra, Adalberto reflete sobre autores consagrados como Virgílio e Jorge Luis Borges, mas também sobre poetas contemporâneos como João Filho e Wladimir Saldanha. Dentro desse contexto, um de seus interesses está na literatura católica, tradição que ele vê como vital e atual. Para Adalberto, poetas como Murilo Mendes, Jorge de Lima e Augusto Frederico Schmidt não são apenas representantes de uma corrente literária, mas autores cuja produção continua relevante por sua busca de transcendência em um mundo cada vez mais secularizado.

Murilo Mendes, por exemplo, soube como poucos unir modernidade e espiritualidade em sua poesia. Adalberto destaca como sua obra consegue captar o sagrado no cotidiano, explorando as tensões entre o divino e o humano. No poema A Poesia em Pânico, Mendes expressa essa dualidade:

“O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,

a vida presente.”

Essa preocupação com o tempo e a fugacidade da vida demonstra a maneira como o poeta lidava com questões espirituais dentro de uma estrutura poética moderna. Sua poesia, marcada por imagens fortes e simbólicas, reflete uma inquietação com o mundo, mas também um desejo de encontrar um sentido transcendente.

Jorge de Lima, por sua vez, é um poeta cuja obra carrega uma profunda religiosidade. Sua poesia reflete uma intensa busca pelo divino, ao mesmo tempo em que aborda a condição humana com lirismo e profundidade. No poema Oração, ele escreve:

“Senhor, dai-me a ilusão e a fantasia,

dai-me o segredo das palavras misteriosas,
dai-me a cegueira, dai-me a profecia!”

Aqui, Jorge de Lima coloca a poesia como uma forma de diálogo com Deus, pedindo não apenas inspiração, mas também a capacidade de enxergar além da realidade sensível. Sua obra é uma fusão de fé e arte, um testemunho poético de sua espiritualidade.

Já Augusto Frederico Schmidt trabalha sua poesia dentro de um universo simbólico, onde o efêmero e o eterno se entrelaçam. Seus versos expressam uma melancolia própria de quem percebe a fragilidade da vida, mas também uma esperança na transcendência. Em A Angústia do Mundo, ele escreve:

“A angústia do mundo me esmaga, mas um dia verei Deus face a face.”

Esse verso reflete a visão cristã de Schmidt, que compreende a dor como parte da existência, mas vê na fé a promessa de redenção. Sua poesia é uma meditação sobre o tempo e a eternidade, sobre a busca humana por algo que transcenda a fugacidade da vida.

Adalberto de Queiroz reconhece nesses poetas a capacidade de unir arte e espiritualidade, demonstrando que a literatura pode ser um espaço de resistência à secularização e ao vazio existencial. Ele defende que a poesia católica, longe de ser antiquada, continua a oferecer respostas para questões universais e atemporais.

O talentoso Alê disse também O poema de 7 faces do CDA, precedendo a fala do Prof Carlos Alberto Neiva sobre Drummond.

No dia seguinte ao evento, participei de uma reunião virtual sobre os interesses e assuntos da Academia de Letras de Anápolis e, dentre eles estavam o Presidente José Fábio da Silva, doutor e mestre em História pela UFG, escritor e roteirista. Seu livro Um Artista de Seu Tempo (2022) mistura realismo fantástico e ficção científica. Presente ainda atuante Solemar Vieira, organizador da Coletânea Anapolina de Contos (2014), que contribui para a literatura local com sua organização literária. Perguntei pela Prof Natalina Fernandes, autora de 11 livros e presidente da União Literária Anapolina (ULA), destacada com obras como Anápolis Centenária em Prosa e Versos.

Presente Juscelino Polonial, mestre em História e doutor em Sociologia, professor no IFG e membro da Academia Anapolina de Letras e a querida Escritora e Elaine Maria Machado, coautora do Dicionário Histórico-Biográfico dos Escritores Anapolinos (2023), ativa em ações sociais. Sempre presente e atuante estava Simone Athayde, graduada em Letras e Odontologia, autora premiada e coordenadora do projeto SOS Terra – Arte em prol da Ecologia. Esses escritores têm desempenhado papéis cruciais na valorização e promoção da literatura em Anápolis, onde trabalhei por quase 16 anos nas carreiras jurídicas que abracei e onde figurei como um dos 3 fundadores da Academia Anapolina de Letras.

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